
Na abertura do ano letivo, o Seminário Diocesana Nossa Senhora do Amor Divino promoveu uma aula magna com o Padre Marcial Maçaneiro com o tema “Os desafios da esperança hoje, a partir da bula papal”. O encontro aconteceu no Auditório Dom Gilson Andrade com a presença do bispo diocesano, Dom Joel Portella Amado, do Vigário Geral da Diocese, Monsenhor José Maria Pereira e o reitor do Seminário, Padre Luiz Henrique Veridiano, representando toda direção da instituição.
Padre Marcial iniciou agradecendo o convite, destacando a importância de um ambiente acolhedor, como encontrou no Seminário Diocesano. Durante sua explanação, Padre Marcial abordou a esperança como um tema complexo e multifacetado, que liga a realidade humana ao projeto divino. Em um momento de sua fala, afirmou: “Sem generosidade, sem respeito pela história da geração anterior e pelo tempo do planeta, não há como ter esperança.”
Ele utilizou o Catecismo da Igreja Católica como base para suas reflexões, enfatizando que a esperança não é apenas uma virtude, mas uma força que nos sustenta. Para ajudar na compreensão sobre a força da Esperança como uma Virtude Teologal, Padre Marcial compartilhou uma história pessoal para ilustrar sua visão sobre esperança. “Minha mãe, dona Edith, de 81 anos, costuma guardar sementes para plantar no tempo certo. Minha sobrinha, Bruna, questionou essa prática, achando que minha mãe não veria os frutos. Eu expliquei a ela: ‘Bruna, a avó está plantando para ti, não para ela mesma.’ Isso se chama esperança. Ninguém esgota o sentido da vida numa geração.”

Padre Marcial citou São Paulo na Carta aos Romanos, destacando a frase “esperando contra tudo a esperança, esperou”. Ele ressaltou que a esperança é uma virtude teologal que nos faz desejar o reino dos céus e confiar nas promessas de Cristo.
– Uma frase que nos anima, de Paulo na Carta aos Romanos, falando sobre Abraão, que ‘esperando contra tudo a esperança, esperou’ (cf: Romanos 4, 18). É uma redação estranha, porque esperando na promessa de Deus, esperando na aliança, contra toda a possibilidade de esperança humana, esperou, ou melhor, caminhou. Esse tema volta na Carta aos Hebreus. Se alguém quiser ler uma carta sobre a esperança, pegue a Carta aos Hebreus e lá vai falar de Abraão, Moisés, os patriarcas, que foram ao deserto, que caminharam no projeto de Deus como se vissem o invisível, porque é aí que vemos a força da esperança, afirmou.
Ele também mencionou a importância da generosidade e do respeito pelo tempo das gerações e pela criação. “Se você não tem generosidade, não respeita o tempo das gerações e da criação, e não percebe esse horizonte, não há como ter esperança. Caímos numa trincheira do imediatismo, com medo do futuro, onde só cabe quem pensa igual, quem tem a mesma medida calculada. Entrincheiramo-nos, metralhamos o resto, temos medo, e até a fé, sem esperança, torna-se o quê? Uma redação, uma fórmula, geralmente violenta, que exclui quem não tem a mesma fórmula, que exclui os que não cabem mais na trincheira” afirmou.
Padre Marcial lembrou ainda algumas afirmações do Papa Bento XVI ditas quando rascunhava a encíclica ‘Spe salvi’. “Ele afirmava que, apesar da fé enquanto conteúdo, discurso e afirmação, entraríamos numa crise de esperança neste milênio, o que faria com que a fé de muitas pessoas se tornasse agressiva. Sem esperança, não há caminho para a caridade. A fé precisa de esperança para chegar à caridade. Por isso, as virtudes teologais trabalham juntas” ressaltou.

Padre Marcial destacou a oração do Pai Nosso como um resumo do que a esperança nos faz desejar. Ele explicou que essa oração traduz o reino de Deus em projetos de humanidade e convivência, trazendo a escatologia para a dimensão do cotidiano.
– A oração do Pai Nosso resume tudo o que a esperança nos faz desejar. Achei isso muito forte porque a oração do Pai Nosso, de fato, traduz o reino de Deus em projetos de humanidade, de vida, de convivência. Ela traz a escatologia dos novíssimos, lá do fim, para a dimensão do cotidiano, como algo que vivemos. Nos faz protagonistas: Faça-se a vossa vontade aqui na Terra também, não apenas no céu. Que o reino venha. Isso é muito importante porque a oração do Pai Nosso se torna a declaração de esperança de Jesus, junto com as bem-aventuranças. Isso é importante porque, se você vai nas definições do Catecismo, as primeiras linhas sobre a esperança ainda estão em um outro horizonte, no horizonte dos novíssimos, ou seja, da vida eterna, do pós-morte. E aí, é um texto bonito, mas ele, na verdade, não nos parece inspirar. Ele parece árido, dá a impressão de que todo esse texto só vai ter sentido depois que a gente morrer” comentou.
Partindo deste texto, Padre Marcial pergunta onde fica a esperança do fim do mês, das contas a pagar, da mulher grávida que precisa de assistência médica, de você que tem projetos para ser feliz e a cada ano adia por outras urgências?
Ele afirma que “o reino de Deus tem pressa de vir até nós. Então, quando lemos isso sem decodificar, dá a impressão de que o texto diz pouco. Porém, na sequência, aparecem aqueles endereços interessantes dos lugares da esperança, onde fazemos uma experiência da esperança. A esperança é a virtude teologal pela qual, desejamos o reino dos céus. O reino dos céus é uma forma bíblica bem respeitosa com a tradição judaica para dizer o reinado de Deus entre nós. Então, cuidado para não pensar que o texto está falando das nuvens para cima. Está falando das nuvens para baixo também, pelo nosso meio, onde o verbo se fez carne para ir do corpo que é a Igreja para humanidade. Pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no Espírito Santo. As promessas de Cristo no texto serão as petições do Pai Nosso e as bem-aventuranças” afirmou.
Em suas palavras finais, Padre Marcial enfatizou que a esperança é uma força que nos move e nos sustenta, mesmo nas situações mais desafiadoras. Ele concluiu sua palestra convidando a comunidade a refletir sobre suas próprias experiências de esperança durante o ano jubilar.
