O envelhecimento da população brasileira representa um dos maiores desafios contemporâneos, não apenas para a sociedade, mas também para a Igreja. Foi nessa perspectiva que, no dia 26 de julho, aconteceu o Jubileu dos Avós e Idosos na Igreja Jubilar Catedral São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, reunindo agentes da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI).
Rogerio Tosta / Ascom Diocese de Petrópolis
Organizado pela PPI da Diocese de Petrópolis, tendo à frente o Diácono Permanente Francisco Carlos de Assis Borchio e a coordenadora diocesana Maria Mônica de Carvalho, o Jubileu contou com a presença do Padre Thomas Andrade Gimenez Dias, pároco da Catedral, que presidiu a missa, lembrando as figuras de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora.
A peregrinação realizada pelos agentes da PPI, além do Padre Thomas e do diácono Francisco, contou com as presenças do Diácono Permanente Marco Carvalho e do bispo diocesano Dom Joel Portella Amado. As médicas geriatras Mariana Oliveira e Joice Ferreira passaram orientações de saúde e cuidados com os idosos, ressaltando problemas como a depressão, decorrente da sensação de solidão entre os idosos.
Dom Joel: Criar oportunidades para conversas e escuta para os idosos nas paróquias
Dom Joel Portella Amado, bispo diocesano, participou do Jubileu, dando uma palavra de animação e esperança. Manifestando preocupação com o envelhecimento da população e o grande número de idosos na sociedade, Dom Joel falou sobre a urgência de uma ação pastoral mais sensível e estruturada voltada para os idosos. “A população brasileira está envelhecendo cada vez mais. E, em poucos anos, ao que tudo indica, haverá mais idosos do que as outras faixas etárias”, afirma o bispo, apontando que a mudança demográfica exige novas respostas por parte da Igreja.
Dom Joel destaca que a Igreja já conta com uma experiência relevante na área, como a Pastoral da Pessoa Idosa (PPI), organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fundado em 2004, com base na inspiração de Zilda Arns e do geriatra João Batista Lima Filho. Segundo dados oficiais, o trabalho da PPI conta com cerca de 25 mil líderes voluntários que visitam mensalmente aproximadamente 150 mil idosos, atuando em todo o país de forma contínua e dedicada.
Entre seus principais objetivos estão promover a dignidade e os direitos da pessoa idosa — especialmente em áreas como saúde, segurança e participação comunitária — e estimular vínculos intergeracionais por meio de acompanhamento domiciliar, apoio familiar e construção de redes de solidariedade. A PPI também se envolve na divulgação do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), na sensibilização de paróquias para a implantação de estruturas locais da pastoral e na capacitação de líderes e coordenadores para fortalecer sua ação missionária.
Dom Joel reconhece que, apesar desse legado estruturado, o trabalho continua sendo um grande desafio. “O idoso está presente na Igreja, mas nem sempre numa pastoral específica. Ele participa de diversos movimentos e pastorais, como o Apostolado da Oração, por exemplo, mas ainda há muito a ser feito para acolhê-lo de forma mais direcionada”, observa.
Ele reforça que, entre os principais obstáculos a serem enfrentados, estão a solidão, o abandono e o isolamento que muitos idosos enfrentam, especialmente os mais frágeis e invisíveis dentro das comunidades. Dom Joel lembra que, na mensagem do Papa Leão XIV para a 5ª Jornada Mundial dos Avós e das Pessoas Idosas, ele recorda que a velhice é um tempo de bênção e graça e destaca o papel ativo das pessoas idosas na vida da Igreja. “Para Deus, os idosos são as primeiras testemunhas da esperança”, escreveu o Santo Padre. Ele também faz um apelo à superação da solidão: “Este ano é o momento propício para derrubar os muros da indiferença em que os idosos estão frequentemente encerrados”.
A partir dessa realidade, o bispo propõe uma abordagem pastoral com caráter missionário, especialmente no âmbito paroquial. “As paróquias precisam perceber que existem nas casas muitos idosos que não são vistos, que não são conhecidos. Estão lá, muitas vezes doentes e acamados. E toda vez que se faz missão, acabamos encontrando essas pessoas e levando a elas um pouco de esperança”, pontua.
Para Dom Joel, a missão da Igreja deve ir além do acolhimento tradicional, criando espaços de escuta e cuidado que abarquem temas essenciais para a vida do idoso, como saúde, relacionamentos e família. “A grande tarefa seria, aproveitando o que já existe da presença do idoso na Igreja, criar oportunidades para conversas e escuta sobre a realidade deles”, conclui.
Dados sobre a população idosa no Brasil: mais longevidade, novos desafios
O envelhecimento acelerado da população brasileira revela uma transformação demográfica profunda, que impacta diretamente o contexto pastoral e social. Segundo o Censo Demográfico de 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais chegou a 22,17 milhões, representando 10,9% da população total — um crescimento de 57,4% em relação a 2010, quando representavam 7,4% do total.
A parcela que inclui pessoas com 60 anos ou mais chegou a 32,11 milhões (15,6%), também com uma alta de 56% neste período. A idade mediana da população brasileira subiu de 29 anos em 2010 para 35 anos em 2022, apontando para uma sociedade cada vez mais envelhecida. O índice de envelhecimento, que mede quantos idosos há para cada 100 crianças, saltou de 30,7 em 2010 para 55,2 em 2022, confirmando uma mudança estrutural marcante na pirâmide etária do país.
A maior expectativa de vida no Brasil é resultado de diversos fatores: melhorias na saúde pública, redução da mortalidade infantil, avanços na educação, condições socioeconômicas mais favoráveis e controle de doenças crônicas. Segundo especialistas do IBGE, o envelhecimento que levou países como a França ou a Inglaterra mais de 200 anos, no Brasil se deu em cerca de 40 a 60 anos, evidenciando a rapidez do processo.
É importante observar também que, embora o Brasil esteja envelhecendo, ainda não alcançou os níveis de envelhecimento de países desenvolvidos como Japão ou Suíça. No entanto, regiões como as Sudeste e Sul já atingem patamares mais elevados, com estados como Rio Grande do Sul (14,1%), Rio de Janeiro (13,1%) e Minas Gerais (12,4%) liderando entre os mais envelhecidos do país.
Essa longevidade prolongada torna mais necessária uma atuação pastoral que compreenda não apenas o envelhecimento em si, mas também as condições que o cercam: o cuidado à saúde, a solidão, a fragilidade funcional e a necessidade de ambientes acolhedores. Nesse cenário, a proposta de Dom Joel ganha ainda mais relevância, indicando a urgência de um olhar missionário e estruturado dentro das dioceses e paróquias.