Como dissemos, M. Spitzer apresenta estudos, em “Die Smartphone Epidemie”, que demonstram que estar online isola os jovens. Um estudo realizado no início do ano 2017[1] examinou a relação entre a solidão e o uso das redes sociais, a partir de uma amostra de pessoas dos Estados Unidos. O grupo era composto por 1.787 adultos com a idade entre 19 e 32 anos. Foram medidos o tempo passado online, num total de 11 redes sociais – Facebook, Twitter, Google+, YouTube, LinkedIn, Instagram, Pinterest, Tumblr, Vini, Snapchat e Reddit – e a frequência com que os usuários se conectavam às redes. Tentou-se também quantificar a sensação de solidão, a partir de 4 perguntas feitas aos participantes da pesquisa. Os envolvidos na pesquisa foram subdivididos em 3 grupos, segundo a intensidade da solidão percebida: pouco (42%), moderadamente (31%) e muito (27%). Em média, todos os participantes passaram 61 minutos conectados às redes sociais por dia e as visitaram 30 vezes por semana. Apenas 58 pessoas, 3,2% delas, não usaram as redes sociais.
Ao considerar a quantificação da sensação de solidão por um lado e o uso das redes sociais por outro, foi estabelecida uma correlação evidente: os que passavam mais de 2 horas por dia nas redes sociais tinham o dobro de probabilidade de se sentirem sozinhos em relação aos que utilizavam menos de meia hora por dia. Não apenas a duração do uso das redes sociais, mas também o número de vezes que os usuários visitavam os sites apresentou o mesmo resultado: os que visitavam os sites de redes sociais mais de 58 vezes por semana tinham uma probabilidade mais que triplicada de se sentirem sozinhos em relação aos que visitavam menos de 9 vezes por semana. Foram inseridos na análise outros dados, tais como renda, instrução, idade e sexo dos participantes. Sempre emergiu a mesma correlação, evidente e estatisticamente significativa, entre o uso das redes sociais e a sensação de solidão.
Alguns poderiam objetar que as pessoas solitárias, infelizes ou com tendência à depressão fazem um uso mais frequente das redes sociais, como o Facebook. Portanto, a correlação não mostra que o uso das redes sociais provoca tristeza, depressão e isolamento, mas que pessoas nesses estados de ânimo buscam as redes com mais frequência. Para abordar essa possível interpretação dos dados, foram realizados estudos longitudinais e experimentais que não deixam dúvidas sobre a direção da relação encontrada. Um estudo longitudinal com 82 pessoas com cerca de 20 anos investigou a relação entre o uso do Facebook e o estado de bem-estar subjetivo de seus participantes[2]. No período de 2 semanas, os sujeitos foram contactados via SMS 5 vezes ao dia, em momentos aleatórios, para informarem seu estado geral de satisfação com a própria vida naquele momento. Perguntava-se também quantas vezes a pessoa tinha usado o Facebook desde a última mensagem da pesquisa.
Ao analisar o período seguinte ao uso do Facebook, constatou-se que o uso das redes sociais teve um impacto negativo sobre a sensação de bem-estar subjetivo dos seus usuários. Um efeito inverso – como o estado subjetivo negativo causando o aumento do uso do Facebook – não foi constatado. Ulteriores análises dos dados suplementares, colhidos mediante questionário, demonstraram claramente que o efeito encontrado não pode ser atribuído a outros fatores. Ou seja, é o uso de Facebook ou da internet que determina uma queda da sensação de bem-estar.
[1] B. A. Primack at al., Social media use and perceived social isolation among young adults in the U.S., in American Journal of Preventive Medicine, 53/1 (2017), pp. 1-8.
[2] E. Kroos, P. Verduyn, E. Demiralp, J. Park, D. S. Lee et al., Facebook use predicts declines in subjective well-being in young adults, in Plos One, 8/8 (2013).