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Caridade na verdade: a técnica e regularização dos meios de comunicação social (I) – Pe. Anderson Alves

O capítulo sexto de Caritas in veritate trata o tema da técnica e a sua relação com o desenvolvimento dos povos. Recorda que o homem está sempre buscando um desenvolvimento, incluído o técnico. A técnica é, pois, obra de seres livres e responsáveis. Porém, a liberdade humana é originariamente caracterizada pelo nosso ser e pelos nossos limites. Ela não está submetida às transformações técnicas. A liberdade é senhora da técnica, e não sua escrava.

De modo que “ninguém plasma arbitrariamente a própria consciência, mas todos formam a própria personalidade sobre a base duma natureza que lhes foi dada. Não são apenas as outras pessoas que são indisponíveis; também nós não podemos dispor arbitrariamente de nós mesmos. O desenvolvimento da pessoa degrada-se, se ela pretende ser a única produtora de si mesma. De igual modo, degenera o desenvolvimento dos povos, se a humanidade pensa que se pode recriar valendo-se dos ‘prodígios’ da tecnologia” (n. 68).

O desenvolvimento tecnológico atual é tão grande que poderia induzir à ideia de autossuficiência da técnica. Nesse caso, o homem, “interrogando-se apenas sobre o como, deixa de considerar os muitos porquês pelos quais é impelido a agir” (n. 70). De forma que a técnica é ambígua. Nascida da criatividade humana como instrumento da liberdade, pode ser falsamente entendida como meio de afirmar uma liberdade absoluta. Cairia assim numa tentação prometeica, na chamada “mentalidade tecnicista”, que faz coincidir a verdade com o factível. Entretanto, “quando o único critério da verdade é a eficiência e a utilidade, o desenvolvimento acaba automaticamente negado” (n. 70).

Na verdade, segundo Bento XVI, “o verdadeiro desenvolvimento não consiste primariamente no fazer; a chave do desenvolvimento é uma inteligência capaz de pensar a técnica e de individualizar o sentido plenamente humano do agir do homem, no horizonte de sentido da pessoa vista na globalidade do seu ser” (n. 70). A técnica seduz o homem, porque o livra das limitações físicas e alarga o seu horizonte. Ele pode conhecer realidades a partir de um satélite, que está muito longe, e isso não deixa de ser admirável. Entretanto, “a liberdade humana só o é propriamente quando responde à sedução da técnica com decisões que sejam fruto de responsabilidade moral” (n. 70). De modo que surge “a urgência de uma formação para a responsabilidade ética no uso da técnica. A partir do fascínio que a técnica exerce sobre o ser humano, deve-se recuperar o verdadeiro sentido da liberdade, que não consiste no inebriamento de uma autonomia total, mas na resposta ao apelo do ser, a começar pelo ser que somos nós mesmos” (n. 70).

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