Ao celebrar a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, na Catedral São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, Dom Joel Portella Amado, bispo de Petrópolis, concelebrada pelo Vigário Geral, Monsenhor José Maria e pelo Pároco, Padre Adenilson Ferreira, levou os fiéis a refletirem que a mudança do ano civil, popularmente conhecida como Ano Novo, é mais do que a simples troca de uma data no calendário. Para muitos, segundo ele, essa mudança carrega um impacto emocional significativo, despertando sonhos de paz, bênçãos e renovação.
Ele destacou o presépio como símbolo central de esperança, lembrando que a Esperança é o tema central do Jubileu, aberto pelo Papa Francisco na noite do dia 24 de dezembro de 2024 e, na Diocese, no dia 29 de dezembro, reunindo cerca de duas mil pessoas na Catedral. “Essa mudança mexe conosco. Ela resgata, lá no fundo, nossos sonhos de paz e bênçãos, ao mesmo tempo que nos leva a desejar abandonar as dores e as dificuldades do ano que passou”, destacou o bispo, numa abordagem calorosa e reflexiva.
Nos tempos modernos, em que calendários digitais substituíram as tradicionais folhinhas de papel, a passagem do ano ainda guarda uma força transformadora.
“Mesmo com o aplicativo, mesmo não sendo mais aquela folhinha que a gente tirava uma folha cada dia, isso mexe conosco. Isso vai buscar lá dentro de nós sonhos de paz, sonhos de bênção. Vai buscar lá dentro de nós o desejo de que as mazelas, as dores, os sofrimentos, e, se me perdoem o termo, as atrapalhadas da vida, tenham ficado no ano anterior. Isso é muito humano. Isso é um presente que o Criador colocou no nosso coração, para que nós não nos acostumemos com o mal”, ressaltou o bispo.
O presépio: lições de simplicidade e paz
O bispo diocesano conduziu o olhar dos fiéis ao presépio como fonte de inspiração para o início do ano. Embora, à primeira vista, a cena pareça um cenário de precariedade — um parto em um estábulo improvisado, sem qualquer conforto ou segurança —, o presépio traz lições importantes sobre os reais caminhos para a paz.
“O primeiro impacto que o presépio apresenta é um impacto de despojamento e de vazio. Você olha e você diz: mas onde está a paz? No risco? Onde está a paz? No sofrimento? Onde está a paz numa cidade como era Belém naquele período e como era toda aquela região? Em razão do recenseamento que o imperador tinha determinado, a turma está correndo para lá, a turma está correndo para cá. E Maria é chamada a dar à luz naquele tempo, naquele local. E aí a resposta é: ali é que se encontra a paz. Ali a paz se faz presente.”
O bispo continua sua reflexão, fazendo os fiéis olharem o presépio em seu contexto mais amplo e não apenas com os olhos do que podem ver, refletindo sobre como encontramos a paz naquela cena.
“Primeiro, pelo que não tem no presépio. Segundo, pelo que tem no presépio. Se você olhar o presépio, se você perceber os relatos bíblicos, você vai perceber que ali não tem coisa alguma que não levaremos conosco quando partirmos dessa vida”, refletiu e acrescentou: “O que tem no presépio? Não havia foto naquela época, não havia rede social naquela época, mas os artistas souberam colocar no presépio. Havia afeto entre Maria, José, o menino. O afeto que os anjos construíram, chamando os pastores; o afeto que, depois, poucos dias, pouco tempo depois, os magos do Oriente vieram. Aí você diz: então é aqui que tem a paz? É aqui que surge a paz?”
Ainda refletindo sobre a importância do presépio, o bispo afirma que “somos convidados a voltar o nosso olhar e o nosso coração para o presépio e, em tudo aquilo que o presépio tem, olhar o menino e olhar a sua mãe. Por isso que hoje é uma solenidade. Santa Maria, Mãe de Deus, hoje é dia santo de guarda, hoje é dia de preceito.”
Jesus Cristo: a novidade que transforma
Jesus é a grande novidade anunciada: Deus feito homem, que escolheu viver entre os seres humanos para trazer uma mensagem de amor e renovação espiritual. “Ele não se fez pedra, ouro ou riqueza. Ele se fez humano, com a capacidade de amar, que é o que temos de mais bonito”, ressaltou. Nesse sentido, os fiéis foram convidados a dedicar o novo ano à busca por valores que superem as dificuldades da vida, confiando na força transformadora de Deus.
Os temas da paz e esperança não se limitaram ao entendimento simbólico do presépio. Inspirado pela mensagem do Papa Francisco, o bispo recordou a importância de sonhar juntos por um mundo mais fraterno. Citando o documento Fratelli Tutti, de 2020, ele trouxe palavras emblemáticas do pontífice:
“Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. Este é um ótimo segredo para sonhar e tornar a vida uma bela aventura. Sozinhos, corremos o risco de enxergar miragens, vendo o que nem existe. Mas, permanecendo juntos, realizamos os sonhos.”
A mensagem do Papa Francisco ecoa a necessidade de olhar para os outros como verdadeiros irmãos e irmãs, independentemente das diferenças de fé ou convicções. Ele destacou ainda que essa solidariedade se torna ainda mais necessária diante dos desafios globais.
Por fim, a mensagem do bispo diocesano foi clara: superar as dores e os medos exige não apenas fé, mas também determinação e união. “Nenhuma dor pode nos segurar, nenhum medo pode nos deter. Se estivermos juntos, conseguimos ir mais longe”, concluiu.