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Papa: sem perdão não há justiça. Em 2025, superar a “crise da dívida” para alcançar a paz

Três propostas concretas para o decorrer de 2025 estão contidas na mensagem de Francisco para o Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro, Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus: o perdão da dívida externa, o fim da pena de morte e um fundo mundial para a eliminação definitiva da fome.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O Dia Mundial da Paz celebra-se em 1º de janeiro, mas a mensagem do Papa está destinada a ecoar durante todo o ano de 2025.

O texto da mensagem foi publicado esta quinta-feira, 12 de dezembro, cujo tema é “Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz”. A palavra central, portanto, é o perdão, estreitamente ligada ao Ano Santo que a Igreja viverá em 2025.

Escutar o grito da humanidade

Na origem do jubileu hebraico, estão a clemência e o fim da opressão, com o restabelecimento da justiça divina. Esta tradição se manteve e também hoje somos chamados a unir a nossa voz a de quem denuncia as inúmeras situações de exploração da terra e de opressão do próximo, naquilo que São João Paulo II chamava de “estruturas de pecado”, profundamente enraizadas em nossa sociedade. Francisco cita algumas dessas injustiças: desigualdades de todos os tipos, tratamento desumano dispensado aos migrantes, degradação ambiental, confusão gerada intencionalmente pela desinformação, rejeição a qualquer tipo de diálogo e o financiamento ostensivo da indústria militar.

“Todos estes são fatores de uma ameaça real à existência de toda a humanidade. No início deste ano, portanto, queremos escutar este grito da humanidade para nos sentirmos chamados, todos nós, juntos e de modo pessoal, a quebrar as correntes da injustiça para proclamar a justiça de Deus”, escreve o Santo Padre.

Atos esporádicos de filantropia não serão suficientes, acrescenta, mas são necessárias transformações culturais e estruturais.

Quando não há gratidão, o homem deixa de reconhecer os dons de Deus e começa a nutrir um pensamento de que as relações com os outros podem ser regidas por uma lógica de exploração, em que o mais forte pretende ter o direito de prevalecer sobre o mais fraco. Isso vale seja para as relações interpessoais, seja entre comunidades e nações.

Três propostas

O Papa denuncia o modo de agir de alguns governos e instituições financeiras privadas dos países mais ricos, que não hesitam em explorar os recursos humanos e naturais dos países mais pobres. Deste modo, a dívida ecológica e a dívida externa se transformam em dois lados da mesma moeda  A este fenômeno interligado, o Papa dá o nome de “crise da dívida”, que aflige vários países, especialmente no Sul do planeta.

“Inspirando-me neste ano jubilar, convido a comunidade internacional para que atue no sentido de perdoar a dívida externa, reconhecendo a existência de uma dívida ecológica entre o Norte e o Sul do mundo. É um apelo à solidariedade, mas sobretudo à justiça.”

Assim, o perdão da dívida externa é a primeira das três ações concretas que o Pontífice propõe à comunidade internacional para este ano de 2025.

Para que não se trate de um ato isolado de beneficência, seria necessário, ao mesmo tempo, desenvolver uma nova arquitetura financeira que conduza à criação de um acordo financeiro global, baseado na solidariedade e na harmonia entre os povos.

A segunda ação é voltada à defesa da vida humana, desde a concepção até à morte natural: “Gostaria de convidar, uma vez mais, para um gesto concreto que possa favorecer a cultura da vida. Refiro-me à eliminação da pena de morte em todas as nações. Em realidade, esta punição, além de comprometer a inviolabilidade da vida, aniquila toda a esperança humana de perdão e de renovação”.

O terceiro gesto é uma proposta já feita por São Paulo VI e Bento XVI: utilizar uma porcentagem fixa do dinheiro gasto em armamento para a criação de um fundo mundial para acabar definitivamente a fome e facilitar a realização de atividades educativas nos países mais pobres. Essas atividades promoveriam o desenvolvimento sustentável, lutando contra as alterações climáticas.

“Devemos tentar eliminar qualquer pretexto que possa levar os jovens a imaginar o seu futuro sem esperança, ou como uma expectativa de vingar o sangue derramado por seus entes queridos. O futuro é um dom que permite ultrapassar os erros do passado e construir novos caminhos de paz”, escreve o Papa.

Através desses gestos, a tão almejada paz estará mais próxima

“Que 2025 seja um ano em que a paz cresça!”, são os votos de Francisco, que exorta a procurá-la com um coração desarmado: um coração que não se esforça por calcular o que é meu e o que é teu; que dissolve o egoísmo, que não hesita em reconhecer-se devedor de Deus e, por isso, está pronto para perdoar as dívidas que oprimem o próximo.

Por vezes, acrescenta Francisco, é suficiente um sorriso. “Com efeito, a paz não vem apenas com o fim da guerra, mas com o início de um mundo novo”.

O Santo Padre conclui a mensagem com a seguinte oração:

Perdoa-nos as nossas ofensas, Senhor,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido,
e, neste círculo de perdão, concede-nos a tua paz,
aquela paz que só Tu podes dar
para aqueles que deixam o seu coração desarmado,
para aqueles que, com esperança, querem perdoar as dívidas aos seus irmãos,
para aqueles que confessam sem medo que são vossos devedores,
para aqueles que não ficam surdos ao grito dos mais pobres.

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