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Mídias Digitais, Confiança e Extremismo – Pe. Anderson Alves

Manfred Spitzer, em “A epidemia do smartphone”, afirma que a confiança é parte essencial do “capital social” de uma comunidade. Desde o ponto de vista econômico, ela faz cair os custos de uma negociação, criando as condições para um desenvolvimento econômico saudável. A confiança é conquistada com muito esforço e exige um comportamento confiável reiterado. Ela permite que sejam desenvolvidos comportamentos previsíveis sobre a experiência de experiências anteriores e isso gera a virtude da confiabilidade e o aumento das riquezas.

Por outro lado, é necessário muito pouco para que a confiança na vida social seja perdida. Reconquistá-la leva muito tempo e exige muito esforço. A medida da confiança nas outras pessoas varia muito de acordo com os países, como foi mostrado por diversos economistas. A confiança de fundo, existente em uma sociedade, é fruto de muitas experiências singulares no âmbito social.

E o celular e as mídias digitais são elementos que fazem diminuir a confiança de fundo entre as pessoas de uma sociedade, algo essencial à vida econômica. De fato, cada vez que os pequenos encontros cotidianos com os outros, como o pedir informação na rua, o pagar o café no bar, o informar-se sobre alguma coisa ou sobre alguém, são substituídos pelo smartphone, isso provoca a perda de confiança no outro, algo que torna possível a nossa vida em comum.

Isso está relacionado com o atual fenômeno do extremismo. Todos os dias, o YouTube (e outros sites semelhantes) leva ao extremismo mais de um bilhão e meio de pessoas através da transmissão de mais de 800.000.000 de horas de vídeos que transmitem conteúdos cada vez mais radicais aos seus usuários. Isso depende do modelo de negócio que organiza a plataforma. Diversamente da televisão, onde vemos o que queremos ver, 80% dos conteúdos transmitidos pelo YouTube são propostos por algoritmos que recomendam os vídeos. Para que possamos permanecer “colados” na tela, são transmitidos vídeos automaticamente com um conteúdo sempre mais extremo. Começa-se, por exemplo, a buscar a palavra “corrida” e pouco depois nos é proposto vídeos sobre “ultramaratona”. Se alguém busca o termo “vegetariano”, logo verá vídeos sobre o conteúdo “vegano”.

A tendência à radicalização é evidente com os conteúdos políticos. A causa é a busca do lucro por parte da indústria publicitária. O YouTube pertence ao Google, cujo modelo de negócio consiste em vender material publicitário de acordo com o tempo que as pessoas passam diante das telas. Cada dia YouTube leva automaticamente as pessoas ao extremismo, o que, de certo modo, não é objetivo intencionalmente buscando, mas é, de qualquer modo, uma consequência inevitável do seu modelo de negócio.

Esse tipo de negócio lucra com a nossa dependência e causa a separação e a radicalização das pessoas. O que alguém vê, foi-lhe “selecionado” pelo algoritmo e talvez a pessoa pensará: “como é que meus amigos ou vizinhos não veem isso?”. De fato, não veem, porque o algoritmo pode indicar-lhes outro tipo de conteúdo e assim as pessoas já não entendem o que os outros pensam e não têm paciência de ouvir atentamente o que lhe dizem para depois refletir com calma. Por isso as pessoas se separam e os grupos vão ficando cada vez mais extremos. Isso consiste em um perigo real para nossa vida social e nossas democracias.

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