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Trabalho sem Oração!?

Monsenhor José Maria Pereira

O Evangelho (Mc 6, 30-34) recorda-nos que Deus é o Pastor da humanidade. Isto significa que Deus quer para nós a vida, quer guiar-nos para pastagens boas, onde podemos alimentar-nos e repousar; não quer que nos percamos e que morramos, mas que cheguemos à meta do nosso caminho que é precisamente a plenitude da vida. Jesus apresenta-se como Pastor das ovelhas perdidas da casa de Israel e mostra a sua preocupação pelos seus discípulos, cansados depois de uma missão apostólica pelas cidades e aldeias vizinhas. “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco’’, diz-lhes. E explica o Evangelista Marcos que eram tantos os que iam e vinham que não tinham tempo para comer. Então foram, numa barca, retiraram-se à parte, a um lugar deserto.
Vinde… e descansai um pouco, diz-nos o Mestre. No descanso, longe de centrarmos a atenção no nosso eu, também devemos procurar Cristo, porque o Amor não conhece férias. “ Em qualquer lugar para onde o homem se dirija, se não se apoia em Deus, sempre achará dor, adverte-nos Santo Agostinho: ao menos a dor de termos deixado o Senhor de lado.

Não devemos empregar os momentos de lazer em não fazer nada. “Sempre entendi o descanso como um afastar-se do acontecer diário, nunca como dias de ócio.  Descanso significa represar: acumular forças, ideais, planos…Em poucas palavras: mudar de ocupação, para voltar depois- com novos brios- aos afazeres habituais” (Sulco, n°514). Esse deve produzir um enriquecimento interior, consequência de se ter amado a Deus, de se ter cuidado com esmero da vida de piedade (oração, leitura bíblica, vida sacramental). “Quem se entrega a trabalhar por Cristo não há de ter um momento livre, porque o descanso não é não fazer nada; é distrair-se em atividades que exigem menos esforço” (Caminho, 357).

“Estar ocioso é coisa que não se compreende num homem com alma de apóstolo (Caminho, 358).

“Coloca um motivo sobrenatural na tua atividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho” (Caminho, 359).

Às vezes, muitos cristãos deixam sua vida espiritual de lado ao escolherem, imprudentemente, lugares de férias onde o ambiente moral se degradou de tal modo que um bom cristão não pode frequentá-los, se deseja ser coerente.

O Senhor poderia dizer a muitos: “Por que continuas a caminhar por estradas difíceis e penosas? O descanso não está onde tu procuras. Fazes bem em procurar o que procuras; mas deve saber que não está onde procuras. Procuras a vida feliz na região da morte. Não está ali! Como é possível que haja vida feliz onde nem sequer há vida?” (Santo Agostinho).

Cada domingo, somos enviados à missão; e também nós, como os discípulos, voltamos sempre de novo para junto de Jesus, a fim de contar a Ele o que fizemos e ensinamos. E com Jesus transformaremos a ação missionária em ação de graças. Faremos ressoar hoje a voz de Jesus: Eu vos dou graças, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, por tudo que realizastes na semana que passou.

O Evangelho nos mostra a necessidade de o evangelizador, o apóstolo, ficar a sós com Jesus, de retirar-se para um lugar solitário. Não é possível comunicar o que não se tem. Daí a necessidade dos momentos de oração, de um retiro espiritual. Jesus, após as atividades apostólicas, retirava-se para as montanhas, onde permanecia em oração durante a noite.

É impossível ter-se um apostolado fecundo sem estas pausas reparadoras aos pés do Mestre, destinadas a cobrar novas forças, não apenas físicas, mas sobretudo, espirituais. Pausa de oração e de atenção interior para aprofundar a palavra do Senhor e encarna-la, cada vez melhor, na própria vida.

Ensinou São Josemaría Escrivá: “… a tua vida de apóstolo vale o que valer a tua oração” (Caminho, 108).

São João Paulo II ao apresentar as metas pastorais para o século XXI, disse: “ Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para o qual deve tender todo caminho pastoral é a santidade. Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus mediante a inserção em Cristo e a habitação de seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial.

. Para esta pedagogia da Santidade, necessita-se um cristianismo que se destaque principalmente pela arte da oração. Empenhar-se com maior confiança numa pastoral que dê todo espaço à oração pessoal e comunitária significa respeitar um princípio essencial da visão cristã da vida: O primado da graça” (Novo Millennio  Ineunte, 30 e 32).

É importante observar que, quando Jesus se dirigiu numa barca com os seus para um lugar afastado, muitos o viram partir e foram para lá a pé, e chegaram antes que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão, porque estavam como ovelhas sem pastor, e começou a ensinar-lhes muitas coisas. Nem Jesus nem os seus discípulos puderam descansar naquele dia. O Senhor ensina-nos aqui com o seu exemplo que as necessidades dos outros estão por cima das nossas. Também nós, em tantas ocasiões do dia, teremos que deixar o descanso para outro momento porque há quem esteja à espera da nossa atenção e dos nossos cuidados. Façamo-lo com a alegria com que o Senhor se ocupou daquela multidão que precisava dEle, deixando de lado os planos que tinha feito. É bom exemplo de desprendimento que devemos aplicar às nossas vidas.

A exemplo do Mestre, saibamos nos retirar para estarmos a sós com o Pai, em oração. “Quem não avança, recua”, diz Santo Agostinho. A medida de como está nossa vida interior está no modo como fazemos nossos momentos de oração. A vida que levamos é uma tradução da oração que fazemos. Unidos ao Senhor pela oração sejamos os bons pastores que, cheios de zelo, cuidam para que as ovelhas não se percam.

Precisamos equilibrar ação e contemplação. Passar das tarefas do dia a dia ao diálogo secreto e regenerador com Deus. Aprender a descansar com Deus e em Deus. Pensar e pesar a vida com Ele e nEle. “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Delicadeza de Jesus para com os apóstolos. Convida para descansarem com Ele. Também a nós!

Maria, Mãe de Cristo nossa paz, interceda por nós!

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