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Inteligência Artificial e Educação: Questões Éticas (Parte II) – Pe. Anderson Alves

Continuamos a tratar do nosso tema, especificamente a relação de educação e leitura. Anteriormente demos alguns conselhos para a sua boa realização de uma leitura: ler pouco, escolher bem os livros e escolher nos livros. Pelas leituras aumentamos o nosso léxico, ou seja, a nossa compreensão dos conceitos. Quem nasceu na década de 80 ouviu, certamente, nas escolas o seguinte tipo de afirmação: a educação não deve levar o aluno a decorar nada, mas sim a entender. Desse modo, confrontava-se a memorização e a compreensão, como se fossem excludentes.

Os estudos realizados pela Neurociência atual, porém, mostram que o conhecimento é explicado através das sinapses, ou seja, a conexão entre os neurônios, que são as células do nosso sistema nervoso. Há sinapses químicas e elétricas. O conhecimento implica relações, transmissão de informações entre os neurônios. De modo que as vivências, sensações, pensamentos e ações deixam marcas no cérebro. São as “marcas da memória”, assim denominadas há 100 anos. A Neurociência a descreve: ao correr os impulsos elétricos pelas conexões nervosas (sinapses), as sinapses se transformam e se tornam melhores condutoras. Isso faz que, em longo prazo, os impulsos gerem “caminhos trilhados” no cérebro, os quais são “marcas estruturais”. Isso é estudado há décadas e se chama na biologia do cérebro de neuroplasticidade. Há outro nome simples para isso: aprendizado. Quem aprendeu muito na vida, tem muitas marcas no seu cérebro, muitos caminhos abertos, que lhe possibilita orientar-se no mundo e agir com eficiência.

Há estudos que mostram que memorizamos o que profundamente pensamos. Há anos a psicologia da aprendizagem e da memória investiga a profundidade do processamento de uma matéria. Quanto mais profundamente uma matéria é entendida, mais fica gravada na memória. Quanto mais pensamos uma realidade, um conceito, mais firmemente ele permanece na nossa inteligência. Cria-se assim um canal de informações no sistema nervoso, ou seja, as sinapses se tornam profundas. Isso explica materialmente o aprendizado e a memorização. O que é mais intensamente pensado é mais firmemente armazenado. De forma que não há oposição nenhuma entre aprendizado e memorização. O que aprendemos realmente nos lembramos; e só nos lembramos do que realmente aprendemos.

  1. Spitzer, em seu livro “Demência digital” fala desses estudos. Em um deles foi feito com um grupo de palavras, como o seguinte (2013).

jogar MARTELO olho BROTAR correr SANGUE PEDRA pensar CARRO carrapato AMOR nuvem BEBIDA ver livro FOGO OSSO comer GRAMA mar enrolar ferro RESPIRAR

Essas palavras foram mostradas a três grupos de pessoas. Cada palavra aparecia por dois segundos na tela de um computador. As mesmas palavras foram apresentadas aos três grupos, pelo mesmo tempo. Ao primeiro grupo, foi pedido para notar as palavras que estavam com letras maiúsculas e minúsculas. O grupo dois devia buscar distinguir os substantivos e os verbos. O último grupo deveria identificar os seres animados e os inanimados. Depois de alguns dias, perguntaram aos três grupos de quais palavras eles se lembravam. O resultado foi o seguinte: o rendimento da recordação dependia do que eles haviam feito com as palavras na sua cabeça. Quanto mais profundamente se pensava nessas palavras, mais se recordavam delas. Assim, o grupo três foi o que mais se recordou das palavras, o grupo dois ficou em segundo lugar e o grupo que apenas devia se preocupar em identificar palavras escritas com letras minúsculas ou maiúsculas se recordou de menos palavras. De modo que quanto mais profundamente refletimos sobre uma matéria, mais ela é retida na nossa memória.

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