Virtudes Universais e Experiências Humanas: Uma Visão Transcultural

Pe. Anderson Alves

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Marta Nussbaum e outros autores argumentam que há uma sintonia transcultural moral sobre certos bens morais, embora haja divergências na reflexão e teorização sobre esses bens. Essa sintonia se baseia em experiências fundacionais comuns a todos os seres humanos.

As virtudes são exercitadas em âmbitos de experiência tipicamente humanas e universais. A coragem, por exemplo, está relacionada ao comportamento diante de riscos, enquanto a temperança se refere aos prazeres humanos. Essas experiências transculturais são inerentes à natureza humana. Ela afirma: “as pessoas sabem tomar emprestadas ideias com certa eficácia: as ideias marxistas, que nasceram na biblioteca do British Museum, influenciaram o comportamento humano em Cuba, China, em Camboja […]. As ideias do cristianismo, que nasceram ao interno de uma seita do hebraísmo em uma pequena região da Ásia menor, influenciaram o comportamento humano em todas as regiões do globo, assim como influenciaram ideias do islamismo” (Diventare persone. Donne e universalità dei diritti, il Mulino, Bologna, 2001, p. 68).

As culturas são influenciadas por ideias de outras partes do mundo. Ideias marxistas e cristãs, por exemplo, tiveram impacto global, mostrando que as culturas não são compartimentos fechados. As virtudes podem ser emprestadas e adaptadas, demonstrando a capacidade humana de assimilar e integrar novas ideias.

Nussbaum participou de grupos de trabalho da ONU e constatou que, apesar das diferenças culturais, é possível discutir questões como fome e justiça distributiva de maneira eficaz. Ela diz: “quando nos sentamos à mesa com pessoas provenientes de outras partes do mundo para discutir sobre a fome ou a justiça distributiva ou, em geral, sobre qualidade de vida, percebe-se que, não obstante as evidentes diferenças conceituais, é possível proceder como se todos falassem do mesmo problema” (Virtù non-relative: un approccio aristotelico, in Mangini (a cura di), L’etica delle virtù e i suoi critici, pp. 199-200). Isso indica que, mesmo com divergências conceituais, há uma base comum que permite a comunicação e cooperação entre diferentes culturas.

Segundo o sociólogo P. Donati, “a cultura pode emergir somente pela relação, ou seja, é um produto relacional: a comunicação escrita e oral, ou seja, o som e o símbolo são tais não por emissão, mas por recepção” (La laicità in una società multiculturale: declinare le differenze con ‘la ragione relazionale’, in Id., Laicità, la ricerca dell’universale nelle differenze, il Mulino, Bologna, 2008, p. 159). Além disso, diz Siep: “o isolamento das culturas não é a norma, mas sim a exceção do desenvolvimento das culturas (Virtue, Values and Moral Objectivity, in C. Gill, Virtue, Norms and Objectivity. Issues in Ancient and Modern Ethics, Clarendon Press, Oxford, 2005, p. 94).

A sintonia moral transcultural evidencia que, apesar das variações culturais, há uma compreensão comum de certos princípios morais. Essa universalidade ética permite a cooperação e entendimento global, demonstrando a interconexão das experiências humanas fundamentais.

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