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A “semelhança” do homem com Deus se distingue da “imagem”? (Parte I) – Pe. Anderson Alves

Dissemos anteriormente que a mente humana, ao se recordar, conhecer e amar a Deus, é Sua imagem de modo indireto. Quando ela se recorda, conhece e ama a Deus, é sua imagem de forma direta e imediata. Santo Tomás, seguindo os primeiros pastores da Igreja, distinguiu a semelhança da imagem de Deus.

Com efeito, os Padres consideravam que a expressão “imagem de Deus” se refere à especial dignidade do homem. Seria um sinal da sua particular relação com Deus, da sua condição espiritual e do seu domínio sobre o mundo. Pela imagem, o homem participa da transcendência e dos dons divinos.

Os primeiros Padres de Alexandria, seguindo Filon de Alexandria, consideravam que a imagem de Deus está só na alma (Clemente de Alexandria, Orígenes, Dídimo o Cego). Quase todos eles pensam que a imagem de Deus está principalmente no espírito humano ou na alma (como São Basílio, São Gregório de Nissa, Santo Agostinho), porque ele reflete a Deus que é espírito.

Muitos Padres se fixam no mandato divino de dominar todas as coisas, presente no livro do Gênese. Isso seria reflexo da imagem de Deus no homem. Eles afirmam que tudo no homem está impregnado da imagem de Deus, porque Deus fez o homem como uma unidade. Também o corpo participa da imagem de Deus. Isso é destacado por muitos Padres, especialmente ao afirmar a dignidade do corpo diante dos gnósticos dualistas e maniqueus (Santo Irineu de Lião, São Justino, Tertuliano e São Gregório de Nissa).

O conceito de “semelhança” recorda aos Padres as antigas aspirações platônicas: o homem pode contemplar a Deus e “se divinizar”. Os Padres julgam que, conforme a mensagem evangélica, o homem pode realmente tornar-se semelhante a Deus. Para eles, Platão foi o mais espiritual dos filósofos gregos, o mais próximo dos Evangelhos. Alguns chegaram a afirmar que a Filosofia de Platão era, na verdade, uma recepção e adaptação grega da sabedoria do Rei Salomão.

Platão pensava que as “ideias” tinham a sua existência separada dos corpos. Seguindo a Filon de Alexandria, os Padres consideravam que as ideias de todas as coisas estão presente no Logos divino, ou seja, no Filho, que é a imagem perfeita do Pai. Desse modo, o homem se diviniza na medida em que ascende à contemplação de Deus, separando-se dos condicionamentos corporais e adquirindo características divinas: a espiritualidade e a imortalidade. Os homens espirituais alcançam o que é totalmente puro: a verdade, o bem e a beleza. O cristianismo muda assim o sentido da “ascese”; essa passa a significar a subida do homem a Deus, e não a negação do seu corpo ou da matéria. E o homem se dirige a um ser pessoal, que o criou a totalidade do seu ser. E Deus conhece e o ama a sua criatura. A purificação cristã não significa livrar-se da matéria, mas purificar o seu amor. O homem espiritual ama a Deus sobre todas as coisas e a tudo por amor de Deus. Assim, ele tem vida espiritual e contemplativa, tornando-se cada vez mais semelhante a Deus.

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