Afirmamos anteriormente que para aprender, conhecer-se e memorizar é necessário lentidão, ponderação, diálogo e afeto. A internet e as inteligência artificiais, por sua vez, privilegiam a velocidade, gerando a ilusão do conhecimento. Como afirma L. Maffei, no livro “Elogio da lentidão”, a comunicação visual é caracterizada pela rapidez e dá a sensação da verdade: “vi com os meus olhos”; “vi na TV”, são afirmações típicas de quem tem a impressão de ter encontrado algo de verdadeiro. Entretanto, a biologia ensina que o cérebro é uma máquina lenta e o desejo de imitar as máquinas velozes criadas pelo homem torna-se fonte de angústia e de frustração. Como disse certa vez Goethe: “a felicidade suprema do pensador é sondar o sondável e venerar em paz o insondável” (Máximas e Reflexões, Guimarães Editores 1987).
Assim, a leitura lenta, sem pressa de ser concluída, acompanhada por anotações pessoais e animada pelo desejo de entender sempre mais coisas, ou seja, com esperança, transforma os leitores, o seu pensamento e o seu modo de ser e de ver a vida. G. Cucci, em “Internet e cultura”, cita: “O modo em que vocês leem conta muito mais do que o que vocês leem. E um bom livro é a única coisa que lhes ensinará como ler usando totalmente as suas mentes, concentrando-se sobre o prazer e sobre a utilidade mental. Nem os artigos de jornal, nem os tweets, nem os blogs poderão lhes indicar o que significa ler, só um livro pode fazê-lo. […] A leitura lenta muda as suas mentes no mesmo modo que um treinamento modifica os seus corpos: ela lhes abrirá um inteiro mundo novo; vocês se sentirão diversos e agirão de modo diferente, porque os livros serão para vocês mais vivos e mais abertos” (D. Mikics, Slow Reading, Milão: Garzanti 2015, p. 8-9).
Ler uma página de cada vez, com lentidão, resistindo à tentação de querer acabar logo com o livro é também o conselho que aparece na obra “Curar-se com os livros”, de E. Berthould e S. Elderkin (Palermo: Sellerio 2013, p. 332, 335). Os autores indicam os seguintes remédios aos que sofrem de “distúrbio da leitura”: aprender a parar, a dominar a própria ansiedade, a deixar que o texto deslize lentamente na mente e “depois passar um pouco de tempo a pensar, indo sempre mais a fundo em si mesmo”. Outras curas seriam o buscar fazer uma pessoa amada se apaixonar por aquela leitura, o ler em alta voz os trechos mais belos do livro, segundo o que também dizia E. Canetti.
Outro tipo de terapia, segundo o mesmo livro, é procurar evitar um distúrbio frequente da leitura: a mania de querer encontrar sempre novidades, de modo semelhante ao que acontece no mundo da moda. O remédio contra isso é a arte da releitura, sem a pressa de se precipitar em busca da última novidade literária. O tempo nos leva a perceber o valor real de um livro. Os bons livros crescem com o tempo. São melhor entendidos com os anos e estão constantemente nos chamando à sua releitura, o que possibilita a sua melhor compreensão. Um bom livro é como um alimento delicioso, que não nos cansamos de voltar a ele, sem gula, uma vez que nos é conhecido e apreciado.
Além disso, os aspectos mais belos e profundos de um texto estão escondidos e só são reconhecidos na releitura. De fato, na primeira leitura, a nossa atenção está toda dirigida ao que é contado, à trama da obra. Nós estamos atentos a fazer uma espécie de filme mental, que reproduz o lido. Se esse filme é interrompido, a atenção se perdeu e a leitura não é eficaz.
Em “Curar-se com os livros”, porém, lemos: “Os romances melhores dialogam com os leitores em diversos níveis, e na pressa de saber como vão terminar sobrevoamos sobre muitas coisas. Uma segunda leitura preenche essas lacunas. Não se distrai então com o ‘quê’, e podemos apreciar melhor o ‘como’ e o ‘porquê’ […]. Teremos boa probabilidade de compreender melhor a filosofia do livro antes de chegar ao seu fim. Certamente, seremos mais atentos à habilidade do autor no guiar a narração – o que diz e o que não diz – e como a linguagem, o diálogo, os temas e as imagens são utilizados para obter aquela certa atmosfera, aquele ritmo e aquele tom”.