A Palavra de Deus, em Jo 6, 1– 15, mostra-nos Jesus, num lugar afastado, junto ao lago de Genesaré, no meio de uma multidão de povos provenientes das cidades vizinhas. Eram, aproximadamente, cerca de cinco mil homens (Jo 6, 10). E, enquanto o Senhor falava, ninguém pensou no cansaço, nem nas horas que tinham passado sem comer, nem na falta de provisões e na impossibilidade de obtê-las. As palavras de Jesus tinham cativado a todos, e ninguém se lembrou da fome nem da hora de regressar. Mas, Jesus compreende nossas necessidades materiais, e, por isso, compadeceu-se também dos corpos exaustos daqueles que o tinham seguido. E realiza o esplêndido milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.
No milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, existe um detalhe muito importante. Diz o evangelista que Jesus sabia muito bem o que ia fazer. Mesmo assim pergunta, desperta o interesse e o espírito de colaboração. Ninguém duvida que Jesus poderia ter feito o milagre a partir do nada, sem usar os cinco pães e os dois peixes. Porém quis contar com a colaboração de alguém. Eis o detalhe: Deus conta com os seres humanos, conta conosco. Conta conosco também e especialmente para a nossa salvação e a de nossos irmãos.
Depois de mandar que se sentassem na relva, Jesus, tomando os cinco pães e os dois peixes, levantando os olhos ao Céu, pronunciou a bênção e, partindo os pães deu-os aos discípulos e os discípulos às multidões. Todos comeram até ficarem saciados. O Senhor cuida dos seus, dos que O seguem!
O relato do Milagre começa com as mesmas palavras e descreve os mesmos gestos com que os Evangelhos e São Paulo nos transmitem a instituição da Eucaristia (Mt 26, 26; Mc 14, 22; Lc 22, 19; 1Cor 11, 25). Esse milagre, além de ser uma manifestação da misericórdia divina de Jesus para com os necessitados, era figura da Sagrada Eucaristia, da qual o Senhor falaria pouco depois, na sinagoga de Cafarnaum (Jo 6, 26 – 59). Assim o interpretaram muitos Padres da Igreja. O olhar orienta -se para a Eucaristia, o perpetuar- se deste dom: Cristo faz – se Pão de Vida para os homens. Santo Agostinho comenta assim: “Quem, a não ser Cristo, é o Pão do Céu? Mas para que o homem pudesse comer o Pão dos Anjos, o Senhor dos anjos fez-se homem. Se isto não se tivesse realizado, não teríamos o seu Corpo; sem termos o Corpo que lhe é próprio, não comeríamos o Pão do Altar” (Sermão 130, 2). A Eucaristia é o grande encontro permanente do homem com Deus, em que o Senhor se faz nosso alimento, em que se oferece a Si próprio para nos transformar n’Ele mesmo.
O milagre daquela tarde, junto do lago, manifestou o poder e o amor de Jesus pelos homens. Poder e amor que hão de possibilitar também, ao longo da história, que o Corpo de Cristo seja encontrado, sob as espécies sacramentais, pelas multidões dos fiéis que O procurarão famintas e necessitadas de consolo. Como diz São Tomás de Aquino: “… tomam-no um, tomam-no mil, tomam-no este ou aquele, mas não se esgota quando O tomam…”.
São João indica-nos que o milagre causou um grande entusiasmo naquela multidão, que se tinha saciado (Jo 6, 14). Refletia São Josemaria Escrivá: “Senhor, se aqueles homens, por um pedaço de pão – embora o milagre da multiplicação tenha sido muito grande –, se entusiasmam e te aclamam, que não devemos nós fazer pelos muitos dons que nos concedeste, e especialmente porque te entregas a nós, sem reservas, na Eucaristia? (Forja, 304). O Concílio Vaticano II afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã. Na Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa, e o pão vivo que dá aos homens a vida, mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo” (LG 11 e PO 5).
Na comunhão, recebemos Jesus, Filho de Maria, que naquela tarde realizou o grandioso milagre. Na Hóstia, possuímos o Cristo de todos os mistérios da Redenção: o Cristo de Maria Madalena, do filho pródigo e da Samaritana, o Cristo ressuscitado dos mortos, sentado à direita do Pai. Esta maravilhosa presença de Cristo, no meio de nós, deveria revolucionar a nossa vida! Ele está aqui, conosco: em cada cidade, em cada povoado…
Jesus, realmente, presente na Sagrada Eucaristia, dá a este Sacramento uma eficácia sobrenatural infinita. A Santíssima Eucaristia é a doação máxima que Jesus Cristo fez de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus, por cada homem. Na Eucaristia, Jesus não dá “alguma coisa”, mas dá-se a Si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Graças à Eucaristia, a Igreja renasce sempre de novo! Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais profunda será a sua participação na vida eclesial, por meio de uma adesão convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos.
Vimos, no relato do milagre, que aquelas pessoas até se esqueceram da comida para não perderem o contato com Jesus. Peçamos a graça de sempre procurarmos o Mestre, desejar recebê-Lo na Eucaristia. Nós O encontramos na Sagrada Comunhão. Ele nos espera a cada um! Não fica na expectativa de que lhe peçamos alguma coisa: antecipa-se e cura-nos das nossas fraquezas, protege-nos contra os perigos, contra as vacilações, que pretendem separar-nos dEle, e dá vida ao nosso caminhar. Cada Comunhão é uma fonte de graças, uma nova luz e um novo impulso que, às vezes, sem o notarmos, dá-nos fortaleza para enfrentarmos, com garbo humano e sobrenatural, a vida diária, a fim de que os nossos afazeres nos levem até Ele.
Peçamos ao Senhor que nos faça redescobrir a importância de nos alimentarmos, não só de Pão, mas de Verdade, de Amor, de Cristo, do Corpo de Cristo, participando fielmente e com grande consciência na Eucaristia, para estarmos cada vez mais intimamente unidos a Ele. Com efeito, “não é o Alimento Eucarístico que se transforma em nós, mas somos nós que acabamos misteriosamente mudados por Ele. Cristo alimenta-nos, unindo-nos a Si; ‘atrai-nos para dentro de Si’” (Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, 70).
“A piedade eucarística, disse São João Paulo II, aproximar-vos-á cada vez mais do Senhor; e pedir-vos-á o oportuno recurso à Confissão sacramental, que leva à Eucaristia, como a Eucaristia leva à Confissão”. Recebendo a Eucaristia, podemos compreender o que diz São Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8, 35 – 39). Em Cristo encontramos sempre a nossa fortaleza!
Jesus deixou os meios e as indicações seguras de como ser um bom filho de Deus: os Sacramentos, a vida de oração, a leitura e a meditação da Bíblia, os mandamentos, as bem-aventuranças, a fuga do pecado e das ocasiões de pecado, a vida e o ensinamento dos santos na história da Igreja. Deus está disponível, há acesso garantido às suas graças. Deixou meios acessíveis para que conheçamos a verdade e a vivamos. Contudo, não nos obrigará a usar os meios. Já ensinava santo Agostinho: “Deus que nos criou sem nossa participação, não nos salvará sem a nossa participação”.
Cabe perguntar: O que eu posso fazer por Deus? Não posso fazer mais? O que Deus pode fazer através de mim? O que Deus pode fazer comigo, por mim e em mim? A colaboração no projeto de Deus para a humanidade, para mim em especial, depende de uma vida espiritual forte e vibrante. Ele avisou: “Sem nada podeis fazer”.
Jesus faz um grande milagre a partir de uma pequena colaboração. Assim é conosco, temos que fazer a nossa parte em empenho humano e sobrenatural. A família e o mundo seriam melhores se cada um fizesse a sua parte. É certo que nós, com as nossas forças,não faremos milagres, mas podemos ser como aquele que apresentou os cinco pães e os dois peixes, podemos fazer a nossa parte. Deus fará a dEle.
Podemos concluir com a oração do dia: “Ó Deus, amparo dos que em vós esperam, sem vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai em nós a vossa misericórdia para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens temporais, que possamos aderir, desde já, aos bens eternos”. Ao mesmo tempo, desejamos rezar a fim de que jamais falte a ninguém o pão necessário para uma vida digna, e sejam abatidas as desigualdades não com as armas da violência, mas com a partilha e o amor.