Orientações para os cantos da Semana Santa e Tríduo Pascal

“Sim, verdadeiramente é bom e justo
cantar ao Pai de todo coração,
e celebrar seu Filho Jesus Cristo,
tornado para nós um novo Adão

 – Proclamação da Páscoa

Iniciaremos, com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Semana Santa, compreendida no Tempo Quaresmal. Com a Missa da Ceia do Senhor, iniciamos o Tríduo Pascal, que constitui o centro e o coração de todo o ano litúrgico. Convém recordar que o Tríduo Pascal não é uma solenidade pascal, mas constitui a celebração pascal, que se prolonga nos três dias[1]; nesses três dias, vivenciamos, de forma coesa e condensada, o mistério pascal de Cristo.

Aproximando-nos deste tempo santo, em que o Tríduo Pascal é “o ápice do ano litúrgico, porque celebra a Morte e Ressurreição do Senhor”: o Mistério Pascal (CNBB, Guia Litúrgico-Pastoral, p.19), a Subcomissão de Música Sacra deseja transmitir aos cantores, instrumentistas, equipes de liturgia, sacerdotes e diáconos algumas orientações e sugestões para a melhor vivência deste tempo.

Apesar de cada paróquia ter sua organização já consolidada por anos de prática, este pode ser o tempo propício para reunir forças e preparar as celebrações mais importantes do ano litúrgico com ensaios conjuntos, envolvimento maior dos grupos de cantores da comunidade paroquial e para cantar partes da missa que, no dia-a-dia da comunidade, não são cantadas. Também é a oportunidade para que as equipes envolvidas na celebração se reúnam e aprofundem sua formação junto de seu sacerdote e coordenador.

Não é necessário nem conveniente mudar todos os anos o repertório/elenco musical, até porque muitos cânticos apenas se executam nesta ocasião e as memórias e emoções associadas podem ser uma válida e oportuna ajuda para vivência do Mistério Pascal.

Em todo caso, uma programação ponderada conseguirá combinar a novidade cativante com a estabilidade que favorece a participação.

Para se bem celebrar esse Tempo litúrgico dentro de nossas comunidades, reunimos os seguintes pontos e orientações:

  1. As músicas litúrgicas devem expressar verdadeiramente o mistério de Cristo celebrado neste tempo, com a espiritualidade própria desse tempo litúrgico, expressa pelos textos bíblicos e orações da liturgia, e dirigidos pelas Antífonas. Como o Tríduo Pascal é a celebração do mistério central da vida da Igreja, não se adequam cantos “genéricos”.
  2. O repertório litúrgico das músicas está intimamente ligado ao rito. Em algumas ocasiões, está acompanhando o rito, em outras é o próprio rito que é cantado. Portanto, deve-se consultar sempre o Missal Romano, a fim de identificarem o que é adequado para cada celebração e cada rito da mesma celebração.
  3. O repertório litúrgico nutre-se das características próprias desse tempo. Sejam escolhidos cantos adaptados a este tempo e correspondentes, o máximo possível, com as antífonas, com as leituras, particularmente o Evangelho, e com os textos litúrgicos.
  4. Com cantos tão específicos para estas celebrações, convém e incentiva-se a organização de subsídios, materiais de canto físicos ou e-books para a melhor participação da assembleia nos cantos nestes dias.

Domingo de Ramos e da Paixão

  1. O Domingo de Ramos e da Paixão inicia a Semana Santa, mas continua sendo Tempo Quaresmal. Além das orientações para o Tempo da Quaresma, esse dia comporta características específicas.
  2. Para o início da Missa, existem três formas de entrada. Para cada forma, existem antífonas próprias que podem ser adequadas com outros cantos apropriados:

Para a chegada do celebrante ao lugar da procissão: “Saudemos com hosanas…[2].

  1. A) para a Procissão: “Os filhos dos hebreus com ramos…” e o Sl 23; ou “Os filhos dos hebreus no chão punham seus mantos…” e o Sl 46; ou “Hino a Cristo Rei”; e “Ouvindo o povo que Jesus entrava…”[3].
  2. B) para a Entrada Solene: Ouvindo o povo que Jesus entrava…”[4].
  3. C) para a Entrada Simples: Seis dias antes da solene Páscoa[5].
  4. Se as celebrações deste dia forem múltiplas, convém que a Missa principal do lugar, com a procissão ou entrada solene, seja especialmente servida com os cantos do celebrante e da assembleia.
  5. Para acompanhar o momento da preparação das oferendas, a antífona apresenta o texto “O insulto me partiu o coração…” (Sl 68, 21s). E para a comunhão: “Ó Pai, se este cálice…” (Mt 26, 42)[6].
Vitral na Igreja de Saint-Aignan em Chartres, na França. Chartres_Saint-Aignan96

Semana Santa

  1. A Semana Santa, iniciando com o Domingo de Ramos e da Paixão, continua sendo Tempo Quaresmal, que se encerra na Quinta-feira Santa (Missa da Ceia do Senhor). Assim, convém continuar a observar as orientações anteriores para o Tempo da Quaresma.
  2. O toque dos instrumentos musicais só é permitido para sustentar o canto. (Diretório da Liturgia da Igreja no Brasil, 2025, p.67). Desse modo, o toque instrumental deve ser mais simples, entendendo-se como destoantes deste tempo os solos instrumentais e o uso de mais instrumentos para embelezar o canto. Exceção é o Domingo Laetare (4º Domingo da Quaresma), bem como as solenidades e festas nesse tempo[7]. Cuide-se do volume dos instrumentos que jamais poderão ocupar o primeiro lugar.
  3. Aconselha-se aos pianistas e tecladistas a utilizarem a registração de órgão, priorizando os registros flautados (mais suaves) que expressam sobriedade, delicadeza e contrição. Aos violonistas, dentro das condições, empreguem o dedilhado na execução dos cantos; o encordoamento de nylon soa com mais docilidade e suavidade. É aconselhável evitar instrumentos percussivos, já que suas características são de um ar festivo.
  4. Omite-se em todas as Missas o Aleluia até a Vigília Pascal, exclusive, também nas solenidades e nas festas. No tempo da Quaresma, no lugar do Aleluia, canta-se o versículo antes do Evangelho, proposto no lecionário[8].

Quinta-feira Santa, Missa da Ceia do Senhor

  1. Os cantos desse dia expressam a entrega amorosa de Cristo, do seu Sacerdócio e Sacrifício, da Eucaristia e na instituição do mandamento do Senhor.
  2. Entoa-se e canta-se o hino do Glória.
  3. Recomenda-se que se utilizem mais instrumentos somente até o fim do canto do Glória. Depois, o toque dos instrumentos musicais seja somente para sustentar o canto até o mesmo canto do Glória, na Vigília Pascal, portanto, o mínimo necessário.
  4. As antífonas, que podem ser adequadas com outros cantos apropriados, apresentam os seguintes textos: para a acompanhar a entrada, a antífona apresenta o texto “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser nossa glória…” (Gl 6,14); para a preparação das oferendas: “Onde o amor e a caridade..”. E para a comunhão: “Este é o Corpo que será entregue por vós…” (1Cor 11,24.25)[9].
  5. Terminada a Oração depois da comunhão, realizando-se o Translado do Santíssimo Sacramento, forma-se a procissão em que se canta “Vamos todos louvar juntos” (exceto as duas últimas estrofes), ou outro canto eucarístico. Quando o Santíssimo Sacramento é depositado no tabernáculo, canta-se o “Tão Sublime Sacramento” e depois o sacerdote e outros ministros voltam à sacristia em silêncio.
Cena da morte de Jesus na Cruz da Via Sacra, da Capela do Oratório do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino

Sexta-feira Santa, Celebração da Paixão do Senhor

  1. Neste dia, a Igreja se une ao Sacrifício e à dor da Paixão e Morte do Senhor, o que é expresso também no cantar como o Servo Sofredor que se entregou sem reservas, confiando-se nas mãos daquele que o pode livrar de seus inimigos. Assim, a Igreja se une a Cristo no abandonar-se nas mãos do Pai, cantando a esperança da vitória dos discípulos de Cristo.
  2. Por isso, é um dia de silêncio e recolhimento, em que se utilizam instrumentos suficientes somente para sustentar o canto, de modo que o toque instrumental seja o mais simples possível. Evite-se instrumentos percussivos, já que suas características são de um ar festivo. Também existe o costume de lugares em que se opta por cantar na celebração sem o uso de instrumentos, a capella, demarcando a sobriedade, introspecção e austeridade desse dia.
  3. A proposição das intenções da Oração Universal, celebrada solenemente, destacando a oração da Igreja por todo o mundo, pode ser cantada, bem como o convite para oração silenciosa: “Ajoelhemo-nos – Levantemo-nos”.
  4. Os cantos das antífonas para acompanhar a Adoração da Cruz são: “Adoramos, Senhor, vosso madeiro” e o Sl 66,2-8; “Povo meu, que te fiz eu?” – os Lamentos do Senhor; e o hino ”Fiel madeiro da santa Cruz”. Podem-se cantar cânticos inspirados nas antífonas, outros cânticos apropriados e, se for pastoralmente oportuno, cantar “De pé a Mãe dolorosa” ou outro canto em memória das dores da Bem-aventurada Virgem Maria[10].
  5. Atente-se para que o rito da Adoração da Cruz não se desvie para músicas intimista e subjetivistas, desfavorecendo o caráter eclesial, comunitário, da união do Corpo Místico da Igreja à entrega do seu Senhor Crucificado. O sentido é maior do que a qualidade marcante de uma música. Igualmente, que o Mistério de Cristo não seja obscurecido pela interpretação individual de um cantor ou musicista.
  6. Durante a comunhão, pode-se cantar o Sl 21 ou ainda outro canto apropriado[11]. A saída do celebrante é realizada em silêncio.

Páscoa: Vigília Pascal, Sábado Santo

  1. Na Vigília Pascal, cantamos o esplendor de uma luz que jamais se apagará e revigoramos nosso compromisso batismal: vivermos a vida nova dos filhos de Deus Pai e seguirmos fielmente o Cristo.
  2. A Vigília Pascal deve ser preparada com muito esmero, já que é a maior solenidade da fé cristã. Por isso, seja especialmente servida com os cantos do celebrante e da assembleia, especialmente orações, aclamações, diálogos, salmos, ladainha, partes fixas da missa e cantos que acompanham ritos, “pois os textos recebem toda a força que lhes é própria, sobretudo quando cantados” (MR, p.245 n.2).
  3. É próprio da Proclamação (Precônio) da Páscoa que seja cantada (Exultet). Este canto da Proclamação da Páscoa (Exultet) é um canto presidencial, seja executado pelo celebrante, por um presbítero concelebrante ou por um diácono, seja, por necessidade, possa ser executado por um cantor leigo. Por isso, ela deve ser cantada sem acompanhamento de instrumentos[12]. Conforme o Missal Romano (p.278), versões aprovadas pela CNBB podem ser cantadas e até mesmo com aclamações da assembleia. A melodia do Missal Romano está disponibilizada aqui (Proclamação da Páscoa).
  4. Convém que os salmos sejam cuidadosamente salmodiados, sempre considerando o gênero e características de cada um. Os instrumentos cooperem somente para sustentar o canto até então. Reservando-se do maior uso de instrumentos até o hino do Glória.
  5. Com o canto do Glória, o canto retoma todo o seu júbilo e solenidade em honra à vitória de Cristo.
  6. Recordamos da entoação do Aleluia, uma vez terminada a Epístola de São Paulo (Rm 6,3-11), e levantados, o sacerdote entoa três vezes o Aleluia e todos repetem. Em seguida, o cantor salmodia o Sl 117 enquanto se prepara e se acompanha a procissão com o Evangeliário até o ambão. Esta já é a aclamação ao Evangelho, melhor dizendo, é de onde se originam as aclamações ao Evangelho cantadas a cada dia, como um continuar dessa mesma celebração da Páscoa.
  7. No início da Liturgia Batismal, havendo Batismo ou ao menos bênção de fonte batismal, é cantada a Ladainha de Todos os Santos. Sua propriedade como ladainha, leva a ter um cantor/solista que entoe a invocações e um outro cantor/grupo de cantores que sustente a resposta da assembleia. Convém conferir o texto da Ladainha conforme a atual 3ª tradução do Missal Romano, independente da melodia escolhida, como também o trecho final quando há Batismo ou quando não há Batismo. Na Ladainha, podem-se acrescentar alguns nomes de santos, sobretudo do padroeiro da igreja, dos padroeiros do lugar e dos que serão batizados. A melodia do Missal Romano está disponibilizada aqui (Ladainha de todos os Santos).
  8. Ao término da Bênção da Água Batismal, a assembleia aclama o “Amém” e o verso “Fontes do Senhor, bendizei…”. Convém que se cante, ao menos a última[13].
  9. Enquanto se realiza o rito do Batismo, é bom que o povo cante um cântico, intercalando com momentos de silêncio[14]. Se os ritos explicativos/complementares tiverem sido feitos fora do presbitério, volta-se a ele em procissão, cantando-se “Eu vi, eu vi…” ou outro cântico apropriado[15].
  10. Para a Renovação das Promessas Batismais, todos, de pé, ficam com as velas acesas. Não é previsto um rito ou canto para se acender as velas. Isso leva a entender que, anteriormente, a equipe de celebração, cuidará de ir acendendo as velas. Porém, por causa de um grande número de fiéis, pode ser necessário mais tempo, e desse modo, faz-se conveniente um cântico apropriado.
  11. A aspersão do povo com água benta é acompanhada pelo cântico “Eu vi, eu vi…” ou outro cântico adequado referente ao Batismo.
  12. As antífonas, que podem ser adequadas com outros cantos apropriados, apresentam o seguinte texto: para a preparação das oferendas: “A mão direita do Senhor…” (Sl 117,16); para a comunhão: “Nosso cordeiro Pascal, Cristo…” (1Cor 5,7-8) e oportunamente, canta-se o Sl 117[16].
No domingo de Páscoa, o túmulo vazio, Cristo ressuscitou, aleluia!

Páscoa: Missa do Dia, Domingo da Páscoa

  1. É a maior solenidade da fé cristã. Por isso, seja especialmente servida com os cantos do celebrante e da assembleia, especialmente aclamações, salmos, ladainha, partes fixas da missa e cantos que acompanham ritos com especial festividade e solenidade.
  2. Além de todo o Tríduo Pascal, é o dia em que convém fazer uma ou outra aclamação a mais em canto, ou um e outro diálogo entre o sacerdote e os fiéis a mais em canto, por exemplo o sinal da cruz, saudação inicial, a benção final, a despedida etc.
  3. A Sequência Pascal seja, em primeiro lugar, cantada. Ela destaca e explica a solenidade celebrada.
  4. As antífonas, que podem ser adequadas com outros cantos apropriados, apresentam os seguintes textos: para a acompanhar a entrada, a antífona apresenta o texto “Ressuscitei, e sempre estou contigo…” (Sl 138,18) ou “Realmente, o Senhor ressuscitou..”. (Lc 24,34); para a preparação das oferendas: “A terra apavorou-se e emudeceu…” (Sl 75,8); e para a comunhão: “Nosso cordeiro pascal, Cristo…” (1Cor 5,7-8)[17].

Pensando em propor um auxílio para bem celebrar e viver a Semana Santa, o Tríduo Pascal e o Domingo de Páscoa, a Subcomissão de Música Sacra de nossa diocese preparou, além dessas orientações, um subsídio com sugestões de cantos escolhidos conforme os textos bíblicos e antífonas que podem ser utilizados dentro das celebrações litúrgicas e uma playlist para ajudar a conhecer os cantos deste tempo litúrgico. Ao final do subsídio preparado, está a lista com as sugestões organizadas pelos momentos da celebração (p.69).

Organização do Subsídio – cantos para:

  • Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
  • Quinta-feira Santa – Missa da Ceia do Senhor
  • Sexta-feira Santa – Celebração da Paixão do Senhor
  • Sábado Santo – Vigília Pascal
  • Domingo de Páscoa

Faz-se conveniente conhecer as gravações das melodias do Missal Romano: Cantos dos Ministros e da Assembleia: I. Próprio do Tempo; II. Ordinário da Missa (tonus sollemnis); III. Ordinário da Missa (tonus simplex); IV. Apêndice, disponíveis nas plataformas digitais como Youtube e Spotify.

Vale ressaltar que nem todas as músicas do subsídio possuem uma gravação na plataforma digital, exigindo a pesquisa em outras plataformas e que as gravações podem possuir elementos que não se inserem e se adequam à celebração litúrgica e suas partes, como também à realidade de cada comunidade. O que exige nossa sensibilidade e discernimento no momento de executá-las na liturgia.

Desejamos que as celebrações do Mistério Pascal possam renovar nossa resposta ao chamado de Deus!

Abaixo estão disponíveis os links de acesso à playlist e ao subsídio de canto elaborado.

Subsídio de música – Semana Santa e Tríduo Pascal (Subsídio de música – Semana Santa e Tríduo Pascal)

Playlist no Spotify: Semana Santa e Tríduo Pascal (Músicas Litúrgicas | Missa – playlist by JPMR | Spotify)

Divisão das músicas (ao final desse subsísidio a divisão das músicas para Semana Santa e Tríduo Pascal)

Subcomissão de Música Sacra da Diocese de Petrópolis/ RJ

comissaodemusicasacra@diocesepetropolis.org.br

[1] cf. CNBB, Missal para as nossas assembleias, p.54-55

[2] cf. Missal Romano, 2023, p.216

[3] cf. MR, p.221-223

[4] cf. MR, p.223-224

[5] cf. MR, p.224

[6] cf. MR, p.225.226 e Graduale Romanum p.148

[7] cf. IGMR, n. 313

[8] cf. IGMR 62; PS, n.17

[9] cf. MR, 246.248.254

[10] cf. MR, p.267-269

[11] cf. MR, p.271

[12] cf. IGMR, n.32; Musicam Sacram, n.64

[13] cf. MR, p.305

[14] cf. RICA, p.100

[15] cf. MR, p.305 e RICA, p.274

[16] cf. Graduale Simplex, p.151 e MR, p.313

[17] cf. MR, p.313 e Graduale Simplex, p.161

Cena da retirada de Jesus da Cruz e entregue a sua Mãe, a Virgem Maria da Via Sacra da Catedral São Pedro de Alcântara

Contato

Telefone - 55 24 98855 6491
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Endereço: R. Monsenhor Bacelar, 590 - Valparaíso, Petrópolis – RJ