Natal: Mistério de Amor! – Dom José Maria Pereira

“Anuncio – vos uma grande alegria (…): hoje, na cidade de Davi, nasceu – vos um Salvador, que é o Messias Senhor” (Lc 2, 10-11). Neste dia solene, ressoa o anúncio do Anjo que é um convite – dirigido também a nós, homens e mulheres do Terceiro Milênio – para acolher o Salvador. Que a humanidade atual não hesite em fazê – Lo entrar nas suas casas, nas cidades, nas nações e em qualquer ângulo da Terra! É verdade que, nos últimos séculos, foram muitos os progressos realizados em campo técnico e científico; podemos, hoje, dispor de vastos recursos materiais. Mas, o homem da era tecnológica corre o risco de ser vítima dos próprios êxitos da sua inteligência e dos resultados das suas capacidades inventivas, caminha para uma atrofia espiritual, um vazio do coração. Por isso, é importante abrir a sua mente e o seu coração ao Natal de Cristo, acontecimento de salvação capaz de imprimir uma renovada esperança à existência de todo o ser humano.

Santo é o dia que nos trouxe à luz. Um dia de grande esperança: nasceu, hoje, o Salvador da humanidade! Hoje, uma grande luz desceu sobre a Terra. A luz de Cristo é portadora de paz. Na celebração da Missa da noite, a liturgia eucarística iniciou, precisamente, com este canto: “Hoje desceu do Céu sobre nós verdadeira paz” (Antífona de Entrada). Mais ainda, só a “grande” luz, vinda de Cristo, pode dar aos homens a “verdadeira” paz: eis por que cada geração é chamada a acolhê-la, a acolher a Deus que, em Belém fez-Se um de nós.

Isso é Natal! Acontecimento histórico e Mistério de amor que, há mais de dois mil anos, interpela os homens e as mulheres de cada época e lugar. É o dia santo em que brilha a “grande luz” de Cristo, portadora de paz! Certamente, para reconhecê-la, para acolhê-la, é preciso fé, é preciso humildade. A humildade de Maria, que acreditou na Palavra do Senhor e foi a primeira que, inclinada sobre a manjedoura, adorou o Fruto do seu ventre; a humildade de José, homem justo, que teve a coragem da fé e preferiu obedecer a Deus mais que preservar a própria reputação; a humildade dos pastores, dos pobres e anônimos pastores, que acolheram o anúncio do mensageiro celeste e, às pressas, foram à gruta onde encontraram o Menino recém – nascido e, cheios de maravilha, adoraram-nO louvando a Deus.

 

Comemoramos o Natal, porque o Filho de Deus, que existe desde toda a eternidade, vem a este mundo como um Menino. Por amor a nós se faz um de nós: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria que é para todo o povo, hoje nasceu para vós um Salvador”.

Celebremos este dia em que o Eterno e o Todo-Poderoso veio a este mundo para fazer-se um conosco, para que nós fôssemos um com Ele. Celebremos este dia santo em que o Filho de Deus se fez homem, para que nós, os filhos dos homens, fôssemos feitos filhos de Deus.

“Desperta, ó homem! Por ti, Deus se fez homem” (Santo Agostinho). Ó homem moderno, adulto, e, todavia, às vezes débil de pensamento e de vontade, deixa o Menino de Belém conduzir – te pela mão; não temas, confia n’Ele! Deus se fez homem por amor do homem!

Somos convidados a formar coro com os anjos: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na Terra às pessoas de boa vontade. Chegou a salvação! A luz manifestou-se para iluminar os caminhos da humanidade, que anseia por paz e fraternidade. Deus se torna presente em nosso meio. A palavra fez-se carne e veio morar junto a nós!

Alegremo-nos todos no Senhor! Hoje, nasceu o Salvador do mundo; hoje, desceu do céu a verdadeira paz. “Acabamos de ouvir uma mensagem transbordante de alegria e digna de todo o apreço: Cristo Jesus, o Filho de Deus, nasceu em Belém de Judá. A notícia faz-me estremecer, o meu espírito acende-se no meu interior e apressa-se, como sempre, a comunicar-vos esta alegria e este júbilo”, anuncia São Bernardo. Coloquemo-nos a caminho para contemplar e adorar Jesus, pois todos temos necessidade dEle; é unicamente dEle que temos verdadeira necessidade. A verdade é que nenhum caminho que empreendemos vale a pena se não termina no Menino-Deus.

“Hoje nasceu o nosso Salvador. Não pode haver lugar para a tristeza, quando acaba de nascer a própria vida, a mesma que põe fim ao temor da mortalidade e nos infunde a alegria da eternidade prometida. Ninguém deve sentir-se incapaz de participar de tal felicidade; a todos é comum o motivo para o júbilo; pois Nosso Senhor, destruidor do pecado e da morte, como não encontrou ninguém livre de culpa, veio libertar-nos a todos. Alegre-se o santo, já que se aproxima a vitória. Alegre-se o gentio, já que é chamado à vida. Pois o Filho, ao chegar à plenitude dos tempos, assumiu a natureza do gênero humano para reconciliá-la com o seu Criador” (São Leão Magno). Daqui nasce, para todos, como um rio que não pode ser contido, a alegria destas festas.

Vamos à Gruta de Belém, levando o nosso presente! E, talvez, aquilo que mais agrade à Virgem Maria seja uma alma mais delicada, mais limpa, mais alegre por ser mais consciente da sua filiação divina, mais bem preparada por meio de uma confissão realmente contrita, a fim de que o Senhor resida com mais plenitude em nós: essa confissão que talvez Deus esteja esperando há tanto tempo…

Maria e José estão convidando-nos a entrar. E, já dentro, dizemos a Jesus com a Igreja: “Rei do universo, a quem os pastores encontraram envolto em panos, ajudai-nos a imitar sempre a vossa pobreza e a vossa simplicidade” (Preces das Laudes de 5 de janeiro).

No presépio, contemplamos Jesus, recém – nascido, que não fala; mas é a Palavra eterna do Pai. Já se disse que o Presépio é uma cátedra. Nós deveríamos hoje “entender as lições que Jesus nos dá, já desde Menino, desde recém-nascido, desde que os seus olhos se abriram para esta bendita terra dos homens” (São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, nº14).

Jesus nasce pobre e ensina-nos que a felicidade não se encontra na abundância de bens. Vem ao mundo, sem ostentação alguma, e anima-nos a sermos humildes e a não estarmos preocupados com o aplauso dos homens.

Quando nos aproximarmos, hoje, do Menino, para beijá-lo, quando contemplarmos o presépio ou meditarmos este grande mistério, agradeçamos a Deus o seu desejo de descer até nós para se fazer entender e amar, e decidamo-nos, nós também, a tornarmo-nos crianças, para podermos assim entrar no Reino dos Céus.

Sejamos anunciadores da Boa Nova da Salvação que veio até nós! Na verdade, para que serviria celebrar o Natal de Jesus se os cristãos não soubessem anunciá-Lo aos seus irmãos com a sua própria vida? Celebra verdadeiramente o Natal todo aquele que, em si mesmo, acolhe o Salvador, com fé e com amor cada vez mais intensos, aquele que O deixa nascer e viver em seu coração para que possa manifestar-Se ao mundo na bondade, benignidade e doação generosa de quantos n’Ele acreditamos.

“Vinde e adorai o Senhor!”. À sede de sentido e de valor que, hoje, o mundo experimenta; à procura de bem-estar e de paz que caracteriza a vida de toda a humanidade; às expectativas dos pobres, Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, responde com o seu Natal. Não temam as pessoas e as nações reconhecê-Lo e acolhê-Lo: com Ele, “uma esplêndida luz” ilumina o horizonte da humanidade; com Ele, abre-se “um dia santo” que não conhece ocaso. Este Natal seja, verdadeiramente, para todos um dia de alegria, de esperança e de paz!

No Natal, o nosso espírito abre – se à esperança, ao contemplar a Glória divina escondida na pobreza de um Menino envolvido em panos e reclinado numa manjedoura: é o Criador do Universo, reduzido à importância de um recém – nascido. Aceitar este paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir a Verdade que liberta, o Amor que transforma a existência. Na Noite de Belém, o Redentor faz – se um de nós, para ser nosso companheiro nas estradas insidiosas da História. Acolhamos a mão que Ele nos estende: é uma mão que não nos quer tirar nada, mas apenas dar.

Com os pastores, entremos na Gruta de Belém sob o olhar amoroso de Maria, silenciosa testemunha do prodigioso nascimento. Que Ela nos ajude a viver um bom Natal; ensine-nos a guardar, no coração, o Mistério de Deus, que, por nós, fez-Se homem; guie-nos ao testemunharmos, no mundo, a sua verdade, o seu amor, a sua paz.

Um Feliz e Santo Natal para todos!

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