Com este Primeiro Domingo do Advento, iniciamos um novo Ano Litúrgico. O Advento é, por excelência, o tempo da esperança, é um tempo para abrir os olhos e prestar atenção. O Ano Litúrgico é a evocação e atualização (isto é, memória e presença) de toda a História da Salvação “já” realizada e é, ao mesmo tempo, promessa e antecipação da História da Salvação que “ainda” deverá realizar – se. A Igreja põe-nos de sobreaviso com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus, feito homem, ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é o tempo de preparação e de esperança.
O Advento é um tempo para abrir os olhos e prestar atenção. O Senhor vem! Com essa consciência empreendemos o itinerário do Advento, preparando-nos para celebrar, com fé, o extraordinário acontecimento do Natal do Senhor, ou seja, preparamo-nos para acolher a Cristo, no mistério da sua vinda entre nós! São quatro semanas para preparar a festa do Natal, memória da encarnação de Cristo na história, e projetar-nos para a vinda gloriosa do Senhor, no final da história. O Senhor, que veio uma primeira vez e virá uma segunda vez, já está no meio de nós e alimenta a nossa vida com sua presença viva.
Os textos bíblicos, deste primeiro domingo, permitem-nos descobrir o que é o Advento: é memória, presença e espera, como, aliás, toda a liturgia da Igreja: Memória e espera. Vejamos Isaías, o profeta que viveu setecentos anos antes de Cristo: Sois vós, Senhor, o nosso pai, nosso Redentor (… ). Por que, Senhor, desviar – nos para longe de vossos caminhos (…). Voltai, por amor de vossos servos e das tribos de vossa herança! A lembrança da bondade de Deus faz-nos descobrir a tristeza da situação presente, mas leva-nos a esperar, para o futuro, uma nova intervenção divina.
Na Carta aos Romanos (Rm 13, 11-14), São Paulo alerta-nos a respeito do tempo em que estamos: o tempo da esperança da consumação da salvação oferecida por Jesus. Para esperar na santidade o encontro com o seu Senhor, o cristão é chamado a revestir-se da luz, Jesus Cristo. Revestir-se de Cristo é abandonar as ações das trevas e das paixões mundanas desordenadas. Paulo apresenta uma lista, a qual se podem acrescentar muitos outros tópicos: bebedeiras, imoralidades, brigas, rivalidades, etc. São Paulo pede-nos que nos levantemos “do sono, porque a salvação está mais perto”.
No Evangelho (Mt 24, 37 –44), Jesus insiste em como devemos nos comportar, a fim de não sermos surpreendidos. Sua vinda é certa, porém não se revelará o dia nem a hora do Juízo Final. Os discípulos devem vigiar. “Cuidado! Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor ”. Chegou a hora de acordar, para que não nos encontre dormindo! É preciso deixar as trevas e ser iluminados pela luz do dia, pela luz de Cristo. Trata-se da conversão: deixar as obras das trevas e fazer o bem, revestindo-se do Senhor Jesus Cristo.
Jesus já havia anunciado o Reino dos Céus e agora está em Jerusalém. O tempo é de expectativa. Por isso, o objetivo não é o de assustar, mas convidar para a vigilância constante, a fim de que os seus seguidores não sejam surpreendidos.
“Se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada” (Mt24,43). Deixar a casa ser arrombada pelo ladrão é adormecer na fé! Estar dormindo significa deixar-se guiar e dominar pelos instintos, por nossas más inclinações, nosso egoísmo. Porque se não estivermos atentos, deixaremos o Senhor passar em vão pela nossa vida diária e não receberemos as suas graças. É hora de despertar do sono espiritual, pois, muitas vezes, deixamo-nos submergir nas preocupações materiais.
Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e, se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos, com clareza, essa luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer, com especial delicadeza, o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Um bom exame de consciência deve ir até as raízes dos nossos atos, até os motivos que inspiram as nossas ações. E, logo, buscar o remédio no Sacramento da Penitência (Confissão)!
“Vigiai, não sabeis em que dia o Senhor virá”. Não se trata apenas da “Parusia”, mas, também, da vinda do Senhor para cada homem no fim da sua vida, quando se encontrar face a face com o seu Salvador; e será esse o dia mais belo, o princípio da vida eterna! Toda a existência do homem é uma constante preparação para ver o Senhor, que cada vez está mais perto; mas, no Advento, a Igreja ajuda-nos a pedir de um modo especial: “Senhor, mostrai-me os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, porque sois o meu Salvador” (Sl 24).
“Vigiai!” Essa palavra, no Evangelho, ressoa espera! É uma palavra que faz de nós discípulos, sentinelas ou, como disse Jesus, porteiros.
A vida do porteiro, num prédio moderno de cidade, é realmente uma parábola viva para o cristão. Nunca afastar – se sem ter um substituto, fechar as portas, vigiar quem sai e quem entra, cuidar para que não haja invasão de ladrões; enfim, vigiar sempre. Sua vida é uma vida de espera, ou melhor, de “atenção”. Ficai de sobreaviso, vigiai! É viver concentrando a atenção não só da mente, mas também do coração e de toda a vida; viver tendendo para alguma coisa, prontos a captar todos os sinais que anunciam sua presença.
É muito oportuno que, no início do Advento, a Igreja dê um grande destaque àquelas palavras de São Paulo: “Já é hora de despertar (Rm,13, 11).
O Cristão não vive só na espera de Cristo, mas, também, em comunhão com Cristo, isto é, na posse daquilo que espera. Isso nos recorda o tempo do Advento.
Para manter esse estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência de todo homem é viver de olhos cravados nas coisas da terra. É necessário aproveitar as oportunidades para nos aproximarmos de Deus, usar os bens deste mundo, sem viver obcecados por eles e fazê-los a prioridade. Em preparação da festa do Natal, devemos redescobrir aquilo que é importante diante de Deus.
Fiquemos alerta! Assim será, se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da salvação. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo, observai quem é Aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e por onde vem. É uma curiosidade boa. A Igreja não celebraria com tanta devoção este Advento se não contivesse algum grande mistério
Procuremos afastar os motivos que impedem a acolhida do Senhor
– os prazeres da vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada… No domingo, dorme… passeia… pratica esportes… mas não sobra tempo para a Missa.
– trabalho excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde…
Como desejo me preparar para o Natal deste ano?
Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?
Preparemos, numa atitude de humildade e vigilância, a chegada de Cristo que vem.
Fiquemos vigilantes! Porém, não vigiar, apenas com as forças humanas, mas na oração para que Deus nos ajude a estar vigilantes!
Cristo vem hoje e virá ao final da história, inesperadamente. Há que ter olhos límpidos e ouvidos sensíveis para captar as pegadas de sua passagem cotidiana em nossa vida. Devemos esforçar-nos para colaborar com a graça divina e acolher a vinda do Senhor, que vem para ensinar os caminhos divinos. Devemos tornar-nos capazes de olharmos na direção da verdade e do bem diante de Deus. Ele caminha conosco. Aliás, Ele disse: Eu estarei convosco todos os dias.
Portanto, devemos estar sempre vigilantes, atentos e preparados. Aproveitar as oportunidades para nos aproximarmos de Deus, usar os bens deste mundo, sem viver obcecados por eles e fazê-los a prioridade. Em preparação da festa do nascimento de Jesus, devemos redescobrir aquilo que é importante diante de Deus.
Que Maria, Mãe de Deus e nossa, ajude-nos a preparar bem o Natal! Existe uma misteriosa correspondência entre a espera de Deus e a de Maria, a criatura “cheia de graça”, totalmente transparente ao desígnio de amor do Altíssimo. Aprendamos dela, Mulher do Advento, a viver os gestos cotidianos com um espírito renovado, com o sentimento de uma profunda expectativa, que só a vinda de Deus pode cumular.





