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O bom samaritano – 15º Domingo do Tempo Comum – Mons. Paulo Daher

Em Deuteronômio, 30, 10-14, o Moisés fala ao povo pedindo que siga as leis do Senhor que não são difíceis:  estão ao alcance de todos. Não estão lá nos céus, nem do outro lado do mar. Podemos conhecê-las e compreender seu sentido porque elas estão em nossos lábios e em nosso coração.

Nossa religião, já desde antes de Cristo, com Moisés, apresenta orientações religiosas e morais em nossa vida (mandamentos etc.), para as capacidades que temos e de modo especial para nosso espírito (feitos à imagem e semelhança de Deus!) (Gn 1, 27)

E Deus que é nosso Pai não nos pede mais do que podemos realizar (1Cor 4,12), por isso Moisés lembra que não é difícil seguir o que Deus nos orienta para nossa vida. Ninguém está perdido, sem rumo, neste mundo: o Senhor apresenta como orientação de vida os caminhos que todos podemos percorrer. E mais. Quando diz que estas regras de vida estão em nossos lábios e coração, significa nossa consciência religiosa e moral que em nós é luz que guia nossos pensamentos, sentimentos e ações sempre para o bem.

Se compramos um objeto que deve ser montado em sua mecânica, temos de ler as instruções. Seria bom se ao abrirmos o pacote do objeto que compramos, ele por si mesmo se montasse com toda a engrenagem. O ser humano já vem montado para realizar sua vida. Porque somos seres livres e racionais. Dentro de nós mesmos as instruções estão profundamente escritas para serem seguidas por nossa liberdade e vontade. O que não acontece com os outros seres sem inteligência nem razão, mesmo os animais. Eles se guiam mais pela programação de seus instintos pois não tem inteligência.

Os seres vivos têm suas leis que os conduzem desde o início de sua existência, digamos, automaticamente. Uma semente lançada a uma terra boa, segue seu caminho pelo potencial que já está programado nela, desenvolve-se até se tornar uma árvore. Os animais também, só que em um grau maior, pois sua natureza tem e cria hábitos por reflexo, muito semelhantes aos nossos reflexos humanos, mas neles sempre por instinto.

Além de termos orientação sobre o que somos, pensamos, fazemos, nosso relacionamento com outros seres humanos é guiado pela nossa consciência moral. Mas este dom precisa ser educado, orientado, porque a nossa liberdade de escolha é influenciada também pelos nossos sentidos. Estes reagem logo aos estímulos conforme são solicitados. Um caso simples: alimentar-se. Podemos gostar tanto da comida, que levados pelo sabor agradável, podemos exagerar. A bebida, o mesmo, o prazer sensual etc. Se nos deixarmos levar mais por estas solicitações inicialmente agradáveis, quebramos a lei da temperança que equilibra nossa saúde.

E atitudes erradas em outro campo do respeito ou desrespeito pelos outros seres humanos de modo especial.

Em Colossenses, 1, 15-20, o apóstolo Paulo afirma que Cristo Jesus é a imagem do Deus invisível, o primeiro de todas as criaturas. Nele foram criadas todas as coisas por Ele e para Ele. Ele é a Cabeça da Igreja que é seu Corpo, é o Princípio, tem a primazia. Nele Deus manifesta sua riqueza. Reconciliou por ele e para Ele todos os seres da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz.

Este trecho parece um poema. S. Paulo tenta apresentar-nos a imagem fiel e bastante completa de quem é Jesus Cristo.

Imagem do Deus invisível, o primeiro de todas as criaturas.

Jesus é Deus Filho, que se fez homem para nossa salvação. Muitas vezes Jesus afirmou esta verdade: Quem me vê, o Pai (Jo 12,45) O sentido não é só como todo o ser humano, imagem de Deus (Gn 1, 27) Mais que Imagem fiel, é mesmo por natureza divina.

O primeiro de todas as criaturas. Quando Deus criou o ser humano, Ele o fez perfeito em tudo o que o homem precisava, como ser inteligente, com tantas capacidades espirituais. E mais ainda, encantado com este ser pensado e realizado por suas mãos divinas de artista e cientista incomparável, infundiu em seu espírito uma marca espiritual, tornando-o melhor que podia, um ser divinizado, como um filho seu o quanto pudesse ser. O pecado fez o homem perder estes dons divinos que o transformavam por dentro e deixou-o muito mais à mercê de seus sentidos, embora ainda capaz de acolher Deus em seu coração.

Quando Deus Pai pensou em Maria, Ele pela segunda vez fez com ela o mesmo que com os primeiros seres humanos. E ela que é causa de nossa alegria, fez de novo o Senhor sorrir diante de Maria, a Imaculada Conceição! Maria encheu as medidas do amor de Deus. Foi-lhe tão fiel que, já desejada e programada, tornou-se a Mãe de seu Filho Jesus.

E Jesus é chamado o primeiro de todas as criaturas, por ser Deus e ser um homem perfeito, Deus visível. Sua natureza humana que herdou de Maria pelo milagre do Espírito de Deus, mais que tudo e mais que todos, de fato sublimou o que Deus Pai quis ao criar o ser humano. Jesus. podemos dizer em linguagem simples: encheu todas as medidas. A primeira expressão terrestre e celeste foi o canto da multidão de anjos no nascimento de Jesus. Já que a terra estava ainda envolta em trevas. Cantaram: Glória a Deus nos céus e paz na terra a todos a quem o Senhor muito ama. (Lc 2,9-14)

Em Lucas, 10, 25-37, um mestre da Lei perguntou: que farei para conseguir a vida eterna? E Jesus: que lês na Lei? E ele: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e a teu próximo como a ti mesmo. Jesus disse: faça isso e viverá! Mas o homem voltou a perguntar: quem é meu próximo? Jesus contou a parábola: um homem descia de Jerusalém, e Jericó e foi assaltado. Perdeu tudo e ficou quase morto. Passaram por ali um sacerdote judeu e um levita, mas nem ligaram. Um samaritano vinha atrás, viu o homem caído, socorreu-o, curou suas feridas e o levou em sua montaria à hospedaria pedindo que tratasse dele, pagando todas as despesas.  Jesus perguntou quem foi o próximo?  O mestre disse: o que foi misericordioso com ele. E Jesus: vá e faça o mesmo.

Esta parábola é conhecida e rica para muitas reflexões. Vamos nos limitar às observações: dois religiosos viram o homem ferido e não o socorreram, e um samaritano que não era religioso judeu, viu e socorreu o ferido.

Jesus ao responder ao mestre da lei pediu que ele mesmo dissesse o que lia na Palavra de Deus. E o professor respondeu com clareza o que era pedido. Ele, pois, conhecia as leis. Mas além disso pediu a Jesus que dissesse quem era o próximo. Conhecia as leis, mas não sabia aplicá-las.

O sacerdote judeu e o levita, vinham de Jerusalém, certamente serviram no Templo sagrado, haviam participado das cerimônias religiosas, conduzindo as orações do povo, mas isso não tinha influência em suas vidas. Ouviram a Palavra de Deus, ou melhor recitaram-na, mas não a aceitaram quando era preciso. Não acharam que o ferido fosse seu próximo. Iam contentes para casa por terem orado e cantado no templo com tanta gente. A fé sem ações é morta, diz São Tiago. (Tg 2,17)

Nossas manifestações religiosas em orações, cerimônias, procissões têm um valor de demonstração visível de nossa fé. Mas precisa corresponder ao que sentimos em nosso coração e ao que depois em nossa vida com os outros testemunhem esta fé em ações de respeito e atenção às pessoas.

Já o samaritano que não frequentava o Templo, pois adorava a Deus no monte Garizim, era rico, e certamente voltava de alguma atividade comercial em Jerusalém, enxergou o ferido e o socorreu.

Como há gente religiosa como o sacerdote e o levita judeus, há também pessoas boas, que talvez não tenham a mesma fé que nós, mas seguem seus bons sentimentos e cumprem a lei da caridade que cobre todos os nossos pecados.

Vá e faça o mesmo. Neste ano da misericórdia abramos nossos olhos da fé para enxergar quem precisa de nós em qualquer necessidade. Estejamos sempre de ouvidos bem atentos e sensíveis para ouvir e atender qualquer gemido de socorro, venha de onde vier.

 

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura ‘Ascom Diocese de Petrópolis’.
Texto e Fotos são de propriedade da Diocese de Petrópolis e dos autores em artigos assinados (Lei de Direitos Autorais). 

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