A festa desses grandes Apóstolos, Pedro e Paulo, que celebramos hoje, é, ao mesmo tempo, uma grata memória das grandes testemunhas de Jesus Cristo, e uma solene confissão, em favor da Igreja una, santa, católica e apostólica. É, antes de tudo, uma festa da catolicidade. É sinal do Pentecostes, a nova comunidade que fala em todas as línguas e une todos os povos num único povo, numa família de Deus, e este sinal tornou-se realidade. Eles são chamados colunas da Igreja nascente. Testemunhas insignes da fé, dilataram o Reino de Deus com os seus diversos dons e, a exemplo do Mestre divino, selaram com o sangue a sua pregação evangélica. O seu martírio é sinal de unidade da Igreja, como diz Santo Agostinho: “Um único dia é consagrado à festa dos dois Apóstolos. Mas, também eles, eram um só. Não obstante tenham sido martirizados em dias diferentes, eram um só. Pedro precedeu, Paulo seguiu” (Disc. 295, 8). Os dois Apóstolos prestaram o seu testemunho supremo à distância de pouco tempo e espaço um do outro: em Roma, foi crucificado São Pedro e, sucessivamente, foi decapitado São Paulo.
São Pedro e São Paulo são os últimos dois anéis de uma corrente que nos une ao próprio Cristo. Em certo sentido, nossa comunhão com Jesus passa através deles. Nós celebramos, por isso, a festa dos “fundadores” de nossa fé, dos antepassados do povo cristão. Foram mortos na perseguição de Nero, pelo ano 64.
Disse Jesus: “Por isso, eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a “minha Igreja”, e as forças do Inferno não poderão vencê-la” (Mt 16,18). Jesus diz a minha Igreja. Diz “minha Igreja” no singular, não minhas igrejas. Ele pensou, quis e fundou uma só Igreja.
Jesus diz “minha Igreja” com um pronome possessivo, a Igreja é sua! É obra de Cristo antes de tudo. Não é só humana. É também divina. É tão de Cristo que disse ao perseguidor da Igreja, futuro São Paulo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”.
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja…”. Essa palavra de Jesus foi dirigida a Pedro, depois que Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16). Pedro faz a sua confissão de fé em Jesus, reconhecendo-O como Messias e Filho de Deus; e faz isso também em nome dos outros Apóstolos. Em resposta, o Senhor revela-lhe a missão que pretende confiar-lhe, ou seja, a de ser a “pedra”, a “rocha”, o fundamento visível, sobre o qual está construído todo o edifício espiritual da Igreja (Mt 16, 16 -19). Mas, de que modo, Pedro é rocha? Como deve realizar esta prerrogativa, que naturalmente não recebeu para si mesmo? O texto de Mateus deixa claro que o reconhecimento da identidade de Jesus, proferido por Simão, em nome dos Doze, não provém “da carne e do sangue”, isto é, das suas capacidades humanas, mas de uma especial Revelação de Deus Pai. Também, sobressai, forte e clara, a promessa de Jesus: “as portas do inferno”, isto é, as forças do mal “não conseguirão vencê-la. Na realidade, a promessa, que Jesus faz a Pedro, é ainda maior do que as promessas feitas aos profetas antigos: de fato, os profetas encontravam-se ameaçados por inimigos, somente humanos, enquanto Pedro terá de ser defendido das “portas do inferno”, do poder destrutivo do mal. Jeremias recebe uma promessa que diz respeito à sua pessoa e ministério profético, enquanto Pedro recebe garantias, relativamente, ao futuro da Igreja, da nova comunidade fundada por Jesus Cristo e que se prolonga para além da existência pessoal do próprio Pedro, ou seja, por todos os tempos.
A Igreja, portanto, não é uma sociedade de livres pensadores, mas é a sociedade, ou melhor, a comunidade daqueles que se unem a Pedro, para proclamar a fé em Jesus Cristo. Quem edifica a Igreja é Cristo. É ele Quem escolhe livremente um homem e o põe na base do edifício.
Pedro é apenas um instrumento, a primeira pedra do edifício, enquanto Cristo é aquele que põe a primeira pedra. Todavia, doravante, não se poderá estar verdadeira e plenamente na Igreja, como pedra viva, se não se está em comunhão com a fé de Pedro e sua autoridade ou, ao menos, se não se procura estar. Santo Ambrósio escreveu uma palavra forte: “onde está Pedro, ali está a Igreja. ” Isto não significa que Pedro seja, sozinho, toda a Igreja, mas que não pode haver Igreja sem Pedro. A Igreja sem o Papa seria um barco sem timoneiro! O Papa é o representante de Cristo na terra (seu Vigário), o fundamento da unidade da Igreja.
Disse Jesus: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus” (Mt 16, 19). O paralelismo “na Terra” (…) “nos Céus” assegura que as decisões de Pedro, no exercício desta sua função eclesial, têm valor também diante de Deus.
O primado de Pedro e de seus sucessores está claro no Evangelho (Jo 21, 15). Pedro exerceu este primado, como encontramos nos Atos dos Apóstolos (At 1, 15; 2, 14; 3, 6; 10, 1; 9, 32; 15, 7-2). Pedro foi Bispo de Roma, onde foi sepultado. Santo Inácio de Antioquia, refere-se à Igreja de Roma como a “que preside a aliança do amor.”
“Tu és Pedro”. Jesus, ao dar um nome novo a Simão, dá também uma missão, ser fundamento. A expressão, “sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja,” torna claro que Cristo anuncia que edificará sua Igreja, sobre a pedra viva que é o apóstolo.
É impensável que Jesus tenha posto um fundamento que durasse apenas os primeiros anos da Igreja até a morte de Pedro. O papel de Pedro prolonga-se nos seus sucessores. O Papa deve ser princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade, para isso foi escolhido. Faltando uma autoridade clara, cai-se no relativismo das posições ideológicas ou de interesses pessoais.
Jesus quis fundar a sua Igreja, tendo Pedro e seus sucessores à frente dela. Em dois mil anos de Cristianismo, até hoje, Pedro teve 266 sucessores! Pedro, Lino, Cleto, Clemente… João Paulo II, Bento XVI, Francisco. Podemos dizer: ontem, Pedro; hoje, Francisco. Agradeçamos a Deus, por pertencermos à Igreja fundada por Cristo que é “Una, Santa, Católica e Apostólica, edificada por Jesus Cristo, sociedade visível instituída, com órgãos hierárquicos e comunidade espiritual simultaneamente (…); fundada sobre os Apóstolos e transmitindo, de geração em geração, a sua palavra sempre viva e os seus poderes de Pastores no Sucessor de Pedro e nos Bispos em comunhão com ele; perpetuamente assistida pelo Espírito Santo” (Paulo VI, Credo do Povo de Deus).
O Senhor confia a Pedro a tarefa pelos irmãos, através da promessa da sua oração. O cargo de Pedro está ancorado na oração de Jesus. É isto que lhe dá a segurança da sua perseverança, através de todas as misérias humanas. E o Senhor confia-lhe este cargo no contexto da Ceia, em simultâneo com o dom da Santíssima Eucaristia.
Dizia São Josemaria Escrivá: “O amor ao Romano Pontífice há de ser em nós uma bela paixão, porque nele vemos Cristo.”
Também, S. Paulo é hoje apresentado na cadeia (2Tm 4, 6-8. 17-18), na sua última prisão, que terminará com o seu martírio. O Apóstolo está consciente da sua situação; porém, as suas palavras não revelam amargura, mas a serena satisfação de ter gasto a sua vida pelo Evangelho: “aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça…” (2Tm 4, 6-8). Repassando os escritos do Apóstolo dos Gentios, descobrimos que a imagem da espada se refere a toda a sua missão de evangelizador. Por exemplo, quando já sentia aproximar-se a morte, escreve a Timóteo: “Combati o bom combate” (2Tm 4, 7); aqui não se trata seguramente do combate de um comandante, mas, daquele, de um arauto da Palavra de Deus, fiel a Cristo e à sua Igreja, por quem se consumou, totalmente. Por isso mesmo, o Senhor lhe deu a coroa de glória e colocou-o, juntamente com Pedro, como coluna, no edifício espiritual da Igreja.
Paulo disse: “Nele, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo”(Ef 1, 4). E continua: “chamou-nos com vocação santa, não em atenção às nossas obras, mas, ao seu desígnio e sua graça” (2Tm 1, 9).
A vocação é um dom que Deus preparou desde toda a eternidade. Todos nós recebemos, de diversas maneiras, uma chamada concreta para servir o Senhor. E, ao longo da vida, chegam-nos novos convites para segui-Lo, e temos de ser generosos com Ele, em cada encontro. Temos de saber perguntar a Jesus, na intimidade da oração, como São Paulo: Que devo fazer, Senhor? Que queres que eu deixe por Ti? Em que desejas que eu melhore? Neste momento da minha vida, que posso fazer por Ti?
O Senhor chama todos os cristãos à santidade; e é uma vocação exigente, muitas vezes heroica, pois Ele não quer seguidores tíbios, discípulos de segunda classe; se quiser ser discípulo do Mestre, deve imprimir um sentido apostólico à sua vida: um sentido que o levará a não deixar passar nenhuma oportunidade de aproximar os outros de Cristo, que é aproximá-los da fonte de alegria, da paz e da plenitude.
Temos de pedir, hoje, a São Paulo que saibamos converter, em oportuna, qualquer situação que se nos apresente. Quem, verdadeiramente, ama a Cristo, sentirá a necessidade de O dar a conhecer, pois, como diz São Tomás de Aquino, aquilo, que os homens muito admiram, divulgam-no logo, porque, da abundância do coração, fala a boca”.
Relembrando o ardor missionário de São Pedro e São Paulo, que o Senhor nos conceda o mesmo entusiasmo para sermos discípulos e missionários de Cristo.
Vale refletir sobre as palavras do Papa, hoje, São Paulo Vl, na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, que começa com estas palavras: “O compromisso de anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo, animados pela esperança, mas, ao mesmo tempo, muitas vezes atormentados pelo medo e pela angústia, é sem dúvida alguma um serviço prestado à comunidade cristã, mas, também, a toda a humanidade” (n. 1). Impressiona a atualidade destas expressões!
Essa projeção missionária da Igreja foi muito bem desenvolvida por São João Paulo ll, que representou “ao vivo” a natureza missionária da Igreja, com as viagens apostólicas e com a insistência do seu Magistério sobre a urgência de uma “nova evangelização: “nova” não nos seus conteúdos, mas no seu impulso interior, aberto à Graça do Espírito Santo, que constitui a força da lei nova do Evangelho e que sempre renova a Igreja; “nova” na busca de modalidades que correspondam à força do Espírito Santo e sejam adaptadas aos tempos e às situações; e “nova”, porque necessária, também, nos países que já receberam o anúncio do Evangelho. A alma do homem tem sede de Deus, do Deus vivo. Por isso São João Paulo ll escrevia: “A missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, ainda está muito longe de seu pleno cumprimento”, e acrescentava: “Uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão ainda está no início, e que devemos empenhar-nos com todas as forças ao seu serviço” (Carta Encíclica Redemptoris Missio, 1).
A intercessão dos Santos Pedro e Paulo obtenha para a Igreja inteira fé fervorosa e coragem apostólica, para anunciar ao mundo a verdade de que todos nós temos necessidade, a verdade que é Deus, origem e fim do Universo e da História, Pai misericordioso e fiel, esperança de vida eterna.
Festa de São Pedro e São Paulo é momento de renovarmos a fé na Igreja de Jesus.
Dizia Santo Agostinho: “Amemos o Senhor Nosso Deus; amemos a Sua Igreja. A Ele, como um Pai; a Ela, como Mãe”. E São Cipriano: “não pode ter a Deus como Pai, quem não tiver a Igreja como Mãe”.
Amamos a Jesus, amemos a Igreja. “A minha Igreja”, diz Jesus.
A exemplo da Igreja primitiva, que rezava por Pedro, enquanto estava na prisão (At 12, 5) estejamos unidos em oração pelo Santo Padre, o Papa Francisco!
Que a Santa Mãe de Deus, oriente-nos e acompanhe-nos, sempre, com a sua intercessão: a sua fé indefectível, que sustentou a fé de Pedro e dos outros Apóstolos, continue a apoiar também a fé das gerações cristãs, a nossa própria fé: Rainha dos Apóstolos e Mãe da Igreja, rogai por nós!