O Evangelho (Mc 1, 29-39) apresenta-nos Jesus que cura os doentes: em primeiro lugar a sogra de Simão Pedro, que estava de cama com febre e Ele, tomando-a pela mão, curou-a e fez erguer-se; depois, todos os enfermos de Cafarnaum, provados no corpo, na mente e no espírito, e Ele “curou muitos… e expulsou numerosos demônios” (Mc 1,34). Mas se, por um lado, Ele se dedica a curar, por outro retira-se para um lugar deserto. E ali orava durante a noite. Ação apostólica e oração se completam. Pedro e seus companheiros o procuram. Quando O encontraram, dizem-lhe: “Todos Te procuram”. A verdadeira luz deve ser procurada em Deus, sobretudo através da oração.
Falando à Obra Pontifícia Rede Mundial de Oração, no dia 26 de janeiro de 2024, recordou o Papa Francisco: “ no trabalho apostólico de um fiel, de um diácono, de um sacerdote, de uma pessoa consagrada, de um bispo, se bem realizado, sente-se fortemente a necessidade de oração, de intercessão”, e sublinhou: “A ação por si só, embora apostólica, sem oração, é uma questão de negócios. O que dá sentido ao apostolado é a oração”.
Os quatro Evangelistas ( Mateus, Marcos, Lucas e João) testemunham, de maneira concorde, que a libertação de doenças e enfermidades de todos os tipos constituiu, juntamente com a pregação, a principal atividade de Jesus na vida pública. Com efeito, as doenças são um sinal da obra do Mal no mundo e no homem, enquanto as curas demonstram que o Reino de Deus, o próprio Deus, está próximo. Jesus Cristo veio para derrotar o Mal pela raiz, e as curas constituem uma antecipação da sua vitória, alcançada com a sua Morte e Ressurreição.
Um dia, Jesus disse: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos” (Mc 2, 17). Naquela circunstância, referia-se aos pecadores, que Ele veio chamar e salvar. No entanto, permanece verdade que a doença é uma condição tipicamente humana, na qual experimentamos em grande medida que não somos autossuficientes, mas temos necessidade dos outros.
Vimos que Jesus vai à casa de Simão Pedro e André e encontra a sogra de Pedro doente, com febre; toma – a pela mão, ajuda – a a levantar – se e a mulher fica curada e começa a servir. Neste episódio, sobressai, simbolicamente, toda a missão de Jesus. Jesus, vindo do Pai, vai à casa da humanidade, na nossa terra, e encontra uma humanidade doente, doente com febre, com aquela febre que são as ideologias, as idolatrias, o esquecimento de Deus. O Senhor dá – nos a sua mão, levanta – nos e cura – nos. E faz isto em todos os séculos; pega – nos pela mão com a sua Palavra, e assim dissipa a obscuridade das ideologias, das idolatrias. Toma a nossa mão nos Sacramentos, cura – nos da febre das nossas paixões e dos nossos pecados mediante a absolvição no Sacramento da Reconciliação (Confissão). Dá – nos a capacidade de nos erguermos, de estarmos de pé diante de Deus e diante dos homens. Jesus dorme na casa de Pedro, mas de madrugada quando ainda está escuro, levanta – se e sai à procura de um lugar deserto para rezar (Mc 1, 35). Surge aqui o verdadeiro centro do Mistério de Jesus: Jesus fala com o Pai! Esta é a fonte e o centro de todas as atividades de Jesus; vemos a sua pregação, as curas, os milagres e, por fim, a Paixão; saem deste centro, do seu ser com o Pai. E, desta forma, este Evangelho ensina – nos o centro da fé e da nossa vida, isto é, a primazia de Deus. Onde Deus não está, o homem deixa de ser respeitado. Só quando o esplendor de Deus resplandece no rosto do homem, o homem, imagem de Deus, é protegido por uma dignidade que depois ninguém pode violar.
O Reino de Deus é o centro do seu anúncio, isto é, Deus como fonte e centro da nossa vida, diz – nos: só Deus é a redenção do homem. E podemos ver na história do século passado, como nos Estados onde Deus tinha sido abolido, não só a economia foi destruída, mas, sobretudo as almas.
As destruições morais, as destruições da dignidade do homem, são as destruições fundamentais e a renovação só pode vir do regresso de Deus, isto é, do reconhecimento da centralidade de Deus. Só quando primeiro há a Palavra de Deus, só quando o homem está reconciliado com Deus, é que as coisas materiais podem correr bem.
Os apóstolos dizem a Jesus: volta, todos te procuram. E Ele responde: não, devo ir a outros lugares para anunciar Deus e para afastar os demônios, as forças do mal; foi para isto que vim. Jesus veio – está escrito: “saí do Pai – não para trazer os confortos da vida, mas para trazer a condição fundamental da nossa dignidade, para nos trazer o anúncio de Deus, a presença de Deus e, desta forma, vencer as forças do mal. Ele indica esta prioridade com grande clareza: não vim curar – faço também isto, mas como sinal – mas vim para vos reconciliar com Deus. É sobretudo a Ele que nos devemos dirigir.
Quando os apóstolos disseram: “Todos andam à Tua Procura; o Senhor respondeu-lhes: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar, também ali, pois foi para isso que eu vim” (Mc 1, 38).
A missão de Cristo é evangelizar, levar a Boa Nova até o último recanto da terra, através dos Apóstolos e dos cristãos de todos os tempos. Esta é a missão da Igreja, que assim cumpre o que o Senhor lhe ordenou: “Ide e pregai a todos os povos…, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28, 19-20).
São Paulo, citando o Profeta Isaías, exclama com entusiasmo: “Como são formosos os pés dos que anunciam a Boa Nova!” (Rm 10, 15). Continua S. Paulo: “Porque, pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória, mas uma necessidade. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (1 Cor 9, 16).
Com essas mesmas palavras de S. Paulo, a Igreja tem recordado, com freqüência, aos fiéis a chamada que o Senhor lhes dirige para levarem a doutrina de Cristo a todos os cantos do mundo, aproveitando qualquer ocasião.
São João Crisóstomo vai ao encontro das possíveis desculpas perante a obrigação de evangelizar: “Não há nada mais frio do que um cristão que não se preocupa pela salvação dos outros. Não digas: não posso ajudá-los, porque, se és cristão de verdade, é impossível que não o possas fazer. Não há maneira de negar as propriedades das coisas naturais; o mesmo acontece com isto que agora afirmamos, pois está na natureza do cristão agir dessa forma. É mais fácil o sol deixar de iluminar ou de aquecer do que um cristão deixar de dar luz; mais fácil do que isso seria que a luz fosse trevas. Não digas que é impossível; impossível é o contrário. Se orientarmos bem a nossa conduta, o resto sairá como consequência natural. Não se pode ocultar a luz dos cristãos, não se pode ocultar uma lâmpada que brilha tanto”.
Perguntemo-nos se no nosso ambiente, no lugar onde vivemos e onde trabalhamos, somos verdadeiros transmissores da fé, se levamos os nossos amigos a uma maior frequência dos Sacramentos. Examinemos se encaramos a ação apostólica como algo urgente, como exigência da nossa vocação, se sentimos a mesma responsabilidade daqueles primeiros, pois a necessidade hoje não é menor… “Ai de mim se não evangelizar!
O mundo precisa de santos! A santidade não é um privilégio de poucos; é um dom oferecido a todos: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4,3).
Na pregação não se pode querer agradar a todos reduzindo, de acordo com as conveniências humanas, as exigências do Evangelho: ” Falamos, não como quem procura agradar aos homens, mas somente a Deus” (1Ts 2, 4).
Não é bom caminho pretender tornar fácil o Evangelho, silenciando ou rebaixando os mistérios que devem ser cridos e as normas de conduta que devem ser vividas. Ninguém pregou, nem pregará o Evangelho com maior credibilidade, energia e atrativo que Jesus Cristo, e houve quem não o seguisse fielmente. Não podemos esquecer-nos de que pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas poder de Deus para os escolhidos, quer judeus, quer gregos” (1 Cor 1, 23-24).
Todos andam à Tua procura… O mundo tem fome e sede de Deus. Diz o Doc. de Aparecida, nº 29: “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”.
A obra de salvação, iniciada por Cristo, está ainda em ação e, para que se perpetue até ao fim do mundo, deixou à Igreja a incumbência de a levar a cabo e, na Igreja, a todo o crente. São Paulo, muito sensibilizado com esse dever, e nele fortemente empenhado, declarava aos Coríntios:
“Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho!” (1Cor 9,16). Todo o cristão que teve o privilégio de ter recebido o Evangelho, deve sentir – se responsável dele perante os que não tiveram esse dom, e comunica – Lo na medida do possível. O que já está na órbita da salvação, não pode olhar com indiferença para os que ainda não estão; está obrigado a arrastar consigo o maior número possível de irmãos. Graças à ação do Espírito Santo, a obra de Jesus prolonga-se na missão da Igreja. Mediante os Sacramentos é Cristo que comunica a sua vida a multidões de irmãos e irmãs, enquanto cura e conforta numerosos doentes! É verdade: quantos cristãos – sacerdotes, religiosos e leigos – em todas as partes do mundo emprestaram e continuam a emprestar as suas mãos, os seus olhos e os seus corações a Cristo, verdadeiro médico dos corpos e das almas! Rezemos por todos os doentes, especialmente por aqueles mais graves, que não podem, de modo algum, ocupar-se de si mesmos, mas dependem totalmente dos cuidados do próximo: possa cada um deles experimentar, na solicitude de quem lhe está próximo, o poder do amor de Deus e a riqueza da sua Graça que salva. Maria, Saúde dos Enfermos, rogai por nós!