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Transformações Culturais na Era Digital: Do “Nós” ao “Eu”

Pe. Anderson Alves

As mídias digitais, especialmente as redes sociais, têm causado profundas mudanças nos comportamentos, atitudes e hábitos das pessoas. Esta transformação também se reflete nos produtos culturais, como livros, canções, programas de TV, filmes e séries. Pesquisas recentes confirmam essa tendência.

Ferramentas estatísticas modernas, como a função Ngram do Google, permitem analisar grandes quantidades de textos que uma pessoa não conseguiria ler sozinha. Em um estudo, pesquisadores examinaram cinco milhões de livros para identificar a frequência de palavras ou frases específicas ao longo do tempo. Os pesquisadores analisaram as palavras “eu” e “nós” entre 1960 e 2008, um período de transição entre as gerações baby boomers e millennials. O uso da palavra “nós” diminuiu 10%, enquanto o uso da palavra “eu” aumentou 42%. Esse dado revela uma mudança significativa do foco coletivo para o individual .

Além disso, outros estudiosos buscaram, em um estudo semelhante, frases com um máximo de cinco palavras para avaliar o grau de individualidade e comunidade. Entre as 20 frases mais frequentes de caráter individualista estavam “all about me”, “focus on the self” e “I am special”. Já as frases de significado comunitário incluíam “permanecer unidos”, “espírito comunitário” e “a união faz a força”. Enquanto as frases individualistas aumentaram significativamente, as de sentido comunitário não tiveram mudanças relevantes. Os autores do estudo concluíram que a cultura norte-americana, a partir de 1960, foi fortemente marcada por conceitos individualistas. O uso da linguagem nos livros reflete o ethos cultural dominante, que valoriza cada vez mais a atenção sobre si mesmo e a unicidade .

O narcisismo se manifesta de várias formas na sociedade moderna. Dados indicam que 90% dos jovens adultos americanos se dizem favoráveis às atividades de voluntariado. No entanto, mais da metade prefere ver TV ou passar o tempo com amigos a participar de atividades benéficas. Os jovens entre 18 e 25 anos são os que menos praticam a beneficência em comparação com outras faixas etárias.

Além disso, os estudantes dessa geração estão mais interessados em obter seus títulos com o mínimo de esforço possível. Na sociedade atual, o que importa é o resultado, não os meios para alcançá-lo. O modelo universitário tradicional, em que estudantes e professores buscavam a verdade movidos pelo desejo de conhecimento, foi substituído por uma abordagem mais utilitarista: “Eu paguei, agora você deve me dar minhas notas e meu diploma” .

Essas mudanças culturais revelam uma sociedade cada vez mais centrada no individualismo, refletida tanto nos comportamentos cotidianos quanto nos produtos culturais. A análise estatística de textos literários e a observação dos hábitos contemporâneos confirmam essa tendência, destacando a necessidade de uma reflexão crítica sobre os impactos das mídias digitais e a valorização do coletivo em detrimento do individualismo exacerbado.

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