O Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino, no dia 30 de março, lembrou o 18º aniversário do falecimento de Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra (1906/1999), que durante 36 anos governou a Diocese de Petrópolis, sendo seu primeiro bispo. Sua posse ocorreu em 1948 e em 1984, deixou o governo da Diocese, ficando como bispo emérito, morando no Seminário, falecendo em 30 de março de 1999.
“Dom Manoel merecia um alentado volume histórico, tão importante e vasta foi sua atuação em 36 anos de governo da sua primeira e única Diocese. Seus merecimentos só Deus pode avaliar e já os terá recompensado, pois que Dom Manoel foi apóstolo, ‘servo bom e fiel’, exemplo de vida para o clero e ‘forma gregis’ entre o povo”. (Mons. Mário Correa Ferreira)
Dom Manoel nasce na pequenina cidade de Piracaia (interior do Estado de São Paulo) a 11 de novembro de 1906, às 18h, ao som dos sinos para o Ângelus. Nascido em família nobre, de descendência portuguesa, é filho do desembargador Dr. Cândido da Cunha Cintra e da ilustre senhora D. Antonieta da Cunha Cintra. Destaca a nobreza de sua família, de maneira clara no seu brasão episcopal:
“Os outros quartéis se prendem às famílias de que descendemos. O segundo da família Leme, oriunda de Flandres, que passou a Portugal com Martim Leme, no tempo de Afonso V, a quem serviu firmando nobreza. O terceiro reproduz o brasão da família Cunha, das mais antigas de Portugal, com solar no termo de Guimarães. O último encerra o emblema da família Araújo Cintra que, de Portugal, onde tomou o brasão de aspa com besantes, se passou para o Brasil”.
Em 1918, a família Cintra muda-se para a recém-inaugurada cidade de Penápolis, ainda no estado de São Paulo. Dom Manoel estando para completar seus 12 anos. A cidade estava se desenvolvendo, e chegavam os mais diferentes tipos de profissionais, entretanto, não dispunham de um Juiz de Paz.
Em 10 de outubro de 1917, foi o município de Penápolis elevado a termo de Comarca, pela lei nº 1.557 e em 27 de julho de 1918 é instalada, sendo seu primeiro Juiz de Direito o Dr. Cândido da Cunha Cintra, pai de Dom Manoel. Hoje, o Patrono do Fórum de Penápolis é o Desembargador Cândido da Cunha Cintra.
Manoel Pedro ingressa no Seminário Diocesano de Botucatu, pelas mãos de Fr. Vital de Moema, um Capuchinho, seu pároco, para fazer o Seminário Menor. O Seminário Diocesano de Botucatu era dirigido pelos Padres Lazaristas, por concessão do Papa Pio X. Futuramente, Dom Manoel, já bispo de Petrópolis, conta com a ajuda dos Padres Lazaristas que já se encontravam na diocese, instalados em belíssimo edifício na Avenida Barão do Rio Branco.
Chega a iniciar no Seminário de Botucatu a Filosofia, todavia, é um destaque no Seminário pela inteligência nada vulgar e pela firmeza na vocação. É enviado para Roma, tornando-se aluno do Colégio Pio Latino Americano, frequentando a Pontifícia Universidade Gregoriana, para fazer Filosofia e Teologia, Doutora-se em ambas as faculdades.
Foi ordenado sacerdote na Basílica São João de Latrão, em Roma, a 26 de outubro de 1930. Celebrou sua Primeira Missa na Capela Borghesi, em Santa Maria Maior, no dia seguinte. Retorna à diocese como Cura da Catedral de Cafelândia (hoje Diocese de Lins), na qual permanece até 1935. De 1940 a 1947, Reitor do Seminário Central do Ipiranga. (Viveu durante 12 anos no Seminário). Em 1944 foi nomeado pela Santa Sé Visitador Apostólico dos Seminários do Brasil, cargo em que permaneceu até 1956. (Ano da inauguração final do Seminário Petropolitano).
Em 1898, Petrópolis foi elevada à sede episcopal, permanecendo assim até 1908, quando o sólio dos bispos foi transferido para Niterói. Entretanto, era grande a predileção de D. José Pereira Alves, bispo vigente, pela “cidade das hortênsias”, como ele chamava Petrópolis, e queria reabilitar a velha Sé.
Pela Bula “Pastoralis qua urgemur”, de 13 de abril de 1946, a nossa imperial cidade de Petrópolis foi constituída sede de bispado novamente. Cria-se então a “comissão pro-bispado”, constituída de padres e leigos que se propuseram a tornar Petrópolis uma diocese, para tanto, muitas providências deveriam ser tomadas: como a aprovação da Santa Sé, um clero mais numeroso, a compra de um palácio episcopal, um carro para o novo bispo, entre outras coisas.
Eleito Bispo de Petrópolis a 09 de janeiro de 1948. Recebeu a Sagração Episcopal em São Paulo, na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, a 28 de março de 1948. Tomou posse da Diocese a 25 de abril de 1948.
“E ao subir a escalada da montanha, vinha reavivando os títulos todos que me deixam encantado na minha Diocese… A Serra da Estrela que me acena para a Estrela a despontar na alvorada da vida espiritual de todos os cristãos – Maria Santíssima. A Serra dos Órgãos que me lembra que nestas paragens há uma sinfonia de sons celestiais, postos por Deus no cimo das nossas cordilheiras. Ao passar nas ermidas de Nossa Senhora que enriquecem e engrinaldam a nossa Diocese, ao ver a serra festiva coberta de ouro e enfeitada de pétalas humildes do manacá da serra, eu vinha com a alma em festa e feliz” (Primeiro discurso na Diocese, proferido na Prefeitura, agradecendo ao Sr. Prefeito Dr. Flávio Castrioto).
Não há como entender profundamente o episcopado de Dom Cintra, sem antes acenar para a sua profunda devoção à Virgem Santíssima, a quem era consagrado, pelo método de consagração ensinado por São Luís Maria Grignion de Montfort. Sua “cadeia” externa, encontra-se no Museu do Seminário.
Apenas 11 meses de posse de sua Diocese, inaugura o Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino.
“Há um ano, quando, recém eleito para o sólio petropolitano, traçávamos as letras comovidas de nossa Carta Pastoral, almejávamos ardentemente a bênção promissora deste dia. Não supúnhamos porém pudesse ela se realizar em tão breve espaço de tempo. Felizmente assim é por extraordinária mercê de Deus. E hoje podemos dizer: Nossa Diocese vai ter o seu Seminário!”
Em praticamente todos os seus discursos e Cartas Circulares iniciais, falava o bispo da importância de que a nova diocese dispusesse do seu próprio Seminário. Confiando o seu Episcopado e o povo de sua primeira e única diocese aos pés da imagem de Nossa Senhora do Amor Divino, na pequena capelinha de Corrêas, pede ajoelhado à Virgem, a graça de um Seminário, para formar os futuros pastores da diocese. Hoje, o seminário Nossa senhora do Amor Divino tem 68 anos de história e excelência, formando diversos padres e dando a Igreja inclusive grandes bispos.
Ao completar 75 anos de idade, apresentou seu pedido de renúncia ao governo da Diocese, mas o Papa solicitou que continuasse. No dia 8 de dezembro, de 1983, Dom Manoel apresenta novamente o pedido de renúncia, tendo o Papa aceitado a 9 de fevereiro de 1984. Dom Manoel passa a morar no Seminário de Corrêas. Sua amada casa; Estava com 77 anos. Leciona ainda aos futuros sacerdotes, durante 14 anos: Doutrina Cristã, Introdução à Filosofia e Teologia Espiritual. Celebra o Cinquentenário do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino, no dia 25 de março de 1999. Vem a falecer 5 dias após, no dia 30 de março de 1999, com seus 92 anos.
“O dístico ‘In Bonitate et Veritate’, exprime nosso anelo de governar pela bondade e com a verdade. Sem a bondade nada se obtém de estável e verdadeiro entre os homens. Tudo por amor, nada por força, no dizer de São Francisco de Sales. Sem a verdade nenhum bem se alcança digno e elevado, porque na convivência com os erros se deformam os homens e na displicência com os vícios perecem as virtudes” (Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra)