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O Segredo da Felicidade

Monsenhor José Maria Pereira

O plano de salvação, apresentado hoje na segunda leitura (Ef. 1,3-14), pode servir, como ponto de partida, para a meditação sobre a Liturgia da Palavra. São Paulo remonta-se ao chamamento eterno dos crentes à salvação, abençoados em Cristo, eleitos “antes da criação do mundo”, predestinados por Deus a que nos tornássemos seus filhos”. Este grandioso desígnio de misericórdia realiza-se por meio de Cristo Jesus; o Seu sangue redime os homens do pecado e confere-lhes “a riqueza da Sua graça. Mas, exige também a colaboração de cada um: a fé e o empenho pessoal para ser, na caridade, santos e irrepreensíveis diante d’Ele.

Ninguém pode pensar que tal chamada à salvação e à santidade se esgote, atendendo apenas ao próprio bem pessoal; não seria, pois, santidade cristã, que se realiza na caridade de Cristo, que deu a vida para a redenção da humanidade inteira, e na caridade do Pai celestial que abraça todos os homens.

Paulo vai especificando cada uma das bênçãos ou benefícios que estão contidos no projeto (plano) eterno de Deus. A primeira destas bênçãos é a escolha, antes da criação do mundo, daqueles que iam fazer parte da Igreja.

A escolha tem como fim “sermos santos e imaculados na Sua presença”.

Com frequência S. Paulo chama aos cristãos “santos” (cf. Rm 1,7; 1 Cor 1,2; Fil. 1,1; Ef.5,26; etc.). São títulos que o cristão se transformou pelo Batismo. Ser santo não é vocação só de alguns. Fomos criados para sermos santos. Pelo Batismo, fomos feitos verdadeiros filhos de Deus e participantes da natureza divina. Com a ajuda divina, podemos conservar e aperfeiçoar essa santidade recebida. Somos santos por graça de Deus e nos cabe a responsabilidade de vivermos como convém a santos. Podemos ser santos na vida comum. Aí onde estão as nossas aspirações, nosso trabalho, nossos irmãos e amores, aí estão os lugares de encontro com Cristo. Em meio às realidades da vida neste mundo é onde devemos nos santificar. Deus nos espera cada dia em todo o imenso panorama do trabalho e da vida humana. Há que estar atento, como ensinou São Josemaria Escrivá: há algo de santo, de divino, de sobrenatural, escondido nas situações mais comuns da vida. Não há outro caminho; ou sabemos encontrar o Senhor na vida comum, ou não O encontraremos nunca.

Todos os batizados são chamados a viver a santidade, como consequência do que realmente são: santos e fiéis. A santidade, portanto, é um presente de Deus que exige, ao mesmo tempo, o empenho do homem para o conseguir e desenvolver. Assim ensina o Concílio Vaticano II: “É, pois, claro a todos, que os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano. Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos” (Lúmen Gentium, 40).

“A nossa missão de cristãos é proclamar a Realeza de Cristo; anunciá – la com a nossa palavra e com as nossas obras. O Senhor quer os Seus em todas as encruzilhadas da Terra. A alguns, chama-os ao deserto, desentendendo-se das inquietações da sociedade humana, para recordarem aos outros homens, com o seu testemunho, que existe Deus. Encomenda a outros o ministério sacerdotal. A grande maioria, o Senhor a quer no mundo, no meio das ocupações terrenas. Estes cristãos, portanto, devem levar Cristo a todos os ambientes em que se desenvolvem as tarefas humanas: à fábrica, ao laboratório, ao trabalho do campo, à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e às veredas da montanha” ( São Josemaria Escrivá, Cristo que passa, 105 ).

A santidade que recebemos é um dom gratuito de Deus, sem mérito algum de nossa parte, já que ainda não existíamos quando Deus nos escolheu. Comenta São Josemaria Escrivá: “Escolheu-nos antes da constituição do mundo, a fim de sermos santos. Eu sei que isto não te enche de orgulho, nem contribuiu para que te consideres superior aos outros homens. Essa escolha, raiz do teu chamamento, deve ser a base da tua humildade. Costuma levantar-se porventura algum monumento aos pincéis dum grande pintor? Serviram para fazer obras primas, mas o mérito é do artista. Nós – os cristãos – somos apenas instrumentos do Criador do mundo, do Redentor de todos os homens” (Cristo que passa,1).

Ao terminar o Jubileu do Ano 2000, São João Paulo II disse que: “espera-nos uma entusiasmante obra de retomada pastoral; uma obra que toca a todos”. E apontando para o Século XXI, afirma: “Como estímulo e orientação comum, desejo apontar algumas prioridades pastorais que a experiência do Grande Jubileu me fez ver com particular intensidade”. Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para o qual deve tender todo caminho pastoral é a santidade. Terminado o Jubileu, retoma-se o caminho comum; no entanto, apontar a santidade permanece mais que nunca uma urgência da pastoral.

Por sua vez, o dom se traduz num dever que deve dirigir toda a existência cristã: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4,3).

Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus mediante a inserção em Cristo e a habitação de seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: “Queres receber o Batismo ?” Significa ao mesmo tempo pedir-lhe: “Queres fazer-te santo?” Significa colocar em sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).

Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. É hora de repropor a todos, com convicção, esta medida alta da vida cristã habitual: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção. (Cf. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, nº 29-31).

Ensina Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, 31: “Precisamos de um espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor. Dessa forma, todos os momentos serão degraus no nosso caminho de santificação”.

Continua o Papa Francisco: “ Não tenhas medo da santidade. Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo. Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da Graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe apenas uma tristeza: a de não ser santo” (cf. números 32, 33 e 34 da referida Exortação Apostólica). Santificar-se na vida comum significa que os nossos sonhos e desilusões, sofrimentos, ambições e alegrias, nos nossos medos e dramas, fraqueza e pecado, são lugares e momentos para encontrar o Senhor, e que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece continuamente a verdadeira felicidade. A força virá dos Sacramentos, da Palavra de Deus, da oração.

Ainda S. Paulo nos diz: “Deus chamou-nos com uma vocação santa, não por causa das nossas obras, mas em virtude do seu desígnio” (2 TM 1,9).

Viver santamente a vida diária! É todo o programa da vida do cristão. Lembrar sempre: sou filho de Deus, posso e devo fazer obras, trabalho, descanso e diversão, conversas e atitudes de filho de Deus.

Façamos o teste: Queremos ser felizes, sejamos santos. Queremos ser mais felizes, sejamos mais santos. Queremos ser muito felizes, sejamos muito santos!

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