Padre Penido: O Tomás de Aquino Brasileiro que o Brasil Esqueceu

Pe. Anderson Alves

No coração das montanhas de Petrópolis, nasceu no final do século XIX um dos maiores pensadores católicos que o Brasil já produziu: Padre Maurílio Teixeira-Leite Penido. Oriundo de uma família tradicional e abastada, cresceu cercado por cultura, livros e refinamento. No entanto, sua vocação o levou para longe dos salões da elite e o aproximou da profundidade espiritual e intelectual que marcaria sua trajetória.

Ainda jovem, partiu para a Europa com sua mãe, onde mergulhou nos estudos. Formou-se em letras na Sorbonne, assistiu às palestras de Henri Bergson em Paris, aprofundou-se na filosofia em Roma e na teologia em Friburgo, na Suíça. Foi lá que se tornou professor e conquistou o respeito dos maiores pensadores católicos do continente.

Seus escritos circulavam entre os intelectuais como verdadeiras joias. Jacques Maritain, um dos maiores filósofos cristãos do século XX, não apenas o admirava, mas recorria a ele para esclarecer dúvidas filosóficas. René Guénon o citava com entusiasmo, Yves Congar lia suas obras com reverência, e há indícios de que até Paul Ricoeur teve contato com seus textos. Jean-Hervé Nicolás, autor da renomada Synthèse Dogmatique, estudou e citou suas ideias com profundidade.

Padre Penido escreveu sobre mística, dogmática, filosofia e espiritualidade com uma erudição rara. Falava de São João da Cruz como quem o conhecia pessoalmente, estudou John Henry Newman com rigor e foi um dos membros ativos do Movimento Litúrgico que antecedeu o Concílio Vaticano II. Em sua obra mais célebre, mostrou como Deus se revela até nas intuições filosóficas de Bergson — uma ousadia teológica que encantou Alceu Amoroso Lima, que considerava seu tratado sobre a Igreja como a maior obra teológica já escrita em território nacional.

Alceu afirmava que Penido exercia, simultaneamente, as funções de teólogo, filósofo, sociólogo e psicólogo — algo único no Brasil. No entanto, ao retornar ao país a convite do próprio Alceu, encontrou uma nação despreparada para acolher sua erudição. Viveu décadas em silêncio, sentindo-se exilado em sua própria terra. Morreu pobre, no seminário do Rio de Janeiro, sem homenagens ou reconhecimento.

Hoje, suas obras ainda são estudadas em universidades europeias, mas no Brasil seu nome permanece quase esquecido. É preciso resgatar sua memória e reconhecer sua importância. Padre Maurílio Teixeira-Leite Penido não foi apenas um grande teólogo — foi o maior da história brasileira. Por isso, é chamado por muitos de “O Tomás de Aquino Brasileiro”.

Em breve, nosso curso sobre a História da Teologia da América Latina abordará a vida e obra de Penido e outros pensadores fundamentais. Uma oportunidade para redescobrir esse gigante da fé e da razão, cuja luz ainda brilha, mesmo que ofuscada pelo esquecimento nacional.

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