A virtude da esperança possui diversas propriedades que a caracterizam e a distinguem de meros desejos ou otimismo infundado. Estas propriedades – sobrenatural, firme e segura (mas não certa), viva e eficaz, perseverante e paciente, humilde, alegre e otimista – encontram eco e aprofundamento na bula Spes non confundit do Papa Francisco.
A esperança é sobrenatural por sua origem, motivo e objeto. Francisco enfatiza que a esperança nasce do amor e se funda no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz. Este amor divino, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, é a fonte sobrenatural da esperança cristã, transcendendo as capacidades puramente humanas.
Embora firme e segura, a esperança teologal não possui a certeza da fé. O Catecismo da Igreja Católica (CIC 1820) descreve a esperança como a “âncora da alma, segura e firme”, uma imagem que ressoa com a exortação de Francisco a nos agarrarmos firmemente à esperança que nos foi dada, encontrando refúgio em Deus como uma âncora segura e firme da alma. Esta firmeza se apoia na onipotência de Deus, não em nossas próprias forças, um tema implícito na confiança que Francisco deposita na graça divina para o Jubileu.
A esperança é viva e eficaz, análoga à fé. Ela nos impulsiona a esperar com paciência e perseverança. Francisco conecta intrinsecamente a esperança e a paciência, lembrando que a tribulação produz a paciência, e esta, por sua vez, conduz à firmeza e à esperança (Rm 5, 3-4). A vida cristã é descrita como um caminho que necessita de momentos fortes para nutrir a esperança, evidenciando sua natureza dinâmica e eficaz na jornada espiritual.
A humildade é outra propriedade essencial da esperança, significando não confiar exclusivamente em nossas próprias forças e dar o primado a Deus. Embora Francisco não explicite a humildade como propriedade da esperança, a sua insistência na misericórdia divina e na necessidade da graça para a renovação sublinha a importância de reconhecermos nossa dependência de Deus, um aspeto central da humildade na esperança.
Finalmente, a esperança é alegre e otimista, gerando alegria e otimismo na força de Deus. Francisco ecoa este sentimento ao exortar a sermos “alegres na esperança” (Rm 12, 12). A própria proclamação do Jubileu sob o signo da esperança visa reanimar essa alegria e confiança no futuro, apesar das incertezas.
Em suma, as propriedades da esperança delineadas pela teologia moral encontram um rico contexto e aplicação prática na bula Spes non confundit. Francisco, ao convocar a Igreja a viver um Ano Santo sob o signo da esperança, demonstra como esta virtude sobrenatural, firme mas não presunçosa, viva e atuante, humilde em sua dependência de Deus e radiante em sua alegria, deve moldar a vida dos cristãos em seu caminho rumo ao encontro com o Senhor.