Uso do Dinheiro e a Salvação da Alma!

Dom José Maria Pereira

A Palavra de Deus estimula-nos a refletir sobre como deve ser a nossa relação com os bens materiais. A riqueza, mesmo sendo em si um bem, não deve ser considerada um bem absoluto. Sobretudo, não garante a salvação, aliás poderia até comprometê-la, seriamente. Precisamente, deste risco, Jesus, na página evangélica, de hoje (Lc 12, 13-21), adverte os seus discípulos. É sabedoria e virtude não apegar o coração aos bens deste mundo, porque, tudo é passageiro, tudo pode terminar, bruscamente. O verdadeiro tesouro que devemos procurar, incessantemente, para nós cristãos, está nas “coisas do alto, onde se encontra Cristo, sentado à direita do Pai” (Cl 3, 1-3).

Um homem vem a Jesus, pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois de responder que Ele não é juiz sobre a questão, Jesus adverte: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15). E conta a parábola do homem que acumulou riquezas e morreu logo em seguida (Lc. 12, 13-21). Jesus conclui: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.

O que é o mais importante? O que desejamos acima de tudo? De que vale ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

O Senhor ensina-nos que é uma insensatez colocar o coração, feito para a eternidade, na ânsia de riqueza e de bem estar material, porque, nem a felicidade, nem a vida, verdadeiramente humana, fundamentam-se neles: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens.” O rico da parábola revela o seu ideal de vida, no diálogo que trava consigo próprio. Está seguro de si, por ter muitos bens e por basear neles a sua estabilidade e felicidade. Viver é, para ele, como para tantas pessoas, desfrutar do máximo que puder: trabalhar pouco, comer, beber, ter uma vida cômoda, dispor de reservas para longos anos. Este é o seu ideal.

E como dar segurança a uma vida construída a partir desse sentido puramente material dos dias? Diz: Armazenarei…No entanto, tudo o que não se constrói sobre Deus está falsamente construído. A segurança que os bens materiais podem dar é frágil e, além disso, insuficiente, porque, só Deus pode nos tornar plenamente felizes. A fonte da vida está só em Deus.

Podemos perguntar-nos, hoje: onde está o nosso coração? Em que se ocupa? Com que se preocupa? Com que se alegra ou com que se entristece? Daí ter mais consciência de que o nosso destino definitivo é o Céu, e que, se não o alcançarmos, nada, de nada, terá valido a pena.

Onde está o nosso coração? Somos livres? Vale refletir sobre o ensinamento do grande Doutor da Igreja, São João Crisóstomo: “Para o guloso, seu deus é o ventre; para o sensual, seu tesouro é a impureza: cada um escravo do que lhe venceu. Tem seu coração onde tem o seu tesouro”.

A nossa passagem pela terra é um tempo para merecer; foi o próprio Senhor que nos deu esse tempo. Recorda-nos a Bíblia que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13, 14). O Senhor virá chamar-nos, pedir-nos contas dos bens que nos deixou, em depósito, para que os administrássemos, criteriosamente: a inteligência, a saúde, os bens materiais, a capacidade de amizade, a possibilidade de tornar felizes os que temos à nossa volta… O Senhor virá uma só vez, talvez, quando menos O esperamos, como o ladrão na noite (Mt 25, 43), como um relâmpago no Céu (Mt 24, 27), e é preciso que nos encontre bem preparados. Quem vive só para os bens materiais, Deus o chama de néscio, louco! Não podemos nos esquecer que os bens são simples meios para alcançarmos a meta que o Senhor nos marcou. Nunca devem ser o fim dos nossos dias aqui na terra. Dizia Santo Agostinho: “Os bens devem ser usados, segundo as necessidades e os deveres de cada um, com a moderação de quem os usa e não como quem os valoriza demasiado e se vê arrastado por eles”.

“Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida’” (Lc 12, 20). O tempo é escasso: esta mesma noite…, e, talvez, nós estejamos pensando em muitos anos, como se a nossa passagem pela terra houvesse de durar para sempre! Os nossos dias estão numerados e contados; estamos nas mãos de Deus. Dentro de algum tempo – que nunca será tão longo como quereríamos –, encontrar-nos-emos face a face com o Senhor. Na Bíblia, o homem insensato é aquele que não quer compreender, da experiência das coisas visíveis, que nada dura para sempre, mas tudo passa: tanto a juventude, como a força física, quer as comodidades, quer as funções de poder. Por conseguinte, fazer depender a própria vida de realidades tão passageiras é insensatez.

Por sua vez, o homem, que confia no Senhor, não tem medo das adversidades da vida, nem sequer da realidade iniludível da morte: é o homem que adquiriu “um coração sábio”, como os Santos.

Meditar sobre o nosso fim, o encontro definitivo com Deus, ajuda-nos a aproveitar todas as circunstâncias desta vida, para merecer e reparar pelos pecados, recuperando o tempo perdido. “Quem vive como se tivesse de morrer cada dia – visto que é incerta nossa vida por natureza – não pecará, já que o bom temor extingue grande parte da desordem dos apetites; pelo contrário, quem julga que vai ter uma vida longa, facilmente se deixa dominar pelos prazeres” (Santo Atanásio).

A insensatez do homem rico consiste em que considerou a posse de bens materiais como o único fim da sua existência e a garantia da sua segurança. É legítima a aspiração do homem a possuir o necessário para a sua vida e o seu desenvolvimento, mas ter como bem absoluto a posse de bens materiais acaba por destruir o homem e a sociedade.

O cristão não pode desprezar ou depreciar a existência temporal, pois toda ela deve servir como preparação para a sua existência definitiva com Deus no Céu. Só quem se torna rico diante de Deus, quem acumula tesouros que Deus reconhece como tais é que tira proveito certo destes dias terrenos. Fora isso, o resto é viver de enganos: “O homem passa como uma sombra, apenas sopro das riquezas que amontoa, sem saber para quem” (Sl 39 (38), 7).

Nosso Senhor avisa: Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida não consiste, na abundância de bens. Mais ainda: chama de louco o que acumula tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.

A consideração da morte ensina-nos, também, a aproveitar bem os dias, pois, o tempo que temos, pela frente, não é muito longo. “Este mundo, meus filhos, escapa-nos das mãos. Não podemos perder o tempo, que é curto. Compreendo muito bem aquela exclamação de S. Paulo a Corinto: “O tempo é breve, como é breve a duração da nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, essas palavras ressoam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura perante a falta de generosidade, e como um convite constante para que seja leal. Verdadeiramente, é curto o nosso tempo, para amar, para dar, para desagravar” (São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 39 ).

Aproveitemos bem, muito bem, cada instante de nossa existência!

A meditação das verdades eternas é uma ajuda eficaz para darmos à nossa vida o seu verdadeiro sentido.

A Virgem Maria, que mais do que qualquer outra criatura participou no Mistério de Cristo,  ampare-nos no nosso caminho de fé para que, “trabalhando com as nossas forças para submeter a terra não nos deixemos dominar pela avidez e pelo egoísmo, mas procuremos sempre o que é válido aos olhos de Deus”.

Parabéns, Irmãos Presbíteros! Nesse final de semana celebramos o Dia do Padre!

Meditemos as palavras do Papa Leão XlV: “Deixai-vos atrair, ainda, pelo chamamento do Mestre, para sentir e viver o amor da primeira hora, aquele que vos impeliu a fazer escolhas fortes e renúncias corajosas. Não vos esqueçam: um sacerdote santo faz florescer, à sua volta, a santidade!”

No Ano Jubilar, ao iniciarmos o Mês Vocacional, vale a pena meditarmos no tema do mês:

Peregrinos porque chamados, e o lema: A esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5).

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