Dissemos anteriormente que, segundo Bento XVI, “a abertura moralmente responsável à vida é uma riqueza social e econômica” (Caritas in veritate, n. 44). Ele relacionou explicitamente a crise econômica com a crise demográfica, que ocorre especialmente nos países ricos, mas afeta também o Brasil atual. Houve quem dissesse que o papa merecia o Nobel de Economia devido a esse ensinamento. O número 28 de Caritas in veritate trata um assunto relacionado com esses: o do respeito pela vida. Esse tema “não pode ser de modo algum separado das questões relativas ao desenvolvimento dos povos. Trata-se de um aspecto que, nos últimos tempos, está a assumir uma relevância sempre maior, obrigando-nos a alargar os conceitos de pobreza e subdesenvolvimento às questões relacionadas com o acolhimento da vida, sobretudo onde o mesmo é de várias maneiras impedido”.
O papa indica a pobreza atual não é simplesmente econômica, mas sobretudo moral, quando não se elabora políticas sociais que promovam a vida, mas sim o que João Paulo II chamava de “cultura da morte”. De fato, não é só a pobreza que provoca altas taxas de mortalidade infantil, “mas perduram também, em várias partes do mundo, práticas de controle demográfico por parte dos governos, que muitas vezes difundem a contracepção e chegam mesmo a impor o aborto. Nos países economicamente mais desenvolvidos, são muito difusas as legislações contrárias à vida, condicionando já o costume e a práxis e contribuindo para divulgar uma mentalidade antinatalista que muitas vezes se procura transmitir a outros Estados como se fosse um progresso cultural”.
Essa mentalidade de morte não provém apenas de governos e de Estados, mas também de “algumas organizações não governamentais”, que “trabalham ativamente pela difusão do aborto, promovendo nos países pobres a adopção da prática da esterilização, mesmo sem as mulheres o saberem. Além disso, há a fundada suspeita de que às vezes as próprias ajudas ao desenvolvimento sejam associadas com determinadas políticas de saúde que realmente implicam a imposição de um forte controle dos nascimentos”. É preocupante ainda as legislações a favor da eutanásia e as pressões de grupos que reivindicam o seu reconhecimento jurídico.
Segundo Caritas in veritate, a abertura à vida e a sua proteção legal, desde a concepção até a morte natural, é central para o verdadeiro desenvolvimento. Quando uma sociedade começa a suprimir a vida, acaba por perder as energias para trabalhar em vistas do autêntico bem do homem. “Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social”. Como diz o famoso Ditktum de Böckënforde, que foi muito discutido pelo pensamento político europeu, “o estado secular liberal vive de premissas que ele próprio não pode garantir”.
Por outro lado, a acolhida da vida revigora as energias morais de um país e torna os seus membros capazes de ajuda recíproca e de sacrifícios. De forma que, “os povos ricos, cultivando a abertura à vida, podem compreender melhor as necessidades dos países pobres, evitar o emprego de enormes recursos econômicos e intelectuais para satisfazer desejos egoístas dos próprios cidadãos e promover, ao invés, ações virtuosas na perspectiva duma produção moralmente sadia e solidária, no respeito do direito fundamental de cada povo e de cada pessoa à vida”.