A festa de São Pedro de Alcântara, padroeiro de Petrópolis, reuniu paroquianos, fiéis e devotos, durante três dias na Catedral, onde, além dos eventos religiosos, contou com uma programação cultural, com shows e comidas típicas de alguns países. Um dos momentos marcantes da festa, além da missa solene com o bispo diocesano, Dom Joel Portella Amado, foi a procissão com as crianças, realizada na manhã de sábado.
O pároco da Catedral de Petrópolis, Padre Thomas Andrade Gimenez Dias, agradeceu a participação de todos e o apoio dos paroquianos, assim como das empresas que colaboraram com a festa. Padre Thomas ressaltou a importância da presença do bispo diocesano, que celebrou pela primeira vez a festa de São Pedro de Alcântara, pois, em 2024, neste período, encontrava-se no Vaticano, participando do Sínodo dos Bispos.
A missa, presidida pelo bispo diocesano e concelebrada pelo pároco, contou com a presença do Vigário Paroquial, Padre Alexandre Sobral Arosa, e foi assistida pelos diáconos permanentes Marco Aurélio de Carvalho e Luciano Schmidt e pelo diácono transitório, Ronald Cankin Ma Lam. Os cantos da missa foram cantados pelo Coral da Catedral e toda a celebração contou com a assistência dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, coroinhas e do seminarista.
Em sua homilia, Dom Joel convidou os fiéis a celebrar o Dia do Senhor, tendo São Pedro de Alcântara como referência especial para a cidade de Petrópolis e também para outras duas cidades do Brasil, onde o santo é lembrado. Segundo o bispo, celebrar o padroeiro como solenidade é viver uma grande festa, “a mais importante, um momento de alegria”, expressão de uma identidade católica viva: “É a nossa identidade como petropolitanos de nascimento ou de adoção.”
Ao refletir sobre o sentido da memória litúrgica, o bispo propôs olhar para o santo e fazer a ele a mesma pergunta que se deve dirigir a cada santo e a cada santa: “O que é que podemos aprender com aquilo que esse santo, que aquela santa, viveu?”
No caso do padroeiro, a interrogação toca a vida concreta, o cotidiano e a fé: “O que é que, no caso do nosso padroeiro, São Pedro de Alcântara, tem a nos dizer sobre viver a fé, sobre tocar a vida no dia a dia com tudo aquilo que a vida apresenta para nós?”
Para situar a atualidade do testemunho, Dom Joel lembrou que São Pedro de Alcântara nasceu e viveu no século XVI, “um período de grandes transformações” e “muita turbulência, inclusive na vida da fé”. A Igreja, disse, experimentava “uma segunda grande rachadura”, no contexto da chamada Reforma Protestante.
Nesse cenário, a pergunta humana e espiritual se impõe, tal como num voo sob turbulência: “Será que, afinal de contas, eu estou no caminho certo?” E, quando cada um “diz uma coisa — inclusive em nome de Jesus”, é preciso discernir “o que é ser cristão em tempo de turbulência”. A resposta, afirmou, é inequívoca: “A grande resposta para os momentos de turbulência só pode ser uma: Jesus Cristo.” Citando o Evangelho, recordou: “Aonde iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna.”
Ancorado nas leituras bíblicas, o bispo destacou a fidelidade sofrida de Jeremias — “Sofrer por causa de Deus, que o chamou a ser fiel” — e a atitude radical de São Paulo — “tudo o que era riqueza para mim […] é ‘esterco’, ‘adubo’ que seja” —, situando São Pedro de Alcântara na mesma linhagem espiritual, ao lado de Santa Teresa de Ávila e de Francisco de Assis.
A partir da oração própria do santo, Dom Joel organizou um itinerário em quatro características do seu modo de enfrentar a turbulência: primeiro, “um amor profundo pela Igreja”, traduzido na pertença concreta e na unidade — “se eu amo a Cristo, eu amo o seu corpo, que é a Igreja; se eu amo o seu corpo, que é a Igreja, eu quero estar com ela”. Segundo, um “retorno às fontes”, voltar às origens da fé e à tradição viva, “o caminho que outros trilharam”. Terceiro, o “rigor” evangélico, sem hipocrisia, feito de penitência, pobreza, silêncio e oração: “Rigor na penitência, rigor na pobreza, rigor no silêncio, rigor na oração.” Quarto, a disposição de “trabalhar pela restauração”, sem omissão: “Aquilo que dava para consertar, São Pedro de Alcântara consertava.”
A partir dessa leitura, Dom Joel advertiu que, em tempos confusos, o discípulo de Cristo não rompe, não protesta para separar, não divide: “Quem divide é o demônio; o discípulo de Cristo não divide.” O caminho do santo, sublinhou, permite dizer “em algum momento: ‘Chegamos’”, porque prioriza o essencial: “Ele não se agarrou ao que nós não levamos quando vamos desta vida; ele buscou — foi o final do Evangelho — o Reino de Deus em primeiro lugar. O resto é resto, o resto vem depois.”
Por isso, São Pedro de Alcântara “não é apenas um santo do século XVI”, mas “um santo para os nossos dias”, profundamente contemporâneo: “Em tempos de crise, em tempos de turbulência, santidade é possível, sim, e santidade é necessária.”
Em tom pastoral, o bispo aproximou a imagem do rigor espiritual da disciplina cotidiana, como quem treina numa academia: se empreendemos esforço para metas visíveis, por que não assumir um esforço também na resposta de santidade, “para ajudar este mundo a atravessar uma viagem turbulenta e chegar em paz”? Diante das inquietações atuais — “Será que educar filho ou filha é desse jeito? Será que ser um bom profissional é desse jeito? Será que ser cristão é desse jeito que nós estamos vendo tanta gente fazer?” —, o itinerário proposto retoma as quatro marcas do padroeiro: amor à Igreja, retorno às fontes, rigor evangélico e restauração do que precisa ser consertado. Trata-se, em última análise, de fidelidade: “Porque cada um de nós, no nosso jeito, na nossa história, na nossa vida, nós somos chamados a viver sempre em fidelidade a Cristo.”