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Simplicidade e Fé: do Pensamento Medieval à Ciência Moderna

Pe. Anderson Alves

Falávamos da famosa “Navalha de Ockham”, ou seja, a afirmação que diz que, ao se formular hipóteses explicativas de algum fenômeno, deve-se optar pela explicação mais simples. Não se deve multiplicar entidades ou assumir complexidades desnecessárias quando há uma solução mais elementar. Isso parece uma simplificação da metafísica, mas foi essencial à ciência experimental moderna e à nossa cultura científico-tecnológica.

No pensamento ocidental temos o exemplo de dois autores que foram capazes de realizar grandes sínteses especulativas: Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Santo Agostinho uniu realidades que pareciam ser opostas: a metafísica (o discurso sobre a natureza) e a psicologia, entendida como ciência da alma humana e das suas faculdades. Ele as uniu e inseriu na teologia, que há séculos sintetizava a cultura filosófica e jurídica greco-romana com a Revelação judaico-cristã. A teologia cristã uniu fé e razão e Agostinho uniu metafísica, psicologia e teologia, especialmente numa das suas obras mais notáveis: o De Trinitate.

Nessa obra, Agostinho procura falar do mistério central da fé cristã: o mistério trinitário, ou seja, a afirmação de fé de que em Deus há uma só substância ou natureza em três pessoas. De forma que o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus, não são três deuses, mas um só Deus em três pessoas.

Desse modo, o Pai não é maior do que o Filho ou do Espírito Santo; o Espírito Santo não é maior do que o Pai ou do Filho. Duas pessoas da Trindade não são maiores do que uma só e uma não é maior do que duas. Em Deus, portanto, há verdadeira unidade de natureza e trindade de pessoas.

Como falar do mistério trinitário? Agostinho buscou fazê-lo a partir da certeza de que Deus é o criador de todas as coisas, das visíveis e das invisíveis, e todo agente produz algo semelhante a si. Por isso, o Criador deixou marcas trinitárias na criação. Nos seres irracionais, há “vestígios” da Trindade.

Nas criaturas intelectuais (anjos e homens), Deus deixou a sua “imagem”. De fato, segundo Gn. 1, 26, o homem foi criado “à imagem e semelhança de Deus”. Por isso, as criaturas todas falam de Deus, manifestam a sua razão (o “Logos” divino) e o seu amor (o Espírito Santo). As criaturas existem para que possamos nos recordar do Criador, conhecê-lo e amá-lo. O cume das criaturas materiais é portador da realidade espiritual mais baixa: a alma. O homem é, pois, a síntese da criação, pois ele une céu e terra, ou seja, mundo espiritual (que engloba a alma humana, os anjos e o próprio Deus) e mundo material. Por isso, o homem é o ser que mais revela o mistério de Deus.

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