O Poder e a Eficácia da Oração!

Dom José Maria Pereira

A oração constitui um dos elementos essenciais da vida cristã e do seguimento de Cristo.

Na primeira leitura (Gn 18, 20-32), aparece a comovente e atrevida oração de Abraão, em favor das cidades pecadoras, expressão magnífica da sua confiança em Deus e da sua solicitude pela salvação dos outros. Deus revelou-lhe o Seu desígnio de destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, pervertidas ao máximo, e o patriarca procura deter o castigo, em atenção aos justos que, possivelmente, poderia haver entre os pecadores.

O Evangelho (Lc 11, 1-13) apresenta-nos Jesus, recolhido em oração, um pouco retirado dos seus discípulos. Quando terminou, um deles disse-Lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1).  Jesus não fez objeções, não falou de fórmulas estranhas, nem esotéricas, mas, com muita simplicidade, disse: “Quando rezardes, dizei: Pai,” e ensinou-lhes o Pai Nosso (Lc 11, 2 – 4 ), tirando-a da sua própria oração, com a qual se dirigia a Deus, seu Pai. Estamos diante das primeiras palavras da Sagrada Escritura que aprendemos, desde crianças. Elas se imprimem na memória, plasmando a nossa vida, acompanham-nos até ao último suspiro. Elas revelam que “não somos já de modo completo filhos de Deus, que no-lo devemos tornar e sê-lo cada vez mais mediante a nossa comunhão sempre mais profunda com Jesus. Ser filho torna-se o equivalente a seguir Cristo” (Bento XVl, Jesus de Nazaré).

Esta oração acolhe e expressa, também, as necessidades humanas, materiais e espirituais: “Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11, 3 – 4). E precisamente, por causa das necessidades e das dificuldades de cada dia, Jesus exorta com vigor: “Digo-vos, pois: Pedi e vos será dado; quem procura, encontra e ao que bate, vos será aberto” (Lc 11, 9 – 10). Não é um pedir para satisfazer as próprias vontades, quanto ao contrário, para manter viva a amizade com Deus, o qual – diz sempre o Evangelho – “dará o Espírito Santo àqueles que O pedirem” (Lc 11, 13). Experimentaram-no os antigos “Padres do deserto” e os contemplativos de todos os tempos, que se tornaram, pela oração, amigos de Deus, como Abraão, que implorou o Senhor para que poupasse os poucos justos do extermínio da cidade de Sodoma (Gn 18, 23 – 32). Santa Teresa de Ávila, convidava as irmãs de hábito, dizendo: “- devemos suplicar a Deus para que nos liberte, definitivamente, de qualquer perigo e nos preserve de todo o mal. E por mais imperfeito que seja o nosso desejo, esforcemo-nos por insistir com este pedido. O que nos custa pedir muito, visto que nos dirigimos ao Onipotente?” (Obras Completas). Todas as vezes que recitamos o Pai Nosso, a nossa voz entrelaça-se com a da Igreja, porque quem reza nunca está sozinho. Cada fiel deverá procurar e poderá encontrar na verdade e na riqueza da oração cristã, ensinada pela Igreja, o próprio caminho, o seu modo de oração…, portanto, deixar-se-á conduzir… pelo Espírito Santo, o qual guia, através de Cristo, para o Pai” (Congregação para a Doutrina da Fé, Alguns aspectos sobre a meditação cristã).

O cristão, autorizado por Jesus, chama a Deus de Pai, nome que dá à oração uma atitude filial, que pode derramar o seu coração no coração de Deus, apresentando-Lhe as suas necessidades, de maneira simples e espontânea, como indica o Pai-nosso.

“Quando os discípulos pediram ao Senhor Jesus: ‘Ensina-nos a orar’, Ele respondeu, pronunciando as palavras da oração do Pai Nosso, criando assim um modelo concreto e, ao mesmo tempo, universal. De fato, tudo o que se pode e se deve dizer ao Pai está encerrado nas sete petições que todos sabemos de cor. Há nelas uma simplicidade tal, que até uma criança as aprende, e, ao mesmo tempo, uma profundidade tal, que se pode consumir uma vida inteira a meditar o sentido de cada uma delas. Porventura, não é assim? Não nos fala, cada uma delas, uma depois da outra, do que é essencial para a nossa existência, dirigida totalmente a Deus, ao Pai? Não nos fala do ‘pão de cada dia´, do ‘perdão das nossas ofensas, visto que também nós perdoamos’, e ao mesmo tempo de preservar-nos da ‘tentação’ e de ‘livrar-nos do mal’? (São João Paulo ll, Audiência geral, 14/03/1979).

Com a parábola do amigo importuno, Jesus ensina a orar, com perseverança e insistência, como fez Abraão, sem temer a ser indiscreto: “Pedi, procurai, batei”. Não há horas inconvenientes para Deus. Nunca se aborrece da oração humilde e confiada dos Seus filhos, mas, antes, compraz-se com ela: “Todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e para quem bate, a porta será aberta” (Lc 11, 10). E, mesmo que o homem nem sempre obtenha aquilo que pede, é certo que a sua oração não é em vão, pois o Pai celeste responde sempre com o Seu amor e a seu favor, embora de uma maneira oculta e diferente da que o homem espera. O mais importante não é obter isto ou aquilo, mas, sim, que nunca lhe falte a graça de ser, cada dia, fiel a Deus. Esta graça está garantida ao que ora sem cessar: “- Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que O pedirem!” (Lc 11, 13). No dom do Espírito Santo, estão incluídos todos os bens que Deus quer conceder aos Seus filhos.

Jesus retirava-se para rezar, com frequência! E um dia, ao terminar a sua oração, disse-lhe um de seus discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar…”. É o que nós temos de pedir também: Jesus, ensina-me de que modo me relacionar contigo, diz-me como e que coisas devo pedir-te…Pois, se Jesus foi um homem orante, também os cristãos são chamados a serem homens e mulheres orantes. Para que possam transformar toda a sua vida numa comunhão profunda com Deus, importa dedicar espaços de tempo, explicitamente ao exercício da oração. Sem dúvida, a oração constitui uma profunda experiência pascal. Daí cuidarmos da vida de oração, pois a oração é o grande recurso que nos resta para sair do pecado, perseverar na graça, mover o coração de Deus e atrair, sobre nós, toda a sorte de bênçãos do céu, quer para a alma, quer pelo que respeita as nossas necessidades temporais.

Aos jovens, ensinava São João Paulo II: “É preciso reconhecer humilde e realmente que somos pobres criaturas com ideias confusas, frágeis e débeis, com necessidade contínua de força interior e de consolação. A oração dá força para os grandes ideais, para manter a fé, a caridade, a pureza, a generosidade; a oração dá ânimo para sair da indiferença e da culpa, se por desgraça se cedeu à tentação e à debilidade; a oração dá luz para ver e julgar os acontecimentos da própria vida e da própria história na perspectiva salvífica de Deus e da eternidade. Por isto, não deixeis de orar! Não passe um dia sem que tenhais orado um pouco! A oração é um dever, mas também é uma grande alegria, porque é um diálogo com Deus por meio de Jesus Cristo! Cada domingo a Santa Missa e, se vos é possível, alguma vez também durante a semana; cada dia as orações da manhã e da noite e nos momentos mais oportunos!”

O que devemos pedir e desejar é que se cumpra a vontade de Deus: Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu. E este é sempre o meio de acertar, o melhor caminho que podíamos ter sonhado, pois é o que foi preparado pelo nosso Pai do Céu. “Diz-Lhe: – Senhor, nada quero, fora do que Tu quiseres. Não me dês nem mesmo aquilo que te venho pedindo nestes dias, se me afasta um milímetro da tua vontade (S. Josemaria Escrivá, Forja, 512).

“Orai sem cessar”, diz-nos S. Paulo. “Não sabes orar? – Põe-te na presença de Deus, e logo que começares a dizer: “Senhor, não sei fazer oração!…,” podes ter certeza de que começaste a fazê-la” (Caminho, 90). Continua S. Josemaria: “Persevera na oração. – Persevera, ainda que o teu esforço pareça estéril. – A oração é sempre fecunda” (Caminho, 101).

A oração é um combate: aquele que reza combate contra si mesmo, muitas vezes, contra um ambiente dispersivo e barulhento, e contra o Tentador, que faz tudo para nos distrair. Peçamos ao Senhor a graça da perseverança, na oração. Ensina São Josemaria: “Não digas a Jesus que queres consolações na oração. — Se as dá, agradece-as. — Diz-Lhe sempre que queres perseverança” (Caminho, 100).

Portanto, é urgente fazer um plano de vida espiritual. Deve ser diário, perseverante, confiante: uns minutos para ler o Evangelho e um livro de boa espiritualidade, o rosário, reservar um tempo para pedir, agradecer, interceder, e procurar ouvir, pois é encontro com um amigo de quem preciso favores e partilho as preocupações, dores, alegrias e sonhos.

Senhor, ensina-nos a rezar, a rezar bem. E entenderemos São Paulo: “tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).

A Virgem Maria ajude-nos a redescobrir a beleza e a profundidade da oração cristã.

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