Em Roma, fé e discernimento marcam o início de um novo tempo para a Igreja. No Colégio Cardinalício e entre o grupo de cardeais brasileiros reunidos para o conclave, que terá início no dia 7 de maio, está o arcebispo de Porto Alegre (RS), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), dom Jaime Cardeal Spengler. De Roma, ele compartilha com a Assessoria de Comunicação da arquidiocese de Porto Alegre (RS) suas impressões sobre este momento histórico.
Após participar dos ritos de despedida do Papa Francisco, dom Jaime relata o clima de oração e discernimento entre os cardeais e reflete sobre o legado do pontífice argentino, marcado — em sua visão — pela simplicidade. Na entrevista, ele também ressalta a importância de fontes confiáveis diante da avalanche de informações e deixa orientações pastorais às comunidades eclesiais do Brasil, que aguardam as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora. Confira a entrevista na íntegra concedida à Assessoria de Comunicação da arquidiocese de Porto Alegre (RS).
Como foi participar dos momentos de despedida do Papa Francisco?
Cardeal Spengler: Merece destaque especial à participação do povo. Ver a Praça totalmente tomada pela multidão foi um sinal claro de quanto ele era admirado e amado.
Se pudéssemos resumir os 12 anos de pontificado de Francisco em uma palavra, qual seria, em sua opinião?
Cardeal Spengler: Simplicidade!
Entre os diversos textos e mensagens deixados por Francisco, talvez a Exortação Apostólica C’est la Confiance, sobre a confiança no amor misericordioso de Deus, publicada por ocasião do 150º aniversário de nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, em 15 de outubro de 2023, seja uma das menos comentadas, mas bastante representativa neste momento de expectativa pela escolha de um novo Papa.
No número 24, por exemplo, lemos que a confiança plena nos liberta de “cálculos obsessivos, da preocupação constante com o futuro, dos medos que tiram a paz…” E a “poesia” descrita no número 52 parece muito apropriada ao contexto atual: “Num tempo que nos convida a fechar-nos em nossos próprios interesses, Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom (…) Num momento de complexidade, Teresinha pode ajudar-nos a redescobrir a simplicidade.” Como está a preparação dos cardeais para o conclave?
Há um ambiente de oração e diálogo muito interessante. Pode-se dizer que, até o momento, percebe-se o empenho de muitos em encontrar alguém que esteja à altura dos desafios do tempo presente.
Os meios de comunicação começam a abordar temas ligados ao catolicismo, por motivos óbvios. Análises de toda ordem, dados estatísticos, projeções… Redes sociais resgatando textos, vídeos e frases de Francisco. Em tempos de informações aceleradas, todo cuidado é pouco. Alguma recomendação nesse sentido?
Cardeal Spengler: Em primeiro lugar, é essencial cultivar um espírito de oração; pedir ao Espírito Santo que ilumine mentes e corações daqueles que têm a missão de escolher o novo Bispo de Roma. Em segundo lugar, não se deixar levar por comentários desautorizados; é preciso buscar sempre fontes fidedignas.
No Brasil, a 62ª Assembleia da CNBB, que começaria em 29 de abril, foi transferida para 2026. Na pauta, entre diversos assuntos, estava a definição das Diretrizes para a Ação Evangelizadora dos próximos anos. O que o senhor sugere às comunidades eclesiais enquanto as novas diretrizes não são definidas? Seria oportuno utilizar o Documento Final do Sínodo sobre a Igreja, comunhão, participação e missão?
Cardeal Spengler: O Documento Final do último Sínodo traz uma série de indicações valiosas para promover a comunhão, a participação e a missão na vida ordinária de nossas comunidades. Por isso, sua leitura e estudo — tanto individual quanto comunitário — pode ser de grande auxílio para que, mais adiante, possamos corresponder ainda melhor ao que as novas Diretrizes Gerais indicarão para toda a Igreja no Brasil.
Com informações da Assessoria de Comunicação da arquidiocese de Porto Alegre (RS)