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Inteligência Artificial, Aprendizado e Lentidão – Pe. Anderson Alves

As inteligências artificiais e a cultura digital valorizam algo muito importante na atualidade: o tempo. Esses meios prometem transmitir conhecimentos de forma rápida. De fato, há IAs que possibilitam a criação de vídeos com “conteúdo” de 5 ou 10 minutos, gastando apenas um minuto para a sua elaboração, sobre qualquer assunto, inclusive sobre algo totalmente ignorado pelo seu “produtor”. Há IAs que fazem, por exemplo, um programa anual de textos para um blog e escreve os seus artigos em poucos minutos. Tudo fica assim mecanizado e rápido. O preço disso é que o conhecimento fica despersonalizado, ou seja, deixa de ser comunicado de pessoa para pessoa e passa a ser transmitido de plataforma para plataforma, de site para site, sem passar necessariamente pela mente de ninguém.

As ciências da saúde e da educação, por sua vez, mostram que um fator essencial para o aprendizado humano é a lentidão, unida ao diálogo, à repetição e ao afeto. Isso foi muito bem exposto num livro do médico e neurocientista italiano Lamberto Maffei, intitulado Elogio da lentidão.

De fato, sabe-se que as crianças desenvolvem a leitura e a capacidade de aprender quando, na primeira infância, tiveram pais que lhes contaram narrações e fábulas, com paciência, lentidão e repetição. Para o aprendizado e a formação são fundamentais o diálogo, a narração e o afeto. Uma pesquisa realizada no hospital pediátrico de Cincinatti (EUA) com 19 crianças entre 3 e 5 anos mostrou, através de ressonância magnética, que no cérebro delas se ativava uma específica área, responsável pela elaboração de imagens, dando origem a um “filme mental”, quando se contava histórias para elas. Essa elaboração ocorre também com os adultos quando leem romances ou contos com atenção. A atenção ao conteúdo do texto é acompanhada da formação de imagens mentais que permitem a sua compreensão. Quando se distrai, continua-se a passar os olhos sobre o texto, mas o filme é interrompido e não se entende e não se recorda o que se leu (Cfr. G. Cucci, Internet e cultura, p. 41).

A atenção e a imaginação estão intimamente ligadas aos afetos. Tudo isso é fortalecido quando as crianças escutam narrações dos seus pais, o que ativa áreas cerebrais responsáveis pela elaboração semântica (extração de significado da linguagem). De forma que a leitura lenta, atenciosa e afetuosa de fábulas às crianças desenvolve o sistema nervoso delas e a sua capacidade de aprendizado, algo que permanece durante a vida.

A lentidão é uma característica essencial do ser humano. O segredo da inteligência humana reside no “truque da natureza”: ter tido um desenvolvimento e etapas de crescimento mais cadenciados em relação às outras espécies vivas. Isso está na base da extraordinária potência e plasticidade da mente humana.

De forma que para aprender, conhecer-se e memorizar é necessário um passo lento e cadenciado. Isso requer tempo, gradualidade, paixão e diálogo. A atenção humana é seletiva. Concentrar-se sobre uma tarefa é o melhor modo de aprendizado, enquanto o passar rapidamente de um conteúdo para o outro impede a concentração, a compreensão e a memorização. A leitura, o diálogo e o afeto são essenciais à educação do homem e o ver rapidamente conteúdos gera superficialidade, ilusão de conhecimento e o consequente esquecimento. A internet é excelente para “navegar” (ou “surfar”) sobre diversos assuntos, possibilitando-nos ter uma noção limitada sobre qualquer coisa. As inteligências artificiais tendem a aumentar a nossa superficialidade, a despersonalizar o conhecimento e as relações humanas, com a aparente ilusão de sabedoria. Falaremos mais disso em outras ocasiões.

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