Leituras da 2ª-feira da 1ª Semana da Quaresma – Ano B
Monsenhor Paulo Daher
No livro Levítico, 19, 1-2.11-18, o Senhor apresenta a Moisés a maneira de viver e conviver do seu povo. “Sejam santos como Eu sou santo.” E dá a lista dos deveres sobre a verdade, a justiça, o trato com os trabalhadores, e com os deficientes físicos, o juízo reto sobre os outros, e amem seu próximo como a si mesmos.
Quando o Senhor expressa em detalhes a maneira de ser religioso do povo, em relação a Ele, inicia as orientações colocando a maneira de cada um se conduzir em sua vida comum, no meio das outras pessoas.
A religião, ser religioso, não se limita aos momentos em que nos recolhemos em oração ou meditação para estar com Deus.
Quem está aí diante de Deus não é uma pessoa isolada, que se afasta de todos para viver momentos de espiritualidade íntima com o Ser Superior, nosso Deus e Pai.
Lembramos mais uma vez: homem algum é uma ilha! Nós pertence-mos a uma grande família humana. Não tem sentido eu me isolar para estar com Deus que é Pai de todas as pessoas. Posso sozinho manifestar meu respeito, agradecimento, amor a Deus, mas mesmo assim sempre pertenço à família humana, que é também a grande família de Deus aqui na terra.
Quando nos apresentamos a Deus, somos os mesmos que convivemos com os filhos do mesmo Deus. Se eu estou bem com os filhos de Deus, meus irmãos, minha oração é sincera e vai tocar o coração do Pai de todos.
Se eu não sei conviver com os outros como um irmão amigo, interessado, que se esforça pela união, paz, entendimento, valorizando o que todos são, como vou me apresentar ao Pai de meus irmãos? Venho dizer-lhe que os outros é que são maus filhos? Que eu, sim, sou o melhor?
E mesmo se eu fosse melhor que os outros, o Senhor vai me perguntar: é verdade, você é melhor, mas com tudo o que você é, o que faz para ajudar os outros seus irmãos?
Amor pede mais que palavras ou gestos amigos, pede coerência e sinceridade no que somos e no que devemos ser para com todas as pessoas.
Em Mateus 25, 31-46, Jesus fala do juízo final quando Deus vai separar as ovelhas dos cabritos, os pecadores dos que foram infiéis. O julgamento será sobre o que não fizemos de bem aos outros: os sedentos, os famintos, os nus, os prisioneiros. E sobre o que não fizemos de bem a todos estes. A afirmação é: tudo isso fizeram a mim!
O valor do que somos e fazemos não é só limitado a nós. Tudo em nossa vida pessoal está ligado às outras pessoas. Se eu procuro sempre o que é melhor para mim devo ter consciência de que os outros também devem participar deste meu gesto.
Aliás ninguém consegue realizar nada sozinho ou melhor sem a convivência com outras pessoas é muito difícil desenvolver nossas qualida-des na realização do que sonhamos ou desejamos.
E também qualquer gesto egoísta nosso, isto é, buscar só o que nos interessa, prejudica a quem convive conosco.
Jesus apresenta o que fazemos, porque fazemos, e nossa maneira de agir em nossos encontros com as pessoas.
Além de uma boa convivência, tudo o que acontece quando encontra-mos as outras pessoas, tanto nós conseguimos o que precisamos como os outros também são favorecidos com o bem que lhe desejamos e fazemos.
Jesus afirma que em toda a caminhada de nossa vida devemos e somos ori-entados para a responsabilidade do nosso modo pessoal de ser e agir,como também o Senhor deseja e vai nos pedir contas do que fizemos pelos outros.
Pois eu não posso só me preocupar com minha vida. Sou responsável pela vida dos outros e o Senhor vai me pedir contas disso.
O pensamento de Jesus quando eu vou ao encontro da necessidade de alguém, eu não estou só ajudando-o, eu mesmo sou o mais beneficiado.
Entendemos na vida: quem não se interessa pelos outros, fica sozinho e não goza da alegria de ter amigos. Ajudando os outros nós criamos um ambiente amigo que nos cerca de satisfação e vontade de viver.