O Paralelo entre a Mente Humana e a Trindade: o Pensamento de Santo Agostinho

Pe. Anderson Alves

No Capítulo XII do Livro IX de De Trinitate, Santo Agostinho aprofunda sua reflexão sobre a relação entre a mente humana, o conhecimento de si e o amor de si, e como essas realidades refletem a Trindade divina. Ele questiona a natureza do amor e sua geração pela mente, estabelecendo um paralelo com a Trindade.

Agostinho começa perguntando: Quid ergo amor? Non erit imago? Non verbum? Non genitus? (“O que dizer então do amor? Não será imagem? Não será verbo? Não será gerado?”). Ele observa que, enquanto a mente gera o conhecimento de si, ela não gera o amor da mesma forma que ocorre na Trindade, na qual o Pai gera o Filho e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. O Espírito Santo não é gerado e, portanto, não pode ser chamado de Filho. Esta questão é complexa, e Agostinho decide começar analisando a mente humana antes de abordar a natureza divina.

Ao analisar a alma, Agostinho observa que ela conhece e ama. Ele sugere que pode haver algo cognoscível que ainda seja ignorado, mas que não se pode conhecer algo como incognoscível. Esta ideia é contrastada com a filosofia de Kant, que se interrogava sobre os limites do conhecimento humano. Para Agostinho, ao buscar conhecer os limites do conhecimento, o homem já está ultrapassando esses limites, indicando que não são verdadeiramente limites.

O conhecimento é gerado pelo cognoscente (a mente) e pelo objeto conhecido. Quando a mente se conhece, ela gera o seu próprio conhecimento. A mente conhece e é conhecida por ela mesma, e ao se conhecer, gera um conhecimento igual a si mesma. Este conhecimento que a mente tem de si é igual a ela mesma.

Santo Agostinho então pergunta: “O que dizer então do seu amor?”. Ele argumenta que, enquanto a mente gera o conhecimento de si, o amor da mente não é gerado da mesma forma. Esta distinção é importante, pois na Trindade, o amor (o Espírito Santo) não é gerado pela mente (pelo Pai) como o conhecimento (o Filho) é gerado.

Agostinho sugere que o amor da alma não é gerado pela mente, mas é uma resposta ao conhecimento gerado. O amor não é uma criação da mente, mas é inspirado pelo conhecimento. Este conceito reflete a doutrina da Trindade, onde o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, mas não é gerado por eles.

Agostinho também discute o fato de que o conhecimento da mente é um reflexo da própria mente. Quando conhecemos a nossa própria alma, temos um conhecimento adequado e igual à alma mesma. Este “verbo” ou conhecimento que a alma tem de si é igual à alma mesma. Em contraste, o conhecimento humano de Deus é limitado e reduzido, pois nossa alma é inferior a Deus, resultando em um “verbo imperfeito”. O conhecimento humano da realidade material, por outro lado, eleva a realidade material ao transformar o material em imaterial, resultando em um “verbo elevado”.

Santo Agostinho destaca que Deus é simples, e nele ser, conhecer (intelecto) e amar (vontade) constituem um só ato eterno. Deus se conhece, conhece todas as coisas e as ama em um único ato eterno. Ele é o ser eterno e necessário, que criou um mundo contingente. Para Agostinho, Deus é o ser, e nós, como seres humanos, conhecemos e amamos. Nosso conhecimento e amor são reflexos do conhecimento e amor divinos, mas são limitados pela nossa natureza.

Em conclusão, no Cap. XII de De Trinitate, Livro IX, Santo Agostinho distingue entre a geração do conhecimento e do amor pela mente, destacando as diferenças entre a mente humana e a natureza divina. Esta análise enriquece nossa compreensão da relação entre a alma humana e Deus, e como o conhecimento e o amor nos aproximam da verdade divina.

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