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O Celular e Alteração do Pensamento – Pe. Anderson Alves

Segundo M. Spitzer, os telefones celulares modificaram a vida de milhões de pessoas, trazendo consequências significativas para a vida delas. Segundo a publicidade, os celulares enriquecem a nossa vida e por isso os possuímos. Entretanto, não percebemos os seus efeitos negativos, percebidos amplamente pela medicina: eles geram miopia, distúrbios de sono, sonolência diária, queda do nível da cultura, acidentes de estrada, ansiedade, distúrbios de atenção, depressão, doenças venéreas, sobrepeso e a chamada “demência digital”. Estudos recentes acrescentam ainda um novo efeito negativo do celular: as alterações do pensamento, que ocorrem mesmo quando o aparelho está desligado. Como isso é possível?

Sabe-se que para reagir aos estímulos importantes e realizar nossas tarefas, é necessário avaliar os impulsos recebidos e selecioná-los. Esse processo é chamado de “atenção seletiva”. É um fenômeno que limita a nossa capacidade de elaborar os estímulos externos. Isso pode ser percebido, por exemplo, com a nossa dificuldade de observar ao mesmo tempo onze jogadores em um campo de futebol. Ligado à atenção seletiva estão as funções de memória de trabalho e de inteligência fluída: ambas são limitadas.

De acordo com o treinamento do nosso cérebro, somos capazes de recordar e repetir cerca de sete números, de seguir 3 ou 4 jogadores num campo, de ter uma conversa por vez, de ler um livro, e não dois ao mesmo tempo. Somos, pois, limitados no que podemos fazer simultaneamente. Quando se escuta o próprio nome, a nossa atenção aumenta e se dirige automaticamente a quem a pronunciou. Sabe-se que o choro de uma criança ocorre para chamar a atenção da sua mãe, a qual o reconhece mesmo no meio de uma festa barulhenta.

O som dos celulares tem um efeito automático sobre a nossa atenção, distraindo e comprometendo a nossa capacidade de elaborar as informações. Isso é demonstrado em laboratório e em pesquisas de campo. Foi feito um experimento com um grupo de 71 estudantes universitários, em condição normal de aprendizado (sendo 48 mulheres e com idade média de 20 anos). A esse grupo foi passado um vídeo educativo e foram dadas instruções para que se fizesse anotações sobre as informações essenciais do vídeo, pois logo depois seria passado um teste de múltipla escolha sobre o seu conteúdo. Os estudantes não poderiam consultar as próprias anotações durante o teste. Os participantes foram divididos casualmente em 2 grupos, sendo que em um deles estava um falso estudante. Por cinco segundos, em dois momentos distintos da projeção, o telefone dele soou. Nenhum telefone tocou no outro grupo durante a projeção do filme. As anotações foram então retiradas e foi aplicado o teste de múltipla escolha. Duas perguntas do teste se referiam aos conteúdos expostos exatamente quando soou o celular durante a projeção ao primeiro grupo.

Ao final do teste, foi perguntado aos participantes se eles se recordavam de ter escutado o som do telefone. Todos, exceto 2 pessoas, deram a resposta justa. Dois avaliadores independentes conferiram as anotações dos alunos de ambos os grupos. De modo que foi possível assim conferir os efeitos do som do celular sobre a atenção (a partir da análise das anotações) e sobre a capacidade de reter conteúdo na memória (a partir do resultado do teste). O nível de atenção e de memória foi cerca de 30% inferior no primeiro grupo em relação ao segundo.

De fato, quando o celular soa durante uma aula e certo conteúdo é transmitido, a atenção é dirigida ao som do aparelho e não se presta atenção ao que é comunicado. Por isso naquele momento não se realiza anotações e aquelas informações não são registradas na memória. O resultado escolar, nesse caso, é evidentemente negativo.

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