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Privacidade vs. Prevenção: O Dilema das Redes Sociais na Era Digital

Pe. Anderson Alves

Sobre a relação entre a depressão e as redes sociais, vejamos alguns dados, recolhidos por M. Spitzer, em “Die Smartphone Epidemie”:

Um estudo inglês que envolveu 1.000 adolescentes revelou que as jovens que aos 13 anos passam mais de 3 horas por dia no Facebook duplica o risco de contrair depressão aos 18 anos (T. Tague. Children glued to social media sites like Facebook and Twitter are TWICE as likely to suffer mental health problems. Disponível em Daily Mail, 20/10/2015. https://www.dailymail.co.uk/).

Em 2018, mais de 11% das adolescentes inglesas passavam mais de três horas por dia no Facebook.

Entre 2007 e 2015, dobrou o número de suicídios entre adolescentes e jovens mulheres dos EUA, passado de 2,4 a 5,1 cada 100.000. Isso foi demonstrado por uma pesquisa do Center of Disease Control (CDC, Quick-Stats: Suicide Rates for Teen Aged 15-19 years, by Sex – United States, 1975-2015).

Segundo Jean Twenge e seus colaboradores (J. M. Twenge, T. E. Joiner, M. L. Rogers, G. N Martin, in Clinical Psychological Science, 6 (2018), p. 3-17), esse aumento é aumento é devido muito provavelmente ao uso intensificado dos smartphones e das redes sociais.

Fora da Europa, Facebook introduziu um serviço de busca automática, mediante algoritmos, de referências ao suicídio ao interno das publicações dos usuários; essas referências são relacionadas pelos computadores do Facebook com dados de outros usuários, mediante machine learning. Ao longo do tempo, formam-se “modelos” de comportamento online ligados ao suicídio.

Quando o sistema percebe traços de modelos suicidas em algum usuário, aparece na sua tela a mensagem: “alguém pensa que você precisa de ajuda”. O Facebook é capaz, portanto, de captar os propósitos suicidas dos usuários e de organizar o socorro, por meio de recurso a amigos ou psicólogos em caso de emergência. Em 2017, mais de 100 usuários com tendências suicidas foram contactados e receberam visita de pessoal especializado.

Essa empresa deseja não apenas ajudar os seus usuários, mas também evitar ter o seu nome associado aos atos suicidas. Com efeito, o que levou ao surgimento desse “serviço” foi o fato de terem ocorrido, em 2017, suicídios com transmissão direta no Facebook, muito noticiados pela imprensa. Uma menina dos EUA de 12 anos cometeu suicídio com transmissão direta pelo Facebook em 2017. E um mês depois, um pai de família de 54 anos, na Turquia, cometeu o mesmo ato diante da videocâmera porque a sua filha tinha começado a namorar sem a sua autorização.

Esse “serviço” tem os seus benefícios e os seus custos. É considerado por alguns um “cavalo de troia”, pois assim o Facebook entra cada vez mais na nossa vida privada, recolhendo cada vez mais dados sobre nós. Na Europa, o serviço não funciona devido às fortes leis de privacidade lá existentes. Se elas forem reduzidas, a empresa provavelmente o inserirá naquele continente. De qualquer forma, fica cada dia mais evidente a relação entre o número de horas de uso de redes sociais (e smartphones) com a depressão e o suicídio e isso deveria ser um alerta aos pais, agentes de saúde e educadores.

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