Entre 1 e 5 de maio de 2024, ocorreu o Flipetrópolis, o I Festival Literário Internacional de Petrópolis. Nesse evento houve uma mesa redonda em que foram convidados três professores petropolitanos, que trabalham na Universidade Católica de Petrópolis: o prof. Cleber Alves, do curso de Direito; a professora Cleia Zanatta, do programa de pós-graduação em Psicologia, e quem agora vos escreve, como professor do doutorado em educação e coordenador do curso de Filosofia daquela instituição.
A mesa foi uma das primeiras a serem confirmadas pela curadoria do evento, o que mostra o reconhecimento por parte dos organizadores de autores petropolitanos e pela UCP, que há mais de 70 anos trabalha pela educação e cultura na cidade de Petrópolis. A mesa redonda teve uma temática: “Educação, Cultura e Sentido de Vida: uma defesa da Dignidade Humana”. A ideia foi tratar desses temas, que são essenciais na atualidade, e são pesquisados pelos professores nas suas respectivas áreas de atuação: Direito, Psicologia, Educação e Filosofia. A mesa pode ser assistida no canal Youtube do evento, e é uma das mais vistas até agora (https://www.youtube.com/@Flipetropolis).
A mesa começou com o professor Cléber, que foi o seu mediador. Ele perguntou: qual seria a origem do conceito de pessoa e de dignidade humana no Ocidente? Como esses conceitos recuperados poderiam revigorar a educação e o direito atuais? Como o evento era um festival literário, respondemos a essas questões a partir de um texto, que agora divulgamos.
Em primeiro lugar, explicamos como apareceu o conceito de pessoa no Ocidente: ele surgiu com as discussões da teologia cristã de língua grega. Era necessário esclarecer o conceito para falar do mistério trinitário: em Deus há uma substância e três pessoas. E Jesus Cristo, o Filho de Deus, é uma só pessoa, que possui duas naturezas perfeitas: a humana e a divina. A teologia começou então a debater e a esclarecer os conceitos de substância, natureza e pessoa, conceitos que depois passariam para a filosofia e cultura ocidentais.
Antes da teologia cristã, na Grécia e na Roma pré-cristãs, havia um conceito frágil de pessoa. Na Grécia, pessoa era dita “prosopon”, que significava a máscara do teatro, que revelava os personagens e o seu estado emocional. A máscara, nos anfiteatros gregos, ao ar livre, amplificava a voz dos atores (seria como uma espécie de “autofalante” natural) e expressava também uma dignidade. Os atores, em geral, eram escravos que representavam deuses e heróis. Com isso, “prosopon” trazia a ideia de ter voz, ter uma dignidade, nobreza e excelência próprias.
Em Roma, “prosopon” foi traduzido por “persona”, e indicava quem responde por si, ou seja, quem tem voz. Diz respeito aos que têm direitos legais e pertencem à sociedade livre. “Persona” deriva de “per se sonans”, ou seja, soa por si mesmo, responde por si mesma; seria a “representante em matéria judiciária”, com direitos e deveres intrínsecos. Implica a ideia de liberdade e de responsabilidade, ou seja, capacidade de responder por si no julgamento. A pessoa tem direitos e deveres. Na Roma antiga, nem todos os seres humanos eram considerados “pessoas”, pois havia os escravos, que eram propriedade dos patrícios.