No 1º.livro dos Reis 19, 4-8, o profeta Elias caminhou deser-to adentro. Adormeceu à sombra de um junípero e pediu a morte. Adormeceu. Um anjo o acordou: “levanta-te e come deste pão.” Comeu bebeu e dormiu. Aconteceu o mesmo de novo. Acordado, o anjo lhe disse que caminhasse. Ele o fez durante quarenta dias e quarenta noites até chegar ao Horeb, o monte de Deus.
Os profetas e os santos tem também seus momentos de fraqueza e desânimo. São mortais iguais a nós. No tempo de Jesus nem sempre as águas do lago de Genesaré estavam calmas. Algumas vezes os apóstolos foram pegos por tempestade.
O grande profeta Elias era valente, corajoso, enfrentava poderosos, foi perseguido. Nunca faltou à missão que o Senhor lhe deu. Mas a taça de sua vida às vezes transbordava pelo abandono.
Adormeceu. O sono é remédio, pois nos obriga a uma parada silenciosa e acolhedora, fazendo-nos silenciar os sentidos agitados.
Alguns santos e fieis fervorosos buscam em retiros espirituais refazer suas forças religiosas. Nossa Igreja nos propõe cada dia o recolhimento da oração, pela manhã, à noite ou durante o dia.
Esta busca do silêncio interior hoje é muito necessária. Eternas crianças, nossa mente, nossos olhos, nossos pensamentos e memória vivem agitados demais seja com coisas necessárias, seja com preocupações ou distrações inúteis.
Práticas orientais de concentração psicológica tem atraído muita gente. Porque vivemos tão agitados, que se nos olharmos no espelho perguntaremos: quem é este aí? Ficamos irreconhecíveis.
Na carta aos Efésios 4, 30-5,2, o apóstolo pede que não entristeçam o Espírito Santo. Que não haja amargura, irritação, injúrias. Sejam bons uns para com os outros. Compassivos, perdoem, imitando Deus, vivam no amor como Cristo que se entregou por nós.
O Espírito Santo é o Amor do Pai e do Filho e a fonte de todo o nosso bem querer. Por isso ele também é a origem de toda a alegria e felicidade, como o amor verdadeiro.
Quem é movido pelo amor, que deseja só o bem, que pensa mais no bem que pode proporcionar às outras pessoas, é pessoa feliz e fonte de felicidade para todos.
Irritação, amargura muda nosso humor, faz-nos perder a calma, e enxergar os outros como agressores. É como o fel: o que toca torna amargo e venenoso.
O apóstolo ensina e precisamos aprender de fato: a reação boa e amiga, prazerosa que queremos da parte dos outros é resposta do que somos e fazemos aos outros. O rosto fechado, severo, rancoroso só afasta as pessoas. Seria como um muro que separa.
Quantas pessoas que se comoveram e mudaram de vida para melhor ao contemplar o rosto sangrento, chagado, sofredor do Cristo crucificado e coroado de espinhos. Porque conseguiram divisar seus olhos divinos compassivos e amorosos olhando com misericórdia, aceitando como o fez com Verônica, que pudéssemos limpar este rosto desfigurado e fazer brilhar seu olhar acolhedor.
Em João 6, 41-51, os judeus murmuravam contra Jesus porque dissera que era o pão que desceu do céu. “Nós sabemos quem Ele é e sua família. Como pode afirmar tal coisa.” E Jesus continuava:” ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrair. Quem escutou o Pai e por ele foi instruído vem a mim. Seus pais comeram o maná no deserto e morreram. Eu sou o pão da vida. Eis aqui o pão do céu, quem dele comer viverá para sempre. E o pão que lhes darei é minha carne para a vida de todos.
Jesus insiste na alimento do pão como imagem do que alimenta e sustenta nossa vida. É fácil entender. Diziam os antigos: primeiro viver, depois filosofar. Nossa natureza precisa de alimento para manter em dia as qualidades físicas e também espirituais.
E assim esta imagem leva Jesus não só a pedir que busque-mos alimento comum mas também que pensemos em nossa inteli-gência disposta para conhecer o mundo que nos cerca, a vontade para desejar o que é necessário para viver, sensibilidade para sermos atraídos pelo que nos agrada e a liberdade para escolher o que de fato possa conduzir com segurança o todo que somos.
E o pão da terra precisa do pão do céu que é Jesus. Tendo alimentado a fome de todas as qualidades que temos, precisamos alimentar nossa vida espiritual cuja origem é o próprio Deus: vida de nossa vida total. Pois não basta ao homem satisfazer tudo o que nossa natureza física e psíquica pede, porque somos também necessitados do alimento espiritual, da presença de nosso Criador e Pai: vida de nossa vida pelo amor.