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Petrópolis: 180 anos buscando as realidades mais altas – Pe. Anderson Alves

Petrópolis completa 180 anos em 16 de março de 2023. O lema da cidade é o lema do seu padroeiro, São Pedro de Alcântara, e diz: Altiora semper petens, “buscando as realidades mais altas”. Esse texto é inspirado em uma afirmação de São Paulo: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Col. 3, 1). O lema é perfeito, pois a cidade está localizada no alto da Serra da Estrela e indica algo que realmente marca a população dessa cidade desde o início: a fé.

A história da cidade começou quando d. Pedro I visitou a fazenda da família do padre Corrêa e ficou encantado com a paisagem e o clima do local. Decidiu então comprar aquelas terras, mas a família não as vendeu, por alguns motivos: entres eles, destaca-se o fato de que a família e a população local veneravam uma imagem trazida de Portugal, por volta de 1751, de Nossa Senhora do Amor de Deus, que tinha a fama de realizar milagres. D. Pedro I teve que se contentar com a compra da fazenda vizinha, chamada “do Córrego Seco”, onde está o atual centro da cidade. Nossa Senhora do Amor Divino se tornaria a padroeira da cidade e da diocese de Petrópolis.

Muitos petropolitanos e outros que escolheram a cidade para morar foram marcados pela fé. D. Pedro II realizou o sonho de seu pai e fundou a cidade em homenagem ao padroeiro da família imperial, São Pedro de Alcântara. A princesa Isabel, filha de d. Pedro II, visitava a imagem de Nossa Senhora do Amor Divino constantemente e, por sua devoção, mandou construir uma “nova matriz” que, mais tarde, se tornaria a catedral da cidade. Assim como a princesa Isabel, outras personalidades ligadas à história da cidade buscaram as coisas mais elevadas e são fontes de inspiração para os petropolitanos.

Podemos destacar o sacerdote João Francisco de Siqueira Andrade, mais conhecido como padre Siqueira, um padre paulista, de Jacareí, que havia sido capelão na guerra do Paraguai e conheceu a situação das órfãs pobres e desvalidas da guerra. Decidiu então fundar uma escola em Petrópolis para a infância feminina. Visitou diversas fazendas do Estado do Rio e de outros estados mendigando doações e, após dois anos de incansáveis viagens, deu início às obras que desencadearam em um belo espaço de formação, a Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo. Ele fez uma escola extraordinária, com o mesmo nível dos colégios religiosos europeus, numa localidade que tinha menos de 30 anos de existência. O colégio foi fundado em 1871, enquanto Petrópolis datava de 1843. Esse grande homem deixou os germes de uma Ordem religiosa, chamada de Congregação das Irmãs Fransciscanas de Nossa Senhora do Amparo, presente agora em diversas regiões do país. O carisma da Instituição é dedicar-se à educação e ao amparo das crianças mais desprotegidas. Em 2022, foi apresentada uma tese de doutorado sobre a vida e a obra do padre Siqueira, na UERJ, pela pesquisadora Micheli Tavares. Atualmente, o processo de beatificação do padre Siqueira está em andamento.

Desde o início a cidade acolheu imigrantes alemães. Muitos eram luteranos, como o Major Köeler, que foi o engenheiro que projetou a cidade. Esses imigrantes pediram a d. Pedro II um templo, e o Imperador doou parte do dinheiro para a compra do terreno e a construção da igreja luterana, concluída em 1863, na Rua Ipiranga. A igreja foi construída em estilo neogótico alemão. A atitude de d. Pedro II foi singular no seu tempo.

Outros imigrantes que vieram para Petrópolis eram católicos e logo chegaram franciscanos alemães, que muito trabalharam pela cidade. Em 1873, a colônia alemã de Petrópolis, dirigida pelo padre Theodoro Esch, pediu à Câmara Municipal, que o concedeu, com a aprovação de d. Pedro II, o terreno do antigo cemitério para a construção de uma igreja, uma escola e uma residência para sacerdotes. Em novembro de 1896, vieram da Bahia os seis primeiros “clérigos”, para realizarem os seus estudos de “humanidades” (1896-1897), de Retórica e Filosofia (1898) e de Teologia (1899). Surgia assim o “Instituto Teológico Franciscano” (ITF). Além da paróquia do Sagrado Coração de Jesus fundaram a Editora Vozes, a Revista Eclesiástica Brasileira, uma das mais antigas do Brasil, que teve seu início em 1941.

No ITF, foram professores figuras ilustres da Igreja católica do Brasil, como Boaventura Kloppenburg, excelente teólogo, que traduziu ao português os documentos e as atas do Concílio Vaticano II (algo raro no mundo). Outro teólogo importante foi o frei Constantino Köser, que deixou a maravilhosa biblioteca do ITF como patrimônio da cidade. Ele cursou filosofia na Universidade Federal, no Rio de Janeiro, e teve como professor o petropolitano padre Penido, que foi um dos grandes teólogos do século XX, conhecido principalmente na Europa. Em 1942, padre Penido se transferiu para Petrópolis, e Frei Constantino veio para a cidade com ele. Ambos pesquisavam juntos, especialmente sobre o tema da Santíssima Trindade. Outro franciscano que deu aulas e foi pároco em Petrópolis (no Itamarati) foi o frei Paulo Evaristo Arns, futuro cardeal de São Paulo. Os franciscanos colaboraram muito com a cultura da cidade através do Colégio Canarinhos e o seu extraordinário coral, admirado inclusive por Bento XVI. O cardeal Leonardo Steiner, atual arcebispo de Manaus, também se formou com os franciscanos e fez parte do coral dos Canarinhos. Dom Paulo Cezar Costa, cardeal e arcebispo de Brasília, foi aluno no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino.

Petrópolis teve outros colégios de grande valor, como o Santa Isabel, fundado com o apoio financeiro de um sacerdote amigo do padre Siqueira, o monsenhor Francisco Bacelar; o Colégio Padre Correa e o Santa Luiza de Marillac, o antigo Colégio São Vicente, o Colégio Sion e outros. Em 1953, foi fundada a Universidade Católica de Petrópolis, por Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, primeiro bispo de Petrópolis. A primeira Universidade brasileira foi fundada em 1922, no Rio de Janeiro, e a UCP foi inaugurada apenas 21 anos depois, numa cidade do interior do Estado, com uma população, na época, muito pequena.

Em Petrópolis nasceu a Madre Francisca de Jesus, em 1877. Ela fundou uma ordem religiosa destinada à oração e à imolação pelas intenções do Papa, pela hierarquia e pelas vocações sacerdotais. Foi recebida em diversas ocasiões por Pio X e fundou a Companhia da Virgem, em Roma. Ela faleceu em 1939, na Itália. O padre R. Garrigou-Lagrange, um dos grandes teólogos do século passado, foi diretor espiritual da Madre e escreveu uma biografia dela, em 1937. A obra foi reeditada no Brasil pela editora Ecclesiae, em 2013. Ele a considerava uma santa tão grande quanto Santa Teresa de Jesus.

É petropolitano também Alceu Amoroso Lima, da Academia Brasileira de Letras, um dos líderes leigos da Igreja católica do Brasil. Ele foi presidente do Centro Dom Vital, um dos primeiros membros da Pontifícia Comissão Justiça e Paz e o representante do governo brasileiro na abertura do Concílio Vaticano II. Morreu em Petrópolis, em 1983. Na sua casa, na Mosela, foram escritas diversas obras, que alimentaram e instigaram e inteligência de muitos brasileiros, por décadas.

Não há como falar de todos os petropolitanos exemplares, que são fonte de inspiração para muitos na atualidade. Apenas recordamos algumas figuras ilustres. A história é mestra da vida. Ela nos concede um tesouro que devemos cultivar e difundir. Desejamos que muitos continuem se inspirando nessas grandes pessoas e sigam buscando as realidades mais altas.

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