O Papa Leão XIV enviou uma mensagem a Cúpula da Inteligência Artificial para o Bem 2025, em Genebra, na Suíça, assinada pelo secretário de Estado Vaticano, cardeal Pietro Parolin, onde reitera a necessidade de uma “governança global” das novas tecnologias. O Pontífice sublinha que as novas tecnologias não podem substituir “o discernimento moral” e a riqueza das relações autenticamente humanas.
No texto o Papa Leão XIV parabeniza a UIT pelo seu 160º aniversário e destaca a importância da cooperação global para expandir o acesso às tecnologias de comunicação, especialmente para os 2,6 bilhões de pessoas sem acesso.
Ele aborda o impacto da revolução digital e da Inteligência Artificial (IA), ressaltando a necessidade de responsabilidade ética no seu desenvolvimento e uso, para que sirvam ao bem comum e promovam a fraternidade. O texto enfatiza que, apesar das capacidades da IA, ela não pode substituir o discernimento moral humano. Assim, a gestão ética da IA deve ser uma prioridade, com estruturas regulamentares que respeitem os valores humanos.
O Papa também convida todos a refletirem sobre o papel da humanidade na sociedade e a buscarem uma governança ética da IA, que promova a paz e a justiça. Ele encerra assegurando suas orações para que os esforços dos participantes beneficiem o bem comum.
Leia a mensagem na íntegra a seguir:
Mensagem do Papa Leão Xiv, assinada pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, por ocasião da Cimeira Ai For Good 2025 – Genebra, Suíça, 10 de julho de 2025.
Em nome de Sua Santidade, o Papa Leão XIV, gostaria de expressar as minhas cordiais saudações a todos os participantes da AI for Good Summit 2025, organizada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), em parceria com outras agências da ONU e coorganizada pelo Governo suíço.
Como esta cimeira coincide com o 160º aniversário da fundação da UIT, gostaria de felicitar todos os Membros e funcionários pelo seu trabalho e esforços constantes para promover a cooperação global, a fim de levar os benefícios das tecnologias da comunicação a todas as pessoas no mundo inteiro.
Conectar a família humana através do telégrafo, da rádio, do telefone, das comunicações digitais e espaciais apresenta desafios, especialmente em áreas rurais e de baixa renda, onde aproximadamente 2,6 mil milhões de pessoas ainda não têm acesso às tecnologias da comunicação.
A humanidade está numa encruzilhada, enfrentando o imenso potencial gerado pela revolução digital impulsionada pela Inteligência Artificial. O impacto desta revolução é de longo alcance, transformando áreas como a educação, o trabalho, a arte, a saúde, a governação, as forças armadas e a comunicação.
Esta transformação histórica exige responsabilidade e discernimento para garantir que a IA seja desenvolvida e utilizada para o bem comum, construindo pontes de diálogo e promovendo a fraternidade, e assegurando que ela sirva os interesses da humanidade como um todo.
À medida que a IA se torna capaz de se adaptar autonomamente a muitas situações, fazendo escolhas algorítmicas puramente técnicas, é crucial considerar as suas implicações antropológicas e éticas, os valores em jogo e os deveres e quadros regulamentares necessários para defender esses valores.
De fato, embora a IA possa simular aspetos do raciocínio humano e realizar tarefas específicas com incrível velocidade e eficiência, não pode replicar o discernimento moral ou a capacidade de formar relações genuínas.
Portanto, o desenvolvimento de tais avanços tecnológicos deve andar de mãos dadas com o respeito pelos valores humanos e sociais, a capacidade de julgar com consciência limpa e o crescimento da responsabilidade humana.
Não é por acaso que esta era de profunda inovação levou muitos a refletir sobre o que significa ser humano e sobre o papel da humanidade no mundo.
Embora a responsabilidade pelo uso ético dos sistemas de IA comece com quem os desenvolve, gere e supervisiona, quem os utiliza também partilha essa responsabilidade. A IA requer, portanto, uma gestão ética adequada e quadros regulamentares centrados na pessoa humana, que vão além dos meros critérios de utilidade ou eficiência.
Em última análise, nunca devemos perder de vista o objetivo comum de contribuir para essa «tranquillitas ordinis – a tranquilidade da ordem», como lhe chamou Santo Agostinho (De Civitate Dei), e promover uma ordem mais humana das relações sociais e sociedades pacíficas e justas ao serviço do desenvolvimento humano integral e do bem da família humana.
Em nome do Papa Leão XIV, gostaria de aproveitar esta oportunidade para vos encorajar a procurar clareza ética e estabelecer uma governação local e global coordenada da IA, baseada no reconhecimento comum da dignidade inerente e das liberdades fundamentais da pessoa humana. O Santo Padre assegura-vos de bom grado as suas orações pelos vossos esforços em benefício do bem comum.
Card. Pietro Parolin
Secretário de Estado de Sua Santidade
Fonte: Vatican News – https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-07/papa-leao-mensagem-cupula-inteligencia-artificial-bem-parolin.html