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Caridade na Verdade: a Origem da Atual Crise Econômica – Pe. Anderson Alves

Dissemos anteriormente que a Encíclica de Bento XVI, Caritas in veritate, foi muito bem recebida na sua época, especialmente no âmbito econômico. De fato, o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi, logo após da publicação daquele texto, disse que o Papa Bento XVI merecia o prêmio Nobel de Economia por ele ter relacionado a crise econômica europeia e norte-americana de 2008 – que perdura até a atualidade – com a queda da natalidade.

Esse senhor é economista e foi representante de um dos maiores grupos bancários do mundo. Numa entrevista de 2009 (23/09) ao jornal italiano Corriere dela sera disse que a publicação daquele documento era uma oportunidade não apenas de rever as regras econômicas e os problemas de governabilidade dos diversos países ocidentais, mas também de recordar a capacidade do instrumento econômico de realizar os seus maiores fins: a) usar os recursos disponíveis na natureza com o maior cuidado e eficácia; b) assegurar o mais oportuno e equilibrado crescimento econômico que permita um verdadeiro bem-estar global ao homem; c) assegurar a distribuição do bem-estar econômico a todos os homens. O Papa teria naquele documento esclarecido como ninguém o que o homem deve realizar em matéria econômica e por isso merecia o Nobel de economia.

Gotti Tedeschi afirmou que a maior parte dos analistas da crise econômica daqueles anos tinha reconhecido diversas causas da crise: uma expansão monetária exagerada, expansão do crédito, crescimento do consumo a débito etc. Entretanto, poucos perceberam a verdadeira origem do problema: a queda da natalidade nos EUA e Europa traz consigo graves consequências, tais quais o crescimento dos custos fixos, das taxas, a diminuição das economias familiares etc. De modo que muitos não quiseram tocar a origem da crise e apenas procuraram o aparente erro matemático. O tema da natalidade constitui uma espécie de “tabu”, um tema moral, “não científico”, não matemático e econômico, que poderia ser assim ignorado, tal como o continua sendo hoje em dia. Há pouco se mencionou o tema quando se revelou que a população da China começou a decair e isso trará profundas consequências econômicas para aquele país. Mas isso parece ser um problema distante de nós, que não nos afeta, de modo que pode continuar sendo silenciado.

Segundo Bento XVI, a economia moderna não pode funcionar sem as regras da solidariedade e da confiança. E Gotti Tedeschi disse que, efetivamente, a confiança é o recurso mais escasso na natureza, o mais precioso, que assegura vantagens únicas no mercado. Mas a confiança não é adquirida a partir dos estudos sobre o mercado ou de códigos éticos pendurados na entrada das empresas; ela é o fruto de uma conquista pessoal, que sempre tem repercussões coletivas. A confiança não é conquistado com leis e regras matemáticas. É adquirida a partir de uma vida ética autêntica. O comportamento ético produz a confiança e esse é outro ensinamento precioso da Encíclica de Bento XVI.

Na Encíclica, J. Ratzinger dizia o seguinte: “A concepção dos direitos e dos deveres no desenvolvimento deve ter em conta também as problemáticas ligadas com o crescimento demográfico. Trata-se de um aspecto muito importante do verdadeiro desenvolvimento, porque diz respeito aos valores irrenunciáveis da vida e da família. Considerar o aumento da população como a primeira causa do subdesenvolvimento é errado, inclusive do ponto de vista econômico” (n. 44).

Mais adiante, acrescentava: “A abertura moralmente responsável à vida é uma riqueza social e econômica. Grandes nações puderam sair da miséria, justamente graças ao grande número e às capacidades dos seus habitantes. Pelo contrário, nações outrora prósperas atravessam agora uma fase de incerteza e, em alguns casos, de declínio precisamente por causa da diminuição da natalidade, problema crucial para as sociedades de proeminente bem-estar. A diminuição dos nascimentos, situando-se por vezes abaixo do chamado ‘índice de substituição’, põe em crise também os sistemas de assistência social, aumenta os seus custos, contrai a acumulação de poupanças e, consequentemente, os recursos financeiros necessários para os investimentos, reduz a disponibilização de trabalhadores qualificados, restringe a reserva onde ir buscar os ‘cérebros’ para as necessidades da nação. Além disso, as famílias de pequena e, às vezes, pequeníssima dimensão correm o risco de empobrecer as relações sociais e de não garantir formas eficazes de solidariedade. São situações que apresentam sintomas de escassa confiança no futuro e de cansaço moral. Deste modo, torna-se uma necessidade social, e mesmo econômica, continuar a propor às novas gerações a beleza da família e do matrimónio, a correspondência de tais instituições às exigências mais profundas do coração e da dignidade da pessoa” (n. 44).

São ensinamentos que os governos e todos os cidadãos deveriam considerar e refletir com seriedade. O silêncio, a distração ou a falta de ponderação não irá trazer-nos nenhum benefício, muito menos às futuras gerações.

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