A esperança forma, juntamente com a fé e a caridade, o tríptico das “virtudes teologais”, que exprimem a essência da vida cristã (cf. 1 Cor 13, 13; 1 Ts 1, 3). Não há esperança se não se conhece primeiro pela fé, pois nada é querido se não é previamente conhecido. A esperança necessita da fé, não é possível esperar o que não se conhece. A fé nos revela o que devemos esperar; a esperança nos leva a confiar e a desejar o que a fé nos revela; a fé é a virtude mais fundamental, é anterior à esperança; não pode haver autêntica esperança sem a fé.
A fé necessita da esperança para crescer e estar em movimento em direção a Deus. A esperança dá à fé o seu caráter prático, ativo, a estimula, pois a proximidade de Deus move a uma busca e afã maior para se chegar a Ele e a possui-lo. Sem a caridade não há esperança. Somente poderia haver uma esperança morta, que conservaria o hábito de querer ir para Deus (desejo de Deus). A esperança viva está unida à caridade: é desejo e confiança. Perder a esperança é já participar na condenação.
A esperança cristã encontra um ponto fundamental de apoio na profissão de fé: “Creio na vida eterna”. De facto, “é a virtude teologal pela qual desejamos (…) a vida eterna como nossa felicidade” (CIC 1817). Jesus morto e ressuscitado é o coração da nossa fé e, consequentemente, da nossa esperança (1 Cor 15, 3-5). A esperança cristã consiste precisamente nisto: face à morte, onde tudo parece acabar, através de Cristo e da sua graça recebida no Batismo, recebe-se a certeza de que “a vida não acaba, apenas é transformada”.
A esperança encontra, na Mãe de Deus, a sua testemunha mais elevada. Aos pés da cruz, mesmo atravessada por terrível angústia, Maria repetia o seu “sim”, sem perder a esperança e a confiança no Senhor, tornando-se Mãe da esperança. O Papa Francisco nos convida a nos agarrarmos firmemente à esperança que nos foi dada, encontrando refúgio em Deus, a âncora segura da nossa alma (Heb 6, 18-20). Que a força da esperança encha o nosso presente, aguardando com confiança o regresso do Senhor Jesus Cristo.
A virtude teologal da esperança, como delineada na teologia moral, pode ser obscurecida por diversas compreensões errôneas. Há quatro desvios significativos: o Pelagianismo, algumas concepções de Lutero e Calvino, o Quietismo e o Semiquietismo. Analisar estes erros à luz da exortação do Papa Francisco em Spes non confundit enriquece nossa compreensão da verdadeira natureza da esperança cristã.
O Pelagianismo, ao supervalorizar as forças humanas e subestimar a necessidade da graça divina para a salvação, contradiz a ênfase de Francisco na esperança como dom de Deus. A bula papal recorda a coragem infundida por São Paulo à comunidade de Roma sob o signo da esperança, esperança essa que tem seu fundamento no amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. A autoconfiança pelagiana ignora a centralidade da graça divina, essencial para a esperança cristã genuína.
Algumas afirmações de Lutero e Calvino também se desviam da compreensão católica da esperança. Lutero parecia equiparar fé e esperança, conferindo à esperança uma certeza de salvação que Trento nega. Calvino, por sua vez, com a sua doutrina da predestinação, virtualmente anula a esperança, já que o destino estaria irrevogavelmente fixado. Em contraste, Spes non confundit enfatiza a esperança como algo a ser reanimado, um caminho a ser percorrido, nutrido e robustecido, o que implica uma dinâmica e uma incerteza ausentes nas ideias de Calvino e na certeza luterana da salvação pela fé sozinha. Francisco lembra que a esperança cristã não engana porque está fundada no amor de Deus, mas não a apresenta como uma certeza da salvação individual no sentido luterano.
O Quietismo e o Semiquietismo, com seu misticismo exagerado e abandono radical na vontade de Deus, chegando ao ponto de negligenciar a própria santidade e salvação, também contrastam com a esperança ativa promovida por Francisco. O Papa fala de um caminho de esperança que exige momentos fortes para nutrir e robustecer essa virtude. A esperança cristã, segundo a bula, impele à ação, à busca da paz, ao apoio à vida, à atenção aos necessitados, sinais concretos de uma esperança viva e atuante no mundo, em oposição à passividade quietista.
Em suma, os erros sobre a esperança tendem a desviar o olhar da centralidade de Deus e da Sua graça (Pelagianismo), da sua natureza dinâmica e da coexistência com a fé (Lutero e Calvino), ou da sua manifestação prática na vida do crente (Quietismo e Semiquietismo). Spes non confundit nos convida a uma esperança enraizada no amor divino, alimentada pela fé e pela caridade, e que se traduz em ações concretas de testemunho no mundo, corrigindo assim estas visões equivocadas.