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Patrão Generoso!

Aqui encontramo-nos, de imediato, frente a frente com Deus que nos fala em primeira pessoa: “ Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus caminhos”, diz o Senhor (Is 55,8). No Salmo 144 (145): Grande é o Senhor e muito digno de louvores, e ninguém pode medir sua grandeza.

Grande, justo, bom, santo: Assim também Jesus rezava e louvava o Pai.

O homem não pode reduzir Deus à medida dos seus pensamentos, nem condicionar o comportamento do Altíssimo às suas categorias de justiça e de bondade. Deus está muito acima do homem, muito mais do que está o céu acima da terra (Is 55,9); por isso, muitas vezes os projetos da sua providência são incompreensíveis à inteligência humana, que os deve aceitar com humildade, sem pretender advinhá-los ou julgá-los. Quantas vezes ficamos aquém das maravilhas que Deus nos preparou! Quantas vezes os nossos planos se revelam tão estreitos!

É este o ensinamento profundo contido na parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20,1-16). Jesus narra precisamente a parábola do senhor da vinha que em diversas horas do dia chama trabalhadores para a sua vinha. E à tarde dá a todos o mesmo salário, uma moeda, suscitando o protesto daqueles da primeira hora. É claro que aquela moeda representa a vida eterna, dádiva que Deus reserva a todos. Aliás, precisamente aqueles que são considerados os “últimos”, se O aceitarem, serão os “primeiros”, enquanto os “primeiros” podem correr o risco de ser os “últimos”. Uma primeira mensagem desta parábola está no próprio fato de que o Senhor não tolera, por assim dizer, o desemprego: quer que todos estejam ocupados na sua vinha. E na realidade ser chamado é já a primeira recompensa: poder trabalhar na vinha do Senhor, pôr-se ao seu serviço, colaborar para a sua obra, constitui por si mesmo um prêmio inestimável, que recompensa todo o esforço. Mas só o compreende quem ama o Senhor e o seu Reino; pelo contrário, quem trabalha unicamente pelo salário nunca se dará conta do valor deste tesouro inestimável.

Trata-se de um patrão que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combina com eles uma moeda de prata por dia. Torna a sair pelas nove, pelo meio dia, pelas três da tarde e pelas cindo da tarde. Chegado o fim do dia, manda pagar a todos o mesmo salário, a começar pelos últimos. Os primeiros murmuraram, pensando que haviam de receber mais. O patrão mostra que não é injusto para com os primeiros, e defende o direito de fazer o bem. Por que o patrão age assim? A resposta está no fim: “Porque eu sou bom!” Jesus quer dizer que o modo de agir dele é cópia do modo de agir de Deus; Ele é bom e por isso eu também o sou. O dono se compadece de sua pobreza e por isso manda pagar uma diária inteira. A parábola não descreve um ato arbitrário, mas um gesto de uma pessoa cheia de bondade, generosa e de fina sensibilidade para com os pobres. Deus é assim! –  quis dizer Jesus; é tão bom que faz participar de seu Reino também os publicanos e pecadores.

Mas eis que logo aparecem os pensamentos do homem. Eles se manifestam murmurando contra os primeiros contratados.

Esses homens têm inveja da bondade de Deus; gostariam que fosse prerrogativa só sua e se escandalizam de que Deus ( e Jesus Cristo ) se mostre tão generoso com quem, segundo eles, não o merece. A parábola evangélica de hoje nasceu desta situação que se criou ao redor de Jesus de Nazaré: justificar a Boa-Nova do Reino das contínuas acusações dos adversários. Agindo assim, quanta luz de revelação irradiou a parábola: luz de como é Deus, luz para saber quem é Jesus Cristo, luz sobre como são feitos os homens.

Esta parábola pode aplicar-se ao povo judeu, que passou para o último lugar porque não reconheceu o dom de Deus. Depois chamou também os gentios. Todos são chamados com o mesmo direito a fazer parte do novo Povo de Deus, que é a Igreja. Para todos o convite é gratuito. Por isso, os Judeus, que foram chamados primeiro, não teriam razão ao murmurar contra Deus pela escolha dos últimos, que têm o mesmo prêmio: fazer parte do Seu Povo. À primeira vista, o protesto dos trabalhadores da primeira hora parece justo. E parece-o, porque não compreendeu que poder trabalhar na vinha do Senhor é um dom divino. Jesus deixa claro com a parábola que são diversos os caminhos pelos quais chama, mas que o prêmio é sempre o mesmo: o Céu!

Com esta parábola o Senhor não deseja dar-nos uma lição de moral salarial ou profissional, mas sublinhar que, no mundo da Graça, tudo é um puro dom, mesmo o que parece ser um direito que nos assiste pelas nossas boas obras.

Os que fomos chamados a diferentes horas para trabalhar na vinha do Senhor, só temos motivos de agradecimento. A chamada, em si mesma, já é uma honra. ”Não há ninguém, afirma São Bernardo, que, por pouco que reflita, não encontre em si mesmo poderosos motivos que o obriguem a mostrar-se agradecido a Deus. E especialmente nós, porque o Senhor nos escolheu para si e nos guardou para o servirmos somente a Ele”.
É imenso o trabalho na vinha do Senhor!

O patrão insiste com mais energia no seu convite: “Ide vós também para a minha vinha”.

Podemos ficar indiferentes diante de tantos que não conhecem a figura de Cristo? No campo do Senhor há trabalho para todos! Deus não chega nem demasiado cedo nem demasiado tarde às nossas vidas. O que Ele quer é que, a partir do momento em que nos visitou na sua misericórdia, nos sintamos verdadeiramente comprometidos a trabalhar na sua vinha, com todas as forças e com todo o entusiasmo, sem nos esquivarmos com promessas futuras, nem desanimarmos com o tempo perdido.

Não são gratas ao Senhor as queixas estéreis, que revelam falta de fé, ou mesmo um sentido negativo e cético do ambiente que nos rodeia. Esta é a vinha e este é o campo em que o Senhor quer que estejamos inseridos nessa sociedade que apresenta os seus valores e deficiências. É na nossa própria família, e não em outra, que devemos santificar-nos, e é essa família que devemos levar a Deus; e o trabalho que nos espera hoje, na Universidade ou no escritório, e não outro, que devemos converter em trabalho de Deus…Esta é a vinha do Senhor, onde Ele quer que trabalhemos sem falsas desculpas, sem saudosismos, sem exagerar as dificuldades, sem esperar oportunidades melhores.

Para levarmos a cabo este apostolado, temos todas as graças necessárias. É nisto que se fundamenta todo o nosso otimismo. Deus chama-me e envia-me como trabalhador para a sua vinha; chama-me e envia-me a trabalhar para o advento do seu Reino na história: esta vocação e missão pessoal define a dignidade e a responsabilidade de cada fiel leigo e constitui o ponto forte de toda a ação formativa.

O Senhor quer nos mostrar que no mundo da Graça não se podem fazer valer quaisquer direitos. É certo que o homem deve colaborar na sua salvação eterna, mas esta é um bem tão sublime que jamais deixa de ser um dom, até mesmo para as almas mais santas.

Deus pode chamar a qualquer hora e o homem deve estar sempre pronto para responder ao Seu chamamento. “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto Ele está perto” (Is 55,6). Continuemos o trabalho na vinha do Senhor! Rejeitemos o pessimismo e a tristeza, se alguma vez não obtemos o resultado que esperávamos.

“Não admitas o desalento no teu apostolado. Não fracassaste, como Jesus também não fracassou na Cruz.  Ânimo!  Continua contra a corrente, protegido pelo Coração Materno e Puríssimo de Nossa Senhora! Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza.

“Tranquilo. Sereno… Deus tem muito poucos amigos na terra. Não te esquives ao peso dos dias, ainda que às vezes se nos tornem muito longos” ( São  Josemaria Escrivá, Via Sacra, Xlll estação ).

Na Eucaristia que é celebrada, nos reunimos ao redor de Jesus agradecidos e humildes como aqueles últimos chegados da parábola que foram receber seu dinheiro e voltaram para casa cheios de alegria por causa da generosidade do dono. Aquele dinheiro é o Reino de Deus que Jesus traz consigo como presente: aliás, é Jesus em pessoa!

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