No sábado, 8 de março, memória de São João de Deus, a Fraternidade Franciscana Sagrado Coração de Jesus celebrou a missa de exéquias de Frei José Clemente Schafaschek, de 74 anos, falecido em decorrência de um severo AVC. Após a celebração, Frei Clemente foi sepultado no mausoléu dos frades, localizado ao lado do Cemitério Municipal de Petrópolis.
A missa foi presidida pelo bispo diocesano, Dom Joel Portella Amado, que, no início da celebração, destacou: “Nesta manhã, unimo-nos à família dos frades menores e à família de Frei Clemente para bendizer a Deus por tudo o que ele fez e semeou nos corações, sempre empenhado em levar o Senhor”. Ele frisou ainda que, mais do que a tristeza e a saudade, “que fique em nosso coração a esperança e a paz, porque a morte não tem a última palavra, mas sim a ressurreição”.
A missa de exéquias, celebrada na Igreja Sagrado Coração de Jesus, onde por muitos anos Frei Clemente ouviu confissões de inúmeros petropolitanos, foi concelebrada por sacerdotes diocesanos, frades menores e capuchinhos. O Vigário Provincial, Frei Gustavo Wyand Medella, da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, proferiu a homilia, agradecendo todo o trabalho realizado por Frei Clemente ao longo de sua vida religiosa e sacerdotal.
Na homilia, Frei Gustavo destacou a simplicidade, a discrição e a profunda conexão de Frei Clemente com a natureza e a espiritualidade franciscana. Ele comentou, ainda, que a despedida de Frei Clemente acontece no contexto das celebrações dos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas, poema escrito por São Francisco de Assis em louvor ao Criador e à diversidade da criação.
No poema, segundo Frei Gustavo, “Francisco ousa personificar a morte, enxergando-a não como inimiga, mas como irmã—uma presença que vem nos buscar e nos entregar, de forma misteriosa, aos braços de Deus. Essa mesma visão inspirou a caminhada de Frei Clemente, que agora retorna à eternidade, na certeza da ressurreição”.
Ao longo de sua trajetória, Frei Clemente conquistou a confiança de muitos fiéis como confessor. “Em uma época em que a arte da escuta se torna cada vez mais rara, ele sabia ouvir com paciência e dedicação aqueles que o procuravam em busca de orientação espiritual. Com seu jeito discreto, parecia até desejar ‘o dom da invisibilidade’, passando quase despercebido, mas sempre presente na vida daqueles que dele precisavam”.
Outro traço marcante da personalidade de Frei Clemente, segundo o Vigário Provincial, era sua profunda ligação com a natureza. Assim como São Francisco recomendava que se deixasse um pedaço de terra nos conventos sem cultivo, permitindo o crescimento livre das plantas e a presença dos insetos, Frei Clemente também preservava sua pequena área de contemplação. Em seu quarto, próximo ao morro do convento, não permitia que cortassem a vegetação diante de sua janela. Com o tempo, o mato quase adentrava seu espaço, mas ele acreditava que a natureza deveria permanecer livre, sem interferências.
Frei Clemente não gostava de celebrar na igreja matriz, preferindo sempre as comunidades menores. “Esse desejo de proximidade com o povo também se manifestava em outro hábito: caminhava longas distâncias. Era comum vê-lo com seu velho tênis, percorrendo trilhas pelo Vale dos Esquilos ou no alto da Mosela. Ele próprio se denominava um ‘marchador’, sempre imerso na contemplação silenciosa da criação”, relatou Frei Gustavo.
Falando sobre sua partida, o Vigário Provincial afirmou: “Agora, Frei Clemente inicia sua marcha definitiva para junto de Deus. Entre os fiéis, fica a gratidão pelo irmão que, em sua humildade, soube servir ao povo de Deus e à Ordem Franciscana com dedicação. Obrigado, Frei Clemente, por sua fraternidade, por suas peculiaridades, por sua forma singular de viver o Evangelho”, concluiu Frei Gustavo.
História
Frei José Clemente Schafaschek faleceu na sexta-feira, 7 de março, aos 74 anos, em Petrópolis, devido a um severo AVC sofrido no dia 26 de fevereiro, que provocou um edema cerebral grave. Desde então, Frei José Clemente precisou de auxílio mecânico para manter as funções básicas do organismo, permanecendo em estado de inconsciência.
Dados pessoais e formação
Nascimento: 15/03/1950 (74 anos de idade)
Naturalidade: Porto União, SC
Admissão ao Noviciado: 20/01/1972
Primeira Profissão: 20/01/1973 (52 anos de vida religiosa)
Profissão Solene: 02/08/1976
Ordenação Presbiteral: 31/12/1977 (47 anos de exercício do ministério presbiteral)
Atividade evangelizadora
- 1979-1984 – Fraternidade Nossa Senhora do Rosário (Concórdia, SC), como Vigário Paroquial.
- 1984-1985 – Fraternidade Nossa Senhora da Paz (Água Doce, SC), como Vigário Paroquial.
- 1986-1988 – Fraternidade Porciúncula de Santana (Niterói, RJ), como Vigário Paroquial.
- 1989-1994 – Fraternidade Nossa Senhora do Desterro (Quissamã, RJ), como Vigário Paroquial em Conceição de Macabu.
- 1995-2002 – Fraternidade Patrocínio de São José (Coronel Freitas, SC), como Vigário da Casa e Vigário Paroquial.
- 2003 – Fraternidade Nossa Senhora do Rosário (Concórdia, SC), em período sabático.
- 2004-2009 – Fraternidade Sagrado Coração de Jesus (Petrópolis, RJ), como Atendente Conventual.
- 2010-2012 – Fraternidade Nossa Senhora das Graças (Guaratinguetá, SP), como Atendente Conventual.
- 2013-2015 – Fraternidade São José (Guaratinguetá, SP), como Atendente Conventual.
- 2016-2025 – Fraternidade Sagrado Coração de Jesus (Petrópolis, RJ), como Vigário Paroquial.
Frei José Clemente era filho de trabalhadores do interior catarinense e o oitavo entre dez irmãos. Seus pais alimentavam uma fé profunda, que foi transmitida aos filhos. Sua vocação religiosa foi incentivada por seus irmãos catequistas, por amigos da família e também pelo fato de um de seus irmãos mais velhos ter estudado com os franciscanos.
Em certa ocasião, Frei Clemente definiu como uma das qualidades mais importantes de sua atuação religiosa a capacidade de penetrar no coração das pessoas e sentir vibrar o dom da vida, suas motivações, ajudando-as a direcionar esse vigor a Deus. Ele afirmava que isso lhe permitia sentir o pulsar da vida em cada criatura e, a partir disso, reconhecer o próprio sinal de Deus.
O velório será realizado na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus a partir das 15h30 de hoje. Neste sábado, às 7h, será celebrada a missa exequial e, na sequência, o sepultamento ocorrerá no Jazigo do Convento, próximo à igreja.