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Inteligência Artificial e Educação: Questões Éticas (Parte I) – Pe. Anderson Alves

Inteligência, educação e ética são palavras grandes. Diante delas, a melhor atitude deve ser o respeito, acompanhado pelo silêncio e pela reflexão. Vamos buscar falar desses temas aqui separadamente e relacionando-os. Os autores que estudam esses assuntos, seja da Filosofia seja das ciências, em geral possuem uma característica comum: uma sólida base humanista, a qual é fundamental para o estudo. Os grandes pensadores da Neurociência, da Biologia, da Medicina, em geral, possuem ricos conhecimentos sobres as humanidades e isso enriquece muito sua perspectiva. Isso é muito relevante. Às vezes, no mundo acadêmico, costuma-se a tratar o conhecimento de forma demasiado fragmentado, opondo, talvez inconscientemente, as ciências humanas, as biológicas e exatas. Isso ocorre até mesmo na separação física das faculdades, ao interno das universidades. Entretanto, as ciências necessitam de uma fundamentação filosóficas e humanista. E os humanistas e filósofos dependem do conhecimento da realidade natural para bem elaborar o seu discurso. De forma que os saberes deveriam ser cada vez mais integrados no ambiente acadêmico e não fragmentado. Isso só tem a enriquecer todas as áreas do conhecimento.

A inteligência humana: afirmamos antes que a humanidade há séculos busca compreender a inteligência humana, algo que está longe de ser realizado, e agora deve se confrontar com uma inteligência dita “artificial”. A disciplina filosófica teoria do conhecimento e Neurociência atual, visam explicar o funcionamento da inteligência e o processo do conhecimento humano. Muitos hoje se perguntam: a inteligência artificial é realmente inteligente? Os estudiosos da inteligência artificial não deixam de se colocar essa questão.

A Filosofia trata o tema da inteligência e do conhecimento humano desde o seu início. Aristóteles começou a sua grande obra, “Metafísica”, com uma afirmação extraordinária: “Todo homem deseja por natureza conhecer”. A palavra inteligência em português deriva da palavra latina intellectus, a qual traduz o termo grego nous. Para Platão e Aristóteles, pelo nous o homem é semelhante a Deus. Platão disse, em resposta aos sofistas da sua época: o homem é a medida de todas as coisas e Deus é a medida do homem. Em As leis (IV, 716c) lemos: “Deus é para nós maximamente a medida de todas as coisas (pànton chremàton metron), muito mais do quanto pode ser um homem, como, porém, agora se diz”. Para Aristóteles, pelo intelecto o homem se assemelha a Deus, como ele diz: “Se, pois, o intelecto em relação ao homem é uma realidade divina, também a atividade segundo o intelecto será divina em relação à vida humana. Mas não se deve aceitar a afirmação dos que aconselham ao homem, porque é homem e mortal, de limitar-se a pensar coisas humanas e mortais; antes, ao contrário, enquanto seja possível, é necessário comportar-se como imortais e fazer de tudo para viver segundo a parte mais nobre que está em nós” (Ética a Nicômaco, 1177b 30-35).

O termo intellectus, segundo Tomás de Aquino, significa intus leggere, ou seja, diz respeito à nossa capacidade de ler dentro das realidades. O intelecto apreende as essências, reproduzindo-as imaterialmente. O intelecto humano apreende a realidade dando à luz a uma palavra interior, ou seja, um verbo, chamada de conceptus. A formação do conceito é a primeira atividade intelectual humana. O intelecto é chamado “agente” quando forma o conceito, e é chamado de “possível” quando o memoriza, possibilitando as demais operações intelectuais. Os conceitos, uma vez formados, podem ser relacionados entre si, dando origem à segunda operação intelectual: os juízos. Quando digo, por exemplo, “Sócrates é homem”, estou unindo conceitos que antes estavam separados na minha mente, atribuindo-os a uma realidade que está fora da minha mente. O juízo diz respeito ao ser da realidade, que é a fonte última dos conceitos intelectuais. Os juízos são sempre sobre os conceitos. Os conceitos são a fonte dos juízos o os juízos ajudam a conhecer melhor os conceitos.

O intelecto apreende a realidade, e é chamado assim de especulativo ou teórico. Especulativo provém de speculum, ou seja, espelho. O intelecto especula quando reflete imaterialmente a realidade material, sobre a qual discorre. Além disso, o conhecimento da realidade pode mover o homem a agir. Nesse sentido, o intelecto se torna prático: quando a realidade conhecida se torna princípio da nossa ação.

Os juízos podem ainda ser relacionados entre si em um silogismo ou raciocínio. O silogismo contém premissas e uma conclusão. Há silogismos teóricos e práticos. Os teóricos refletem a realidade. Os práticos têm como conclusão uma ação. “Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal” – é exemplo de um silogismo teórico. “Tenho sede. Isso é água. Logo, bebo a água” – é exemplo de um raciocínio prático. Falaremos mais adiante da inteligência artificial e da sua relação com a educação e com a ética.

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