Educação, Cultura e Sentido de Vida: uma defesa da Dignidade Humana (Parte II) – Pe. Anderson Alves

Com o cristianismo, ‘persona’ passa a significar a excelência natural do homem, independente de sua classe social (diferentemente da Grécia e de Roma). Traz as ideias de nobreza e excelência próprias, que não lhe são concedidas pela sociedade, mas a precedem e a fundamentam. Pessoa indica um lugar singular na escala dos seres, ou seja, o mais elevado. Deus, os anjos e os homens são pessoas. Os demais seres são inferiores. Segundo o filósofo Julián Marías, “o cristianismo consiste na vida do homem como pessoa” (A perspectiva cristã, Martins Fontes, 2000, p. 111). O uso moderno indica o homem pelo fato de ser homem.

O filósofo e teólogo romano Severino Boécio elaborou uma das melhores definições de pessoa que temos na civilização ocidental. “Pessoa é a substância individual de natureza racional” (“Persona proprie dicitur naturae rationalis individua substantia”). Santo Tomás diz que a pessoa é o mais nobre da criação, e indica “o subsistente de natureza racional” (S. Th., I, q. 29, a. 3). A definição de Boécio pode ser analisada. Os seus termos teriam o seguinte significado:

“Substância individual”: indica que a pessoa é um ente em si; não é parte do todo; não é uma emanação divina ou mera aparência; não pode ser identificada com a natureza ou o ser divino. A substância é o sujeito dos acidentes. Ela permite adquirir uma “personalidade”, ou seja, características próprias, livremente escolhidas. A pessoa é um sujeito em si, dotado de uma substância própria e de interioridade.

“De natureza racional”: indica a capacidade da pessoa de apreender toda a realidade e de amar todas as realidades boas. Isso é indicado pela antiga afirmação de Aristóteles: “a alma é, de certo modo, todas as coisas”.

Portanto, pessoa é um ente individual, que possui um ser único, incomunicável e irrepetível, com uma dignidade única. Ela é incomunicável quanto ao seu ser e só se realiza na comunicação racional. A plenitude da pessoa está no conhecimento e no amor, especialmente no conhecimento e no amor a outras pessoas, principalmente as pessoas divinas. Aqui está uma espécie de paradoxo da pessoa: é um ser incomunicável que só se realiza na comunicação racional e livre. Só ela possui razão e palavra (em grego, dito “logos”).

O homem deve ao outro sempre a sua palavra, o seu respeito, o seu ouvir, a sua capacidade de relação. Isso pode ser constatado ao analisar pelo aspecto negativo: atualmente, nas prisões, o pior castigo é a “solitária”. Estar só é o pior castigo da pessoa, pois lhe nega o que lhe é mais essencial: a relação. O filósofo francês J.-P. Sartre afirmou, certa vez, que “o meu Inferno são os outros”. Na verdade, a realidade e a reflexão filosófica séria mostram que o Inferno é a ausência do outro, a ausência da relação. No Inferno, a pior pena será a solidão, a frieza da falta do amor.

No âmbito educacional, percebemos que o castigo mais grave que os pais às vezes impõe aos filhos é negar-lhes a palavra. Isso é tão duro, que a maior parte dos pais não o faz, pois dói até na alma, apenas pensar nisso é doloroso. Hoje, no âmbito da educação, também dói dar uma palestra ou uma aula e não ter ninguém ouvindo, por haver muitas pessoas presentes, mas como estão todos “conectados”, ninguém presta atenção a quem está presente e lhes dirige a palavra. Continua.

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