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Os Princípios da Doutrina Social da Igreja: a Dignidade Humana e o Bem Comum (Parte II) – Pe. Anderson Alves

Dissemos anteriormente que da afirmação da dignidade da pessoa humana derivam os demais princípios da Doutrina Social da Igreja, ou seja, o do bem comum, do destino universal dos bens, da solidariedade e da subsidiariedade. Com efeito, se cada pessoa tem um valor, uma dignidade inviolável, devemos cuidar não apenas do nosso bem, mas do bem dos outros e do bem de todas as pessoas que constituem a sociedade. Por isso, o bem que é de cada um é também o bem de todos os membros da sociedade. O bem comum a todos os membros da comunidade é o chamado “bem comum”.

Desde Aristóteles, compreende-se que o bem é o que tem caráter de fim, é o buscado, o desejado ou amado por outro. Basicamente, há dois tipos de bens: a) os bens instrumentais, que tem o seu valor em vistas de outros bens, ou seja, são intermediários para a consecução de bens superiores. São os bens úteis. Assim, por exemplo, o dinheiro, a alimentação, o bem-estar econômico e a instrução servem ao bem da vida digna do homem; b) há ainda os bens intrínsecos, ou seja, os que valem em si mesmos e não são meios para se alcançar outro bem superior: a concórdia, a amizade, a vida moralmente boa, a amizade com Deus são bens desse tipo.

O Compêndio de Doutrina Social da Igreja diz no número 164: “Da dignidade, unidade e igualdade de todas as pessoas deriva, antes de tudo, o princípio do bem comum, a que se deve relacionar cada aspecto da vida social para encontrar pleno sentido. Segundo uma primeira e vasta acepção, por bem comum se entende: o conjunto de condições da vida social que permitem, tanto aos grupos, como a cada um dos seus membros, atingir mais plena e facilmente a própria perfeição”.

Desse modo, o bem comum não é a mera soma dos bens particulares de cada sujeito da sociedade. É o bem de todos e de cada um. É indivisível e só pode ser alcançado por todos os membros da sociedade. Eles devem promovê-lo, defendê-lo e fazê-lo crescer, em vista do futuro e das próximas gerações. O agir social está dirigido a esse tipo de bem. Ele é o fim autêntico da política, corretamente entendida.

Desse modo, “uma sociedade que, em todos os níveis, quer intencionalmente estar ao serviço do ser humano é a que se propõe como meta prioritária o bem comum, enquanto bem de todos os homens e do homem todo. A pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser ‘com’ e ‘pelos’ outros” (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, n. 165).

A concepção reta do bem comum afirma que “o meu bem é também que você realize o seu bem”; e “o seu bem é que eu realize o meu bem”. Isso nos leva a rever e aprimorar o conceito de liberdade moderno, próprio do Liberalismo, que afirma que “a minha liberdade termina onde começa a sua”. Essa frase manifesta uma exigência moral mínima, a de não lesar a ninguém (neminem ledere), o que é totalmente justo. Entretanto, a liberdade não é um algo meramente negativo, não significa apenas um limite humano: ela é algo positivo, é um princípio de ações boas e virtuosas.

Por isso a forma moderna de entender a liberdade deve ser completada: ela significa não apenas não lesar a ninguém, mas leva a agir positivamente, promovendo o bem de todos, ou seja, o bem comum. A nossa liberdade pessoal é uma liberdade de criaturas, compartilhada com a dos outros homens. Precisamos dos outros para a reconhecemos, para nos conhecermos e a nossa liberdade deve servir à liberdade e ao bem autêntico de todas as pessoas. Em síntese, para ser livre, não basta buscar não fazer mal a ninguém, mas é necessário buscar o bem pleno de todos. O bem comum deriva da nossa dignidade pessoal e deve guiar as nossas ações na sociedade.

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