Onde está e quem dá a verdadeira alegria!? – Dom José Maria Pereira

Aproximando-se o dia de Natal, a Liturgia faz um convite à alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos… O Senhor está perto” (Fl 4, 4-7). Na verdade, todo o Advento é um convite a rejubilar, porque “o Senhor vem”, porque nos vem salvar. Ressoam, confortadoras, quase todos os dias, nestas semanas, as palavras do profeta Isaias, dirigidas ao povo judeu, exilado, na Babilônia, depois da destruição do templo de Jerusalém e desanimado, por não saber se pode regressar à cidade santa, em ruínas. “Mas, aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças, garante o profeta, têm asas como águia e voam velozmente, sem se cansar” (Is 40, 31). E ainda: “ …serão repletos de gozo e alegria, e deles fugirão a tristeza e os gemidos, não mais conhecerão a dor e o pranto” (Is 35, 10).

A Liturgia do Advento repete-nos, constantemente, que devemos despertar do sono dos hábitos e da mediocridade, devemos abandonar a tristeza e o desânimo; é preciso que fortaleçamos os nossos corações, porque “o Senhor está próximo”. O Mistério de Belém revela-nos o Deus conosco, o Deus que está próximo de nós, não só em sentido espacial e temporal; Ele está próximo porque “abraçou”, por assim dizer, a nossa humanidade; assumiu a nossa condição, escolhendo ser, em tudo, como nós, exceto no pecado, para fazer com que nos tornássemos como Ele. Portanto, a alegria cristã brota desta certeza: Deus está próximo, está comigo, está conosco, na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença, como amigo e esposo fiel. E esta alegria persiste, também, nas provações, no próprio sofrimento, e não permanece na superfície, mas no profundo da pessoa que se recomenda a Deus e n’Ele confia.

O mundo vive carente da verdadeira alegria!

Os textos bíblicos, do III Domingo do Advento, são um convite, muito forte, à ALEGRIA, porque o Senhor, que esperamos, já está conosco e com Ele preparamos o Advento do seu Reino.

O Profeta Isaías (Is 35, 1-6.10) faz-nos reviver a espera que precedeu a primeira vinda de Cristo e as esperanças que a animaram. Isaías deseja despertar e fortalecer a esperança dos exilados. O povo atravessava um dos piores períodos de sua história: Jerusalém e o Templo destruídos, o povo deportado na Babilônia.

Mesmo assim, o Profeta prevê a ALEGRIA dos tempos messiânicos: fala do deserto que vai florir, da tristeza que vai dar lugar à alegria, Ele libertará os cegos, os coxos, os mudos de suas doenças… Até o deserto está convidado a alegrar-se. O deserto, que é símbolo da miséria e dor, um lugar triste. Pois, será transformado: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores. Seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade de nosso Deus” (Is 35, 1-2).

 

No Evangelho (MT 11, 2-11), encontramos Jesus realizando o que Isaías profetizou.

João Batista está preso, por Herodes, por reprovar o seu comportamento. No cárcere, ouve falar das obras de Cristo… Perplexo, envia a Jesus dois discípulos, com uma pergunta bem concreta: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” (Mt 11, 3).

Jesus responde-lhes, apontando os sinais concretos de libertação, já anunciados por Isaías há muito tempo: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista,  paralíticos andam, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho ” (Mt 11, 4-5).

Na Exortação Apostólica, “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco lembra-nos que “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Os que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria.”

A alegria do Advento, e a de cada dia, é porque Jesus está muito perto de nós. A alegria cristã não é uma atitude passageira de festas humanas, mas um estado permanente, de quem confia que a vida cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. A alegria é um dos sinais da presença de Deus no coração de uma pessoa.

Jesus, após a Ressurreição, aparecerá aos seus discípulos, em diversas ocasiões. E o evangelista irá sublinhando, repetidas vezes, “que os discípulos, então, se alegraram por ver o Senhor” (Jo 20,20). Eles não esquecerão nunca esses encontros em que as suas almas experimentaram uma alegria indescritível.

Poderemos estar alegres se o Senhor estiver verdadeiramente presente na nossa vida, se não o tivermos perdido, se não tivermos os olhos turvados pela tibieza ou pela falta de generosidade. Quando, para encontrar a felicidade, experimentam-se outros caminhos fora daquele que leva a Deus, no fim, só se acha infelicidade e tristeza. Fora de Deus não há alegria verdadeira. Não pode havê-la. Encontrar Cristo, ou tornar a encontrá-Lo, é fonte de uma alegria profunda e sempre nova.

O cristão deve ser um homem essencialmente alegre! Mas a sua alegria não é uma alegria qualquer, é a alegria de Cristo, que traz a justiça e a paz, e que só Ele pode dar e conservar, porque o mundo não possui o seu segredo.

A alegria do mundo procede de coisas exteriores: nasce precisamente quando o homem consegue escapar de si próprio, quando olha para fora, quando consegue desviar o olhar do seu mundo interior, que produz solidão porque é olhar para o vazio. O cristão leva a alegria dentro de si, porque encontra a Deus na sua alma em Graça. Esta é a fonte da sua alegria! Não nos é difícil imaginar a Virgem Maria, nestes dias do Advento, radiante de alegria com o Filho de Deus, no seu seio. A alegria do mundo é pobre e passageira. A alegria do cristão é profunda e capaz de subsistir no meio das dificuldades. É compatível com a dor, com a doença, com o fracasso e as contradições. “Eu vos darei uma alegria e ninguém poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16,22), prometeu o Senhor. Nada nem ninguém nos arrebatará essa paz gozosa, se não nos separarmos da sua fonte.

A nossa alegria deve ter um fundamento sólido. Não se pode apoiar exclusivamente em coisas passageiras: notícias agradáveis, saúde, tranquilidade, situação econômica desafogada, etc., coisas que, em si, são boas, se não estiverem desligadas de Deus, mas que, por si mesmas, são insuficientes para nos proporcionarem a verdadeira alegria.

Seremos alegres se o Senhor estiver verdadeiramente presente na nossa vida, se não o tivermos perdido, se não tivermos os olhos turvados pela má vontade. Daí Santa Teresa afirmar: “um santo triste é um triste santo”. Alguém triste está à mercê de muitas tentações, porque algo o está separando do amor de Deus.

O Senhor pede que estejamos sempre alegres! Só Ele é capaz de sustentar tudo na nossa vida. Não há tristeza que Ele não possa curar: “Não tenhas medo. Somente crê…” (Lc 8,50), diz-nos o Senhor.

Só Deus é feliz, perfeitamente, plenamente, eternamente feliz. E faz feliz a quem O aceitar. Com Ele, as alegrias da vida presente conservam seu doce sabor e não se transformam em angústias. Não somente as alegrias espirituais, mas toda alegria humana honesta. Em Deus se encontra tudo o que se acostumou associar com a palavra felicidade e infinitamente mais: aquilo que nenhum olho viu, nem ouvido ouviu, nem chegou ao coração, isso Deus preparou para os que O amam.

Fujamos da tristeza! Uma alma triste está à mercê de muitas tentações. Quantos pecados se têm cometido à sombra da tristeza! Por outro lado, quando a alma está alegre, abre-se e é estímulo para os outros; quando está triste, obscurece o ambiente e faz mal aos que têm à sua volta.

A tristeza nasce do egoísmo, de pensarmos em nós mesmos, esquecendo os outros. Quem anda excessivamente preocupado consigo próprio, dificilmente encontrará a alegria da abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, com o cumprimento alegre dos nossos deveres, podemos fazer muito bem à nossa volta, pois essa alegria leva a Deus.

“Porque ainda bem pouco tempo, e Aquele deve vir, virá e não tardará” (Hb 10,37), e com Ele chegarão a paz e a alegria; em Jesus, encontraremos o sentido da nossa vida.

Que a nossa alegria seja um testemunho muito forte de que Cristo já está no meio de nós.

O Natal está se aproximando! Não se pode errar o caminho, trocar a verdadeira festa com a que não abre o coração à alegria de Cristo. A Virgem Maria ajude todos os cristãos, e os homens em busca de Deus, a chegar a Belém, para encontrar o Menino que nasceu para nós, para a salvação e a felicidade de todos os homens.

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