A Ética e as Culturas: Paralelos e Convergências

Pe. Anderson Alves

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Diversos estudiosos documentaram que seres humanos são capazes de descobrir princípios morais transculturais. Exemplos incluem C. S. Lewis, em “A abolição do Homem”, que percebeu a diferença de alguns princípios morais em culturas muito diversas, tais como a chinesa, a indiana, a cristã, a grega, a saxã, norueguesa etc. Ele lembrou também a conhecida convergência entre o Decálogo de Moisés e o Código de Hamurabi, rei da Babilônia antiga.

Lee Yeraly encontrou paralelos entre Santo Tomás de Aquino (século XIII) e o mestre confuciano Mengzi (séc. IV d.C.), especialmente em relação ao conceito de “virtude” (Mencius and Aquinas. Theories of Virtue and Conception of Courage, SUNY Press, New York, 1990).

Margaret Mead (Some antropological considerations concerning natural law, “Natural Law Forum”, 6, 1961, pp. 51-64) e Donald Brown (Human Universals, McGraw-Hill, New York, 1991) sugerem a existência de esquemas universais de comportamento subjacentes a todas as culturas. Por exemplo, normas morais contra o homicídio são universais. Archer e Gartner, ao comparar 110 sistemas legais, entre 1900 e 1970, encontraram convergências em como diferentes culturas tratam atos homicidas (Violence and Crime in Cross-National Perspective, Yale University Press, New Haven-London, 1984).

Haidt e Joseph afirmam: “os seres humanos criaram morais grandemente diferentes […]. Porém, se observamos atentamente às vidas cotidianas de pessoas de culturas diferentes, encontramos elementos morais que aparecem em quase todas, por exemplo, a reciprocidade, a lealdade, o respeito pela autoridade, o limite ao dano físico, o regulamento do comer e da atividade sexual” (Intuitive ethics: How innately prepared intuitions generate culturally variables virtutes, “Deadulus”, 133, 2004, p. 55).

Marc Hauser conduziu experimentos submetendo indivíduos de diferentes culturas a dilemas morais, encontrando uma convergência significativa nas respostas. Esses estudos indicam que, apesar das diferenças culturais, há uma base comum de princípios morais reconhecidos por todos (Menti morali).

Um documento da “Comissão Teológica Internacional” de 2009, “Em Busca de uma Ética Universal”, registra convergências éticas transculturais. Guglielmo Guariglia também observou que culturas protoculturais manifestam fortes vínculos morais, mostrando que esses princípios podem ser encontrados mesmo nas sociedades mais isoladas. Ele diz que pessoas de protoculturas atuais, dispersas em diversos lugares do globo, como o centro da África, a Ásia, a América do Sul, o extremo norte e nordeste da Terra, manifestam constantes culturais: “existem nelas fortes vínculos morais […]. É observação comum dos etnólogos que os primitivos das protoculturas são ‘verdadeiros no falar, honestos no respeito da propriedade dos outros, fiéis à palavra dada’” e tem uma consideração elevada sobre a vida. Segundo ele, nessas culturas “nós podemos reencontrar aqueles estados primordiais do desenvolvimento humano, que ressaem a tempos muito mais remotos dos que podemos alcançar com os dados das civilizações antigas chinesas, indianas ou egípcias e mesopotâmicas” (Il mondo spirituale dei primitivi, Pubblicazioni ISU Università Cattolica, Milano 1980-2007). Esses estudos parecem atestar que a humanidade tenha conhecido certa convergência dos diversos ethos sobre alguns bens e males.

A convergência de princípios morais em diversas culturas sugere a existência de uma moralidade transcultural, apoiando a ideia de um universalismo ético. Apesar das variações culturais, os seres humanos compartilham uma compreensão básica do bem e do mal.

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