Em Atos, 1, 1-11, S. Lucas apresenta rapidamente o final da vida de Jesus na terra as últimas instruções de Jesus sobre a vinda do Espírito Santo e sua subida aos céus. Lembra que após sua ressurreição apareceu várias vezes aos apóstolos e na última refeição pediu para irem para Jerusalém para esperar a vinda do Espírito Santo. “Depois vocês serão minhas testemunhas até os confins da terra.” E Jesus subiu aos céus… Aos apóstolos que ficavam olhando para os céus os anjos disseram: “da mesma forma como Ele subiu aos céus, um dia voltará.”
A primeira parte da missão de Cristo foi cumprida. Vai continuar presente no meio de nós por sua Igreja, por todos nós.
A Igreja Católica está presente em todos os lugares do mundo. Em muitos ela é ativa e transforma a vida das pessoas. Em outras uma parte é de fato missionária, apostólica, mas outra parte é de cristãos acomodados. Contentam-se com receber muitas graças para si, cuidam mal de seu crescimento e esquecem de ir ao encontro de outras pessoas.
Há cidades, aqui mesmo no Brasil, onde a fé católica está restrita a um grupo pequeno, enquanto a grande população vive alheia à mensagem de amor do Cristo.
Alguns cristãos têm um tesouro muito rico em suas mãos, e não sabem o que fazer com tanto presente.
Nossa Igreja desde os primeiros tempos tem se esforçado para manter a Palavra de Deus preservada de todo erro. Ela pode sempre nos dizer como Jeremias: tuas palavras eu as devorei, tornou-se o meu gozo e alegria para o meu coração (Jr 15, 16) ao profeta Ezequiel: come este rolo, alimenta-te dele. Vai e anuncia minhas palavras (Ez 3, 1s)
Com meios melhores ainda, esta Palavra de Deus está à mão para quem quiser lê-la, ouvi-la, conhecê-la. Alimentar-se dela.
Este tesouro tão precioso é diferente de tudo o que conhecemos de comunicação entre as pessoas. No momento em que meu olhar, meu pensamento, meu coração se envolvem com a Palavra de Deus, logo Deus está em comunicação direta comigo.
E entrando em contato com Cristo, fortalecendo-me com seus sacramentos, devo render-me à graça e à luz do amor de Deus para estar sempre com ele e aproveitar de todas as ocasiões para que outros possam também o conhecer e tomar contato com Ele.
Na carta aos Efésios, 1, 17-23, o apóstolo ora:” que Deus do Senhor Jesus, o Pai lhes dê sabedoria, abra seu coração à sua luz para compreender toda a esperança que os guia.” O Pai lhe deu todo poder, toda a autoridade pôs tudo debaixo de seus pés. Fez dele a cabeça de sua Igreja, que é seu corpo.
Jesus veio à nossa terra, fez-se homem, assumiu tudo o que nossa natureza recebeu do Criador para se realizar. Veio dar oportunidade de conhecermos mais de perto o plano de Deus sobre nossa vida humana. E passou por todas as situações fáceis e difíceis, para nos ensinar como viver bem e melhor. Como eu fiz, vocês devem fazer. (Jo 13,15)
Paulo fala de um dom de valor necessário à nossa existência e a tudo o que buscamos com esforço: a esperança. A Bíblia nos fala: Dele (de Deus) vem a minha esperança (Sl 62(61). É feliz de quem põe no Senhor sua esperança (Sl 146(145),5. Abraão esperou contra toda esperança (Rm 4,18) e em 8,24: É pela esperança que fomos salvos. Pelo Espírito aguardamos a esperança (Gl 5,5).
Pela Esperança confiamos na bondade, no poder, na fidelidade de Deus, esperando dele nossa eterna felicidade e os meios de consegui-la. A desconfiança ou a falta de confiança perturba nosso relacionamento com os outros. Confiar é o começo da aproximação das pessoas.
A desconfiança de Deus ou não confiar nele fecha todas as portas de nosso ser para o Bem maior. Que o Deus da esperança lhes dê toda a alegria e paz na vivência de sua fé, para que sejam muito ricos em esperança pela força do Espírito Santo (Rm 15,13). Pedro pedia aos cristãos que estivessem prontos para apresentar a razão de sua esperança (1Pd 3,15). A esperança cristã se mostra nos momentos tranquilos. Mas se manifesta mais forte e necessária nas horas de sofrimento. Para esses momentos Jesus alimenta nossa esperança: Vocês agora estão tristes. Mas eu vou tornar a vê-los. Seus corações se encherão de alegria (Jo 16,22).
Não é contradição: sofrimentos e alegrias?
Cristo não prometeu que não sofreríamos. Assegurou-nos serenidade fora do alcance dos homens. A esperança cristã só dele vem, de seu Espírito. Por que a esperança cristã tudo transforma? A esperança contra toda a esperança? (Rm 4,18). É a mesma de S. Paulo: Eu sei em quem acreditei (2Tm 1,12).
A esperança procede da fé, como a flor do caule da planta. A fé me assegura que Deus está presente em nós até o fim dos tempos. Está mais próximo do que tudo.
Em Lucas, 24, 46-53, No final de seu evangelho Jesus diz a seus discípulos: “Está escrito que Cristo sofrerá, mas vai ressuscitar dos mortos e em seu nome serão anunciados a conversão e o pecado de todos. Vocês vão ser testemunhas disso. Eu enviarei a vocês aquele que meu Pai prometeu.” Levou-os para fora de Betânia. Ali ergueu as mãos e os abençoou e foi subindo aos céus. E eles voltaram para Jerusalém com grande alegria. Estavam sempre no templo louvando a Deus.
Aqui S. Lucas nos fala do dia em que Cristo subiu os céus, deixando-os responsáveis para continuar sua missão com sua Igreja.
Quando Jesus nasceu, anjos de Deus desceram do céu e anunciaram aos pastores que o Salvador já estava na terra, (Lc 2, 9s). Agora ao se despedir de sua vida humana na terra anjos de Deus também vieram dizer aos apóstolos: por que estão olhando para os céus. Jesus que foi arrebatado para o céu, há de vir do mesmo modo como vocês o viram partir. (At 1, 19b)
A Ascensão de Jesus é início da missão da Igreja em seu nome, sendo Luz para as nações. Jesus volta para a casa do Pai, mas não se afasta, pois Ele se encontra no mais íntimo de cada pessoa, como fonte de água viva a todo aquele que dela desejar beber.
A Ascensão do Senhor é a coroação da sua Ressurreição, após as humilhações que sofreu no Calvário. É a volta ao Pai, por Ele anunciada.
Os discípulos como o povo no Antigo Testamento quando à glória do Senhor apareceu para todo o povo (Lv 9,23-24) reconhecem que Jesus realizou o Projeto do Pai, e por isso é digno de adoração. E a alegria dos discípulos é saberem que Jesus não lhes foi tirado, mas se manifestará no seu Espírito, fonte de sustentação para a caminhada dos cristãos.
Por que estão olhando para o Céu? Olhamos para o céu: – querendo esquecer nossos problemas; – buscando Deus para iluminar nossa vida; – para descobrir quanto Deus nos ama.
Para ver o céu deixemo-nos guiar pelo “espírito de sabedoria e luz”. Muitos ficam olhando para o céu, sem O terem visto. Outros vivem procurando Jesus na terra olhando em direção errada (buscam mais a si mesmos). S. Paulo diz que para “vermos” (gostar de estar com Deus) o céu, precisamos que o Pai ilumine os olhos de nosso coração.
O Céu não é um lugar um espaço que limita. O céu é o Amor de Deus em nós, experimentado na partilha e na união. O céu começa aqui, desde que Deus em Cristo veio fazer parte da história humana.
O céu vai além desta vida quando pela morte, entramos na eternidade de Deus. Para merecer este céu de felicidade, Jesus, ao se despedir, deu-nos a força do alto, para que aceitemos anunciar aos outros seu Reino de Amor e Paz, sua vida e ensinamentos.
O Céu é o Reino: onde Deus vive, mais que tudo e todos; presente em tudo(seu domínio) e em todos (por seu amor); onde podemos viver no hoje e agora; – para onde buscamos e desejamos ir amanhã.
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Monsenhor Paulo Daher
É natural de Salvador, Bahia, onde nasceu no dia 25 de julho de 1931, adotou Petrópolis por sua terra, onde exerceu várias funções como padre e atualmente era Vigário Geral. Em 1970, recebeu do Papa Paulo VI o título de Cônego e em 1980, o título de monsenhor do Papa João Paulo II.
Ordenado sacerdote em março de 1955, continuou em Roma até setembro do mesmo ano, quando retornou a Diocese. Ao chegar, iniciou seu ministério sacerdotal ajudando na Catedral. No ano seguinte, 1956, foi nomeado pelo Bispo, Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra para trabalhar no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino, onde ficou por 11 anos. No Seminário foi diretor espiritual e professor, contribuindo com a formação dos novos padres.
Em 1967, também por nomeação de Dom Cintra, assumiu como Pároco da Catedral, onde ficou por 19 anos. Durante este período desenvolveu vários trabalhos pastorais nas comunidades da paróquia e teve participação em outros movimentos e eventos na cidade, como no Grupo Ação, Justiça e Paz, onde foi eleito secretário no ano de 1979, deixando o cargo em março de 1980, quando foi eleita nova diretoria.
Monsenhor Paulo Daher durante toda sua vida sacerdotal exerceu com zelo todos os serviços que lhe foram confiados, mas sempre dedicou seu tempo e entusiasmo ao anúncio do Evangelho, através da orientação espiritual de diversas pastorais e movimentos, entre eles a Catequese, Pastoral Familiar, Equipes de Nossa Senhora, Renovação Carismática Católica, Legião de Maria e os fiéis, através da orientação espiritual e confissão.
Com total dedicação, monsenhor Paulo foi professor da Universidade Católica de Petrópolis durante mais de 30 anos e ainda nos últimos anos era orientador e capelão do Colégio Santa Isabel. Como Coordenador Diocesano das Pastorais, cargo que exerceu por muitos anos, monsenhor Paulo Daher teve um carinho especial na participação dos leigos, dando-lhes espaço e apoio para que possam exercer o serviço que lhes fora confiado.
Uma das preocupações de Monsenhor Paulo Daher é com a formação dos leigos, seja através da catequese ou cursos e encontros e para ajudá-los, escreveu diversos livros de formação teológica e catequese, mas com uma linguagem acessível a qualquer pessoa. Estes livros, com edições alternativas e limitadas são utilizados ainda hoje, principalmente na formação das catequistas.
Monsenhor Daher foi Administrador Diocesano, de janeiro a desembro de 2012 até a posse de Dom Gregório Paixão, OSV, no dia 16 de dezembro de 2012.
Uma de suas paixões foi a educação e por isso exerceu com total zelo o cargo de assessor eclesiástico da Pastoral da Educação, dedicando-se as escolas paroquiais. Nos últimos anos de sua vida, conseguiu realizar um de seus sonhos, criar uma escola de formação musical para as crianças e adolescentes das comunidades carentes de Petrópolis, alunos da rede pública de educação. A instituição ficou denominada Espaço Artístico Monsenhor Paulo Daher.
Monsenhor Paulo Daher faleceu em 30 de março de 2019