O Evangelho (Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23) mostra quando os fariseus e alguns mestres da Lei se reuniram em torno de Jesus e lhe perguntaram por que os discípulos não seguiam a tradição dos antigos, mas comiam o pão sem lavar as mãos. Jesus, citando Isaías, respondeu-lhes que eles eram um povo que O honrava com os lábios, mas seu coração estava longe dele. De nada adiantava o culto que prestavam, pois as doutrinas que ensinavam eram preceitos humanos. E concluiu, dizendo que eles tinham abandonado o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens.
E, disse Jesus que o que torna impuro o homem não é o que entra nele, vindo de fora, mas o que sai de seu interior, pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, homicídios, cobiças, perversidade, fraude, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos esses vícios vêm de dentro e mancham o homem. Portanto, as nossas ações procedem do nosso interior.
Deus olha o interior das pessoas e não as práticas exteriores e formais.
Existe a tentação de ter um comportamento que dissocia fé da vida. São Tiago disse que a Palavra de Deus não é só para escutar e achar bonita, mas para colocá-la em prática: “sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,22).
É necessário parar um pouco todos os dias e examinar-se para ver o que está no coração, em que se ocupam os meus pensamentos, os afetos e os desejos. “Onde está o teu tesouro aí está o teu coração”. Pedir que Deus conceda um coração limpo, puro, capaz de realizar ações santas, conforme a justiça e a caridade. Com a graça de Deus, todos os dias podemos limpá-lo um pouco. Que tenhamos um desejo firme de lutar para que não fiquemos manchados. Pois não somos melhores quando os outros nos elogiam, nem somos piores quando os outros nos criticam. Somos o que somos diante de Deus.
É hipocrisia lavar escrupulosamente as mãos ou dar importância a qualquer outra exterioridade, se o coração estiver cheio de vícios.
As ações do homem procedem do coração. E, se ele está manchado, o homem inteiro fica manchado.
Jesus rejeita a mentalidade que se ocultava por trás daquelas prescrições desprovidas de conteúdo interior, e ensina-nos a amar a pureza de coração, que nos permitirá ver a Deus no meio das nossas tarefas.
“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).
A pureza de alma – castidade e retidão interior nos afetos e nos sentimentos- tem que ser plenamente amada e procurada com alegria e com empenho, apoiando-nos sempre na graça de Deus. Ela só pode ser alcançada mediante uma luta positiva e constante, prolongada ao longo de uma vida que se mantém vigilante pelo exame de consciência diário; também fruto de um grande amor à Confissão frequente, bem-feita, mediante a qual o Senhor nos purifica e nos “lava” o coração, cumulando-nos da sua graça.
Com a ajuda da graça, é tarefa de todos os cristãos mostrar, com uma vida limpa e com a palavra, que a castidade é uma virtude essencial a todos – homens e mulheres, jovens e adultos-, e que cada um deve vivê-la de acordo com as exigências do estado a que o Senhor o chamou; “é exigência de amor. É a dimensão da sua verdade interior no coração do homem, e sem ela não seria possível amar nem a Deus nem aos outros” (São João Paulo II).
Essa pureza cristã, a castidade, sempre constituiu uma das glórias da Igreja e uma das manifestações mais claras da sua santidade. Hoje, como nos tempos dos primeiros cristãos, muitos homens e mulheres procuram viver a virgindade e o celibato no meio do mundo – sem serem mundanos -, por amor do Reino dos Céus (Mt 19,12). E uma grande multidão de esposos cristãos vivem santamente a castidade, segundo o seu estado matrimonial. Como ensina a Igreja: “tanto o matrimônio como a virgindade e o celibato são dois modos de expressar e de viver o único mistério da Aliança de Deus com o seu povo” (Familiaris Consortio, 16).
O Senhor pede de cada um de nós uma sincera conversão! O Papa Bento XVl, falando sobre conversão, assim expressou-se: ”Converter-se significa não viver como todo mundo vive, não fazer o que todo mundo faz, não se sentir justificado fazendo ações duvidosas, ambíguas ou más pelo fato de que outros assim procedem; começar a olhar a própria vida com os olhos de Deus, portanto, procurar o bem, mesmo se isto contesta a sociedade. Não se submeter ao julgamento dos homens, mas, sim, à avaliação de Deus, ou em outras palavras: procurar um novo estilo de vida, uma vida nova”. Não se trata assim de um falso moralismo, mas de não se perder de vista a essência da mensagem de Cristo, mantendo firmemente o dom da nova amizade, o dom da comunhão com Jesus e, em consequência, com o Ser Supremo.
Façamos como oração, como jaculatória, a prece que a liturgia dirige ao Espírito Santo, na festa de Pentecostes: “Limpa na minha alma o que está sujo, rega o que se tornou árido, sem fruto, cura o que está doente, dobra o que é rígido, aquece o que está frio, dirige o que se extraviou.”
Sozinhos nós não somos capazes de purificar nosso coração das intenções más e de nos abrirmos de modo justo à novidade do Espírito: devemos confiar-nos, para tanto, à força redentora de Cristo que se torna operante em nós, na Eucaristia… Graças à Eucaristia, podemos dizer com ainda maior razão aquilo que dizia Moisés: “Qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos, como o Senhor nosso Deus?” (Dt 4,7).
Como ensinava S. Francisco de Assis: “O homem vale o que é diante de Deus e nada mais.” Jesus desloca todo o sentido da lei do exterior para o interior, da boca para o coração, de “fora” do homem para “dentro” do homem, como diz, retomando uma expressão de Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Mc 7,6).
A quem dirige Jesus todas essas observações? Somente aos fariseus de seu tempo? Não! Diz-nos Jesus: “Escutai todos e compreendei…” (Mc 7,14).
Que a Virgem Maria, a quem, agora, dirigimos-nos em oração, ajude-nos a ouvir a Palavra de Deus com um coração aberto e sincero, para que oriente todos os dias os nossos pensamentos, nossas escolhas e nossas obras.